terça-feira, 9 de janeiro de 2007

JOSÉ MINDLIN










A transformação pelo livro

Antes do livro, eu não era nada. Comecei a ler muito criança, de modo que não houve propriamente uma transformação. Mas foi um dos elementos mais importantes de minha formação. Quem não lê não sabe o que está perdendo. Porque, realmente, a leitura abre os horizontes da pessoa. Fiquei tendo uma visão de mundo bastante ampla. Tive sempre um prazer enorme na leitura. A leitura é uma fonte de prazer e deveria sempre ser apresentada como tal. Desperta a imaginação. Distrai. É uma coisa que, para mim, parece tão óbvia que fica até difícil de explicar. Faz parte da minha vida.
Analfabetismo
A leitura, primeiramente, teve como adversário o analfabetismo. Hoje, nós ainda temos analfabetismo no Brasil, numa proporção que eu chamaria de escandalosa. Deve estar perto de 20%. Vinte por cento da população é analfabeta. Mas se é verdade que 80% sabem escrever, penso numa frase de Monteiro Lobato. Ele dizia: "O Brasil tem 80% de analfabetos, e 19% que não sabem ler". Há uma grande diferença entre alfabetização e saber ler, entender o que se está lendo. E aí volta o problema da educação. A geração que hoje está na infância precisa ter noções de cidadania para daqui a 20 anos formar um eleitorado brasileiro consciente, capaz de escolher bem. Nós temos um eleitorado escandalosamente grande e mal preparado. Cento e vinte e cinco milhões de eleitores para um país de cento e oitenta e poucos milhões de habitantes, com analfabetismo, com a influência da mídia formando opiniões. Não sei se 20 milhões desses eleitores chegam a ser conscientes mesmo. Os outros são manipuláveis. Por isso é que nós estamos nesta situação. Mas aí eu gostaria de viver ainda uns 15 ou 20 anos para ver o que o Brasil vai se tornar. Se não prosseguir esse esforço pela educação, aí será um desastre.
Retirado do jornal Rascunho.

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