quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Cadernos do Oriente

À sombra de uma amoreira


Era uma vez um homem rico que vivia numa enorme mansão, ao lado da estrada. Atrás da casa havia uma majestuosa amoreira. Durante os dias quentes de verão ele costumava ir sentar-se à sombra dela para apanhar o fresco que ali se fazia sentir.

Um belo dia, um pobre coitado foi deitar-se à sombra da árvore e o homem rico, assim que o viu pôs-se a gritar:
_ Hei, tu! Não podes deitar aí! Vá! Vai-te embora! Desaparece!
_ Vou-me embora, por quê? Estou bem aqui. _retrucou o outro.
_ Essa árvore_ explicou o rico _ fui eu quem a plantou e eu quem a tenho regado. Por ter tratado dela é que agora ela está assim tão grande, e por isso a sombra dela é minha.
_ Se assim é, cede-me a tua sombra que eu pago-te bom dinheiro por ela.

A palavra “dinheiro” ressoou como uma bela melodia nos ouvidos do homem rico.
_ Hã! Assim está bem! respondeu.Assim cedo-te a minha sombra.

Após três ou quatro encontros, feitos por meio de intermediários, concordaram com o valor a pagar e firmaram o negócio.
Desde então aquele pobre vinha, todos os dias, deitar-se à sombra da árvore. Quando a sombra se estendia para o pátio da casa do rico, ele ia deitar-se ali; quando ela entrava para a cozinha, era para lá que ele ia; quando penetrava pelo salão adentro, até mesmo para ali ele ia deitar-se. Em resumo, para onde quer que a sombra se estendesse, ele seguia-a sempre. Por vezes estava sozinho, mas outras vezes convidava os amigos para virem apanhar o frescor debaixo daquela que era a sua sombra e chegavam a trazer consigo os seus burros e outros animais.
O rico estava a perder a paciência e, um dia, explodiu a sua fúria:
- Mas que é isto? Quem é que te deu ordem de vir para o meu pátio, de entrar na cozinha da minha casa ou no meu salão? Proíbo-te que volte a pôr os pés aqui.
- Então, mas eu não te comprei a sombra da amoreira?_ respondeu ele._ Ora, como ela me pertence, ninguém me pode impedir de vir repousar onde quer que ela esteja.
Tal resposta fez aumentar ainda mais a raiva do homem rico, mas a verdade e que ele não podia fazer nada.
Um dia o senhor tinha visitas em casa. Ora, nesse mesmo dia o dono da sombra entrou pela casa adentro com ar de muito à vontade e deitou-se no chão sem se importar com os convidados que ali estavam. Tudo isto lhes pareceu muito estranho e, quando souberam da historia da venda da sombra, desataram a rir escancaradamente.
Isto já era demais para o homem rico! Ele não podia viver ali por mais tempo e por isso mudou-se para outra aldeia.
E assim aquele “Zé-ninguém” tornou-se o propietário da mansão e, no lugar onde o rico guardava o seu cavalo, ele punha agora o seu burro.

A partir de então, nunca mais ninguém foi admoestado pelo fato de vir deitar à sombra da amoreira.

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Conto chines


sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Sylvia Plath