sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Poema da sexta-feira

Poema do beco


Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco

Manuel Bandeira

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Filmes


Esses dias revi este filme, Lua de Fel, e fiquei surpresa comigo mesma, pensar que eu já tinha visto algo tão ruim e tinha me esquecido completamente. Eu até lembrava de muitas cenas do filme, mas nada me dizia que era um filme tão besta. Será que gostei na época? Cruzes! Achei o filme uma chatice e um rosário de maldades, detesto esses casais entediados e que não acham nada melhor para fazer na vida do que atormentar um ao outro, ou a mulher do filme que se anula completamente por 'amor'. Não é amor, é qualquer outra coisa, é falta do que fazer, falta de pensar em si mesma, de se assumir, de assumir responsabilidades. Fácil falar, eu sei...e tudo isso podia até ser bonito num filme, mas não é, tudo soa falso, piegas, não convence.
A única coisa interessante no filme é a presença de Kristin Scott e uma ou outra frase dita por ela ao marido banana.

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À parte este vi vários outros filmes bons: The Human Stain foi um deles, assim que acabei a leitura vi o filme. Eu sei que é quase um clichê dizer que o livro é melhor que o filme (e não é o caso para algumas obras), mas aqui é verdade, apesar de o filme ser bom, parece que ficou incompleto, corrido demais, não conseguiram explicar um mundo de detalhes que há no filme, por exemplo a professora francesa que inferniza a vida do Coleman Silk (personagem principal), mal aparece no filme.

Assisti também 500 days of summer e achei bem chatinho, acho que já esqueci o filme quase todo.
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Estou lendo A Obra em Negro de Marguerite Yourcenar, na verdade relendo, eu já o tinha lido em português há muitos anos e quando li a biografia dela fiquei com muita vontade de ler em francês tanto este quanto o Memórias de Adriano. Encontrei L'Oeuvre au Noir aqui em Curitiba num sebo, mas o estado do livro é tão lamentável que não tenho coragem de ler na cama, antes de dormir, como costumo fazer.

O resto é muito trabalho, início das aulas. Este fim de semana tiro, ainda assim, um tempinho, três dias e meio para ver papa e mama e irmã em Minas. Continuo com muita gente aqui, visitas, estagiários.....vou abandoná-los aqui por uns dias. Um dos nossos hóspedes é o canadense de Vancouver, falei dele aqui antes, infelizmente as coisas não estão se passando tão bem, ele é muito apegado ao cantinho canadense dele, BC, como ele diz e está sofrendo longe do seu habitat natural. Depois conto melhor, eu tenho muitas dificuldades em entender esse tipo de postura (ou sentimento, sei lá) porque sempre quis viver em lugares diferentes, sempre fiz o possível (quase impossível) para viver este tipo de experiência, a algumas pessoas isso é dado de graça e elas rejeitam...Ao que parece a família dele forçou um pouco, justamente porque queria que ele se desligasse, que visse um pouco o mundo. Bem, vamos ver no que dá, faremos o possível.
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

o poema da sexta-feira

Aquela cativa

Endechas a ũa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora.

Aquela cativa
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que pera meus olhos
fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
Mas bárbora não.

Presença serena
que a tormenta amansa;
nela, enfim, descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo.
E pois nela vivo,
é força que viva.


CAMÕES, Luís de. Lírica completa. Vol.1. Prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980.
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[Recordando as minhas aulas de literatura portuguesa que, infelizmente, não foram as melhores aulas que tive na vida. Foi uma pressão horrível, com um professor histérico e que odiava dar aulas, tenho certeza. Uma pena! Ainda assim, não me impediu de gostar de poesia.]

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

THE DOORS

Você viu o acidente lá fora?
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cinzas do escritor Dino Buzzati serão jogadas nos Alpes italianos


ROMA (AFP) - As cinzas do escritor italiano Dino Buzzati (1906-1972), autor de "O deserto dos Tártaros", serão dispersadas na cadeia das Dolomitas, nos Alpes italianos, em virtude de uma nova lei na região de Veneza, que autoriza esse tipo de homenagem funerária na natureza.

Trinta e oito anos depois de sua morte, será cumprida assim a vontade do escritor. "Nossa família esperava apenas que Venza votasse uma lei para espalhar suas cinzas em Croda del Lago", declarou a viúva de Buzzati, Almerina Antoniazzi, falando ao jornal Il Corriere del Veneto.

As cinzas do escritor, que se encontram atualmente na Lombardia, serão espalhadas durante uma cerimônia cuja data ainda não foi fixada.

Dino Buzzati, alpinista amador, amava essas montanhas, às quais dedicou vários relatos.

Nascido em 16 de outubro de 1906 em Belluno (Vêneto), Buzzati morreu de câncer em 28 de janeiro de 1972, em Milão.


Acabei de ler esta notícia no yahoo. O deserto dos Tártaros está entre as minhas melhores leituras do ano passado e na minha última viagem comprei outros livros do autor, mas ainda não comecei a ler.

o poema da sexta-feira

agora ar é ar e coisa é coisa:traço

nenhum da terra celestial seduz
nossos olhos sem ênfase onde luz

a verdade magnífica do espaço.

Montanhas são montanhas;céus são céus -
e uma tal liberdade nos aquece

que é como se o universo uno,sem véus,

total,de nós(somente nós)viesse

- sim;como se, despertas do torpor
do verão,nossas almas mergulhassem

no branco sono onde se irá depor
toda a curiosidade deste mundo
(com júbilo de amor)imortal e a coragem

de receber do tempo o sonho mais profundo

e.e. cummings

Tradução: Augusto de Campos

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Persépolis



Assisti ontem este filme de animação baseado no livro (HQ) de Marjane Satrapi, na verdade esta adaptação para o cinema é também dela em colaboração com Vincent Parronnaud. Infelizmente ainda não tenho o livro, já o namorei várias vezes nas livrarias, mas nunca comprei.

Este filme foi um presente (assim como muitos outros filmes e livros e caixinhas e....) dos meus amigos Leo e Dani que partiram ontem para a vida de imigrante no Quebec. E foi triste a despedida. Trabalho ingrato o meu, tenho que preparar os alunos para imigrarem, torcer para que tudo dê certo, fazer da melhor forma o meu trabalho, daí, dá sempre certo (felizmente) e então, nesse processo todo já partilhamos tantas angústias, incertezas, certezas que, na maior parte dos casos, ficamos amigos e aí é hora de dizer 'Au revoir!'. Mas é assim mesmo, c´est la vie, felizmente o mundo está pequeno e sempre nos encontramos em algum lugar deste planeta, senão aqui, no skype. Eu mesma já mudei tanto, já me despedi tantas vezes, já parti sem despedida...

Voltando a Persépolis, o filme é lindo, engraçado, triste, instrutivo, ou seja, imperdível. O filme que é autobiográfico começa em Teerã, em 1978, quando Marjane tem 8 anos, é uma menina sapeca, curiosíssima, inteligente e que tem a sorte de ter pais modernos e cultos. Era ainda a época do Xá (mesma época de outro livro que comentei aqui, Lendo Lolita em Teerã e aqui) que logo foi substituída pelos aiatolás. Os iranianos ficaram completamente perdidos, passaram da euforia, otimismo com a queda do Xá ao desânimo e terror, foi quando começou para as mulheres, até para uma menina de 10 anos como era agora a Marjane, a obrigação do uso do véu. Dá muita pena ver o povo iraniano entre um crápula e outro e não adianta dizer que todo mundo tem o governo que merece, há alguma coisa muito errada nisso, não merecem não.
Marjane torna-se um problema para os pais porque não tem papas na língua, questiona a professora, encara os filhos dos torturadores que encontra na rua e assim vai, a mãe fica desesperada porque sabe dos riscos desse tipo de atitude naquele contexto, enviam a menina de (se não me engano) 14 anos para Viena, vai sozinha para estudar e viver sua adolescência como pode. Algum tempo depois volta, casa-se, descasa-se e vai para Paris onde torna-se essa pessoa famosa que é hoje.
Contei quase tudo, mas vale a pena ver. Na verdade ainda não falei de muita coisa, da avó de Marjane, por exemplo, um personagem hiper importante na história e na vida dela...e é muito engraçada essa avó. Adorei quando Marjane vem desesperada, chorando, contar para ela que está vivendo uma tragédia, o seu casamento está acabado e a avó 'Mas é só isso? Que susto, eu tenho problemas cardíacos...' enfim, a avó mostra para ela que não é assim tão dramático o divórcio depois de um ano de casamento, pior seria ser obrigada e levar um casamento fracassado o resto da vida. Numa parte importante do filme em que Marjane, para se safar dos controladores da moral e bons costumes (verificam se o véu está bem colocado, se as meninas não estão maquiadas e todas essas besteiras) ela , que estava maquiada, chama a atenção deles para um rapaz que estava tranquilo lendo o seu jornal, ela conta, e é verdade, que o rapaz tinha dado uma encarada nela, os policiais levam o rapaz preso. A avó, ao ouvir a história fica muito brava com ela, dizendo que ela não podia ter enviado o rapaz assim para a prisão, que ela sabia o que o avó tinha passado na prisão, e o tio e tanta gente...Marjane diz então que ela não tinha escolha, a avó responde:
"todo mundo tem uma escolha. há sempre uma escolha."


