domingo, 29 de novembro de 2009

A Viagem do Elefante

Acabei de ler sábado de manhã (é, acordei cedo), antes de ir trabalhar, A Viagem do Elefante. Eu sei, eu sei que já saiu outro livro do Saramago, mas livro não é como moda, eu posso seguir meio de longe (isso não quer dizer que eu siga a moda de perto). Enfim, gostei bastante do livro, do humor, sobretudo que, segundo Saramago é "o instrumento de comunicação mais direto com o leitor (...)".


Trecho do livro:

"O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof."

Ando com preguiça de falar dos livros que leio, quem me acompanha há algum tempo sabe que antes eu adorava resenhar. Não sei o que deu em mim, se é preguiça mesmo, se é falta de tempo...Sim, antes eu tinha muito mais tempo e era bom poder terminar um livro e ficar ali pensando nele, lendo sobre ele e depois escrevendo sobre. Infelizmente isso não colocava o pão na minha mesa (e eu como muito pão). Não colocava pão, mas até que algumas resenhas me renderam bons livros, talvez eu esteja reclamando de barriga cheia. Estou falando daquele site da secretaria de cultura de São Paulo, se não me engano, o Leia Livro, eu enviava uma resenha, a resenha era lida num programa de rádio e eu ganhava um livro como recompensa, livros bons, muito bons. Acho que o projeto foi pro beleléu assim como o tempo que eu tinha para essas coisas inúteis e boas.

Então, o que posso dizer agora é que o livro do Saramago é bom e é curto, sim, Borges já falava da vantagem de narrativas curtas (não consigo me lembrar da frase para citar aqui). Eu penso duas vezes antes de atacar um calhamaço, a não ser Os Irmãos Karamázov, Musashi, As Irmãs Makioka....coisas assim, clássicos.

E no sábado à noite fomos ver o filme Julie e Julia, confesso que só fui vê-lo porque tinha a Meryl Streep no elenco, não conhecia nada da Julia Child, personagem do fime, mas uma professora americana (com quem fui ao cinema) me disse que não existe americano que não a conheça, ela apresentou um programa de cozinha divertídissimo por muitos e muitos anos, uns 30, se não me engano. Quando morei lá já não existia, acho que Julia Child morreu em 2002.

Veja o trailer :
...



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Poema da sexta-feira

Milagres

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.

Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?

Walt Whitman, Folhas de Relva

....

Infelizmente não consegui descobrir de quem é a tradução.
.....
Miracles

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Why! who makes much of a miracle?
As to me, I know of nothing else but miracles,
Whether I walk the streets of Manhattan,
Or dart my sight over the roofs of houses toward the sky,
Or wade with naked feet along the beach, just in the edge of the
water,
Or stand under trees in the woods,
Or talk by day with any one I love--or sleep in the bed at night with
any one I love,
Or sit at table at dinner with my mother,
Or look at strangers opposite me riding in the car,
Or watch honey-bees busy around the hive, of a summer forenoon,
Or animals feeding in the fields,
Or birds--or the wonderfulness of insects in the air,
Or the wonderfulness of the sun-down--or of stars shining so quiet
and bright,
Or the exquisite, delicate, thin curve of the new moon in spring;
Or whether I go among those I like best, and that like me best--
mechanics, boatmen, farmers,
Or among the savans--or to the soiree--or to the opera,
Or stand a long while looking at the movements of machinery,
Or behold children at their sports,
Or the admirable sight of the perfect old man, or the perfect old
woman,
Or the sick in hospitals, or the dead carried to burial,
Or my own eyes and figure in the glass;
These, with the rest, one and all, are to me miracles,
The whole referring--yet each distinct, and in its place.

To me, every hour of the light and dark is a miracle,
Every cubic inch of space is a miracle,
Every square yard of the surface of the earth is spread with the
same,
Every foot of the interior swarms with the same;
Every spear of grass--the frames, limbs, organs, of men and women,
and all that concerns them,
All these to me are unspeakably perfect miracles.

To me the sea is a continual miracle;
The fishes that swim--the rocks--the motion of the waves--the ships,
with men in them,
What stranger miracles are there?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Girls best friend
Obs: Não encontrei o autor da foto.
...

sábado, 21 de novembro de 2009


....
Perdi o sono na noite de quinta para sexta e aproveitei para rever A Viagem de Chihiro, o filme é bem bonito e me impediu de pensar bobagens durante a madrugada. Moro do lado de uma maternidade e, enquanto via o filme, escutei dois berros de recém-nascidos. Não sei se era o mesmo ou se foram dois partos.