O filme recebeu vários prêmios na Europa, concorreu ao Oscar e perdeu para Ratatouille.

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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ann Coulter


Ann Coulter (1961) é advogada e jornalista norte-americana, muito popular, sobretudo junto do eleitorado de direita, e conhecida pelas suas tiradas politicamente incorrectas. Escreveu vários livros, alguns dos quais se revelaram verdadeiros best-sellers e é colunista em diversos periódicos.
Embora lhe sejam conhecidos ex-namorados, ligados ao jornalismo e à direita, Coulter não casou nem tem filhos, mas é membro de uma igreja evangélica presbiteriana dirigida pelo pastor Timothy J. Keller.
Entre outras coisas, nas suas aparições públicas na rádio, na televisão e em palestras, Coulter ataca a teoria evolucionista, os homossexuais e os muçulmanos. O seu ódio aos democratas e às feministas é declarado e peçonhento.
Sobre as mulheres conhecem-se algumas tiradas suas que são verdadeiras pérolas de misoginia, embora, obviamente, ela negue esta interpretação; vejamos uma das mais badaladas:
"Eu acho que as mulheres deviam ter armas mas não deviam votar... as mulheres não têm capacidade para compreender como é que o dinheiro é ganho. Elas têm muitas ideias de como o gastar. E quando vão votar, querem sempre mais dinheiro para educação, mais dinheiro para cuidados infantis, mais dinheiro para creches."
Ann Coulter, Politically Incorrect, Fevereiro, 26, 2001

continua no blog Sexismo e Misoginia.
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Eu já conhecia essa senhora, não consigo entender o que se passa na cabeça de uma mulher dessas, não sei se é por dinheiro que ela presta esse desserviço às mulheres - ou melhor, a toda a sociedade - se é por poder, se é por odiar ser mulher ou se é estúpida simplesmente. Em todo caso, como diz a autora do blog, é melhor conhecer esse movimento até para preservar as conquistas que as mulheres já tiveram, é um movimento que tem poder e que não deve ter muita dificuldade em angariar fundos. Infelizmente.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

o poema da sexta-feira

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Deslumbramentos


Milady, é perigoso contemplá-la

Quando passa aromática e normal,

Com seu tipo tão nobre e tão de sala,

Com seus gestos de neve e de metal.



Sem que nisso a desgoste ou desenfade,

Quantas vezes, seguindo-lhes as passadas,

Eu vejo-a, com real solenidade,

Ir impondo toilettes complicadas!…



Em si tudo me atrai como um tesoiro:

O seu ar pensativo e senhoril,

A sua voz que tem um timbre de oiro

E o seu nevado e lúcido perfil!



Ah! Como me estonteia e me fascina…

E é, na graça distinta do seu porte,

Como a Moda supérflua e feminina,

E tão alta e serena como a Morte!…



Eu ontem encontrei-a, quando vinha,

Britânica, e fazendo-me assombrar;

Grande dama fatal, sempre sozinha,

E com firmeza e música no andar!



O seu olhar possui, num jogo ardente,

Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;

Como um florete, fere agudamente,

E afaga como o pêlo dum regalo!



Pois bem. Conserve o gelo por esposo,

E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,

O modo diplomático e orgulhoso

Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.



E enfim prossiga altiva como a Fama,

Sem sorrisos, dramática, cortante;

Que eu procuro fundir na minha chama

Seu ermo coração, como a um brilhante.



Mas cuidado, milady, não se afoite,

Que hão-de acabar os bárbaros reais;

E os povos humilhados, pela noite,

Para a vingança aguçam os punhais.



E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,

Sob o cetim do Azul e as andorinhas,

Eu hei-de ver errar, alucinadas,

E arrastando farrapos - as rainhas!


Cesário Verde