Ali mesmo, Manoel Carlos, onde nasceu sua netinha...e também o seu netinho. O choro deles eu não escutei. Que pena!
...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

o poema da sexta-feira


Preso
na cascata
um instante:
o verão



matsuo bashô

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Sena


Toby Vandenack

O Poema da sexta-feira

As Adam, early in the morning,
Walking forth from the bower, refresh’d with sleep;
Behold me where I pass—hear my voice—approach,
Touch me—touch the palm of your hand to my Body as I pass;
Be not afraid of my Body.


(Walt Whitman 1819-1892)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Moi


Vou aproveitar que alguém, a Tati, fez umas perguntas sobre mim aí nos últimos comentários e, quem sabe, até não economizo algumas horas do analista.

Vamos ver, sim sou professora de francês, por sorte na minha própria escola, em Curitiba. Sou professora e coordenadora do curso. Estudei Letras (português-francês) long...longtime ago. Vivi em Bruxelas durante vários anos e lá eu ensinava português, seria muita ousadia ensinar francês para francófonos, fiz também muitos trabalhos de tradução o que, na época, eu adorava porque podia trabalhar em casa, de pijama, trabalho perfeito para o inverno. Trabalho ainda com tradução, às vezes, mas não sou tradutora juramentada e aqui no Brasil eu acho meio chato porque é muito comum as pessoas reclamarem do preço, eu odeio discutir preço como cliente ou oferecendo serviços. Muita gente aqui tem dificuldade em entender o trabalho de tradução, é um trabalho difícil, requer muitas horas, não basta saber a língua (as duas línguas, no caso) e ir passando de uma para a outra, é preciso pesquisar (ninguém domina todos os assuntos, nem mesmo na língua materna), é preciso revisar, é preciso tempo, as pessoas chegam e dizem: 'pra ontem', na maior cara de pau. Em Bruxelas nunca ninguém discutiu o valor de uma tradução comigo. Essa é a minha experiência, talvez outras pessoas tenham outra por conhecer melhor o meio aqui, as pessoas que vivem exclusivamente de tradução, por exemplo. Eu não conheço, só conheço as pessoas que telefonam na escola ou que passam por aqui.

Trabalho só com adultos, já trabalhei, antes de morar fora do Brasil, com preparatório para vestibular, escolas estaduais e particulares, centros de línguas de universidade e universidade. Comecei a trabalhar cedo, por isso a vasta experiência, ok?

Enfim, é isso, mantenho este blog, bem ou mal, há uns cinco anos e são quase sempre as mesmas pessoas que me acompanham, por incrível que pareça. Eu não verifico (já fiz isso, mas não faço mais)contador, não sei quantas pessoas entram aqui por dia ou como chegaram aqui, algumas poucas deixam comentários, de vez em quando alguém me escreve. O blog é assim paradinho, mas já me rendeu bons encontros, boas amizades, às vezes tenho vontade de parar, preguiça mesmo, mas aí lembro dessas coisas, das pessoas que já encontrei (encontrei mesmo, no mundo real) por causa dele ou mesmo as que nunca encontrei, mas com quem mantenho bom relacionamento virtual. E ainda o nlog me oferece essa possibilidade de desabafar de vez em quando, já perceberam, não? Dá para reclamar da vida, do tempo, da tpm, o máximo que vai acontecer é a pessoa sair do blog rapidinho pensando 'ô coisa chata!' ou deixar um comentário desaforado que, se eu quiser, posso apagar depois. Voilà!

E aproveito para agradecer a paciência de todos neste tempo...na verdade, pensando bem, são mais de cinco anos.

That's all folks!

...
"A melhor demonstração de como Caetano (não) leu o antropólogo não aparece em sua resenha (ele já o tinha citado - mais ou menos como Gil citou a física quântica - em uma de suas letras). A prova de que Caetano, se leu, não entendeu nada de Levi-Strauss não é sua entrevista, embora patética. É sua declaração sobre a gramática de Lula."

Leia o artigo na íntegra aqui, Da Arte de Chutar.

domingo, 8 de novembro de 2009

Sunday


Que bom ter um domingo para descansar! oh la la...

Foi uma semana desgracenta, com tpm e todo tipo de stress, essa que se inicia será melhor, primeiro porque não haverá mais tpm, segundo (ou será por causa disso) relaxei e decidi que pouca coisa poderá me contaminar nos próximos dias.

Não acrescentou nada ao meu stress a milésima asneira que o Caetano disse (está em vários blogs), diga quantas mais quiser, defenda ACM, vote em evangélica, esperneie, só não quero pensar que fui a dois shows dele na vida. Ou foi só um, sei lá. Só estou me lembrando de um, em Bruxelas, fui com uma amiga belga, ainda me lembro dela (minha amiga) insistindo para que minha irmã fosse ao show com a gente e nem posso escrever aqui a resposta dela, só digo que ela não foi e me pergunto se não tinha razão no final das contas.

Ok, eu gosto da voz dele, gosto de algumas composições, mas como é chaaato. Cruzes!

Fez calor em Curitiba a semana toda. Sim, às vezes faz calor aqui, com isso parece que fiquei mais cansada ainda. Foi tanto o meu cansaço que vou ao médico essa semana, vou fazer uns exames, ver se é normal se cansar tanto assim.

E dormi pouco também, o calor, o cansaço, a angústia...enfim, então revi alguns filmes, dentre eles Pulp Fiction, fazia muito tempo que eu tinha visto, tinha me esquecido daqueles diálogos deliciosos, do John Travolta que estava tão engraçado e gostei de rever a atriz portuguesa, Maria de Medeiros com aquele rosto interessante. Ela fez também o filme Henry and June, baseado nos diários de Anaïs Nin, faz o papel da própria Anaïs. Já a vi interpretar em francês (bastante), inglês e, claro, português.

Li pouco, nem conseguia me concentrar, continuo lendo
Los detectives Salvajes, me arrependi um pouco de ter tomado emprestado esse livro tão grande, agora me sinto obrigada a ler só ele (não costumo ler um livro só de cada vez) para terminar logo e devolver. Não quero mais livros emprestados, a não ser que sejam de no máximo 100 páginas. Não quero emprestado, mas aceito doações. Um amigo nosso doou, não para mim, para a escola, vários livros em francês e em português, títulos excelentes. Inspirada talvez por ele, uma de nossas alunas que foi professora de espanhol na UFPR doou também outros tantos em espanhol e em português, excelentes títulos também. Isso é ótimo, estou (eu ou a escola) sempre recebendo livros, se você também estiver com problemas de espaço aí no seu apartamento, se quiser se desfazer dos seus livros por qualquer razão que seja, já sabe.

Como sempre o cachorro quer o passeio dele, estivemos o dia inteiro fora, coitado, ficou só, não está acostumado, passa o tempo todo na escola, sempre tem alguém para acariciá-lo, para brincar com ele...Alguns dos nossos alunos (uns anjos!) chegam ao cúmulo de vir mais cedo para a aula para poder levá-lo para um passeio. Toda semana! Sim, porque se alguém o leva para passear UMA vez, a pessoa fica marcada, quando chega aqui o cachorro faz um escândalo. É um cão de sorte, não pode reclamar muito da vida, o problema é que neste exato momento está chovendo, pouco, mas está. Que fazer? Já sentiram o cheiro de cachorro molhado, não é nada agradável, nem mesmo para quem, como eu, adoro o bicho. Vou tentar dialogar com ele.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cecília Meireles




Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901. Foi criada pela avó, D. Jacinta Garcia. Seu pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe antes que ela completasse três anos.


Noturno


Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?

E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?


Que vale o pensamento humano,

esforçado e vencido,

na turbulência das horas?


Que valem a conversa apenas murmurada,

a erma ternura, os delicados adeuses?


Que valem as pálpebras da tímida esperança,

orvalhadas de trêmulo sal?


O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,

no profundo diagrama.


E o homem tão inutilmente pensante e pensado

só tem a tristeza para distingui-lo.


Porque havia nas úmidas paragens

animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:

grandes como pórticos, suaves como veludo,

mas sem lembranças históricas, sem compromissos de viver.


Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos

e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas

e na seda longa das crinas desfraldadas.


Mas a noite desmanchava-se no oriente,

cheia de flores amarelas e vermelhas.

E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,

erguiam no ar a vigorosa cabeça,

e começavam a puxar as imensas rodas do dia.


Ah! o despertar dos animais no vasto campo!

Este sair do sono, este continuar da vida!

O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

ao claro dia da humana vassalagem!




Cecília Meireles

..................................

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Guggenheim Museum, New York City

Bill Perlmutter


'A vida muda rápido, a vida muda num instante, você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente'.
....

Joan Didion em seu último livro, O Ano do Pensamento Mágico que eu ainda não li. Ainda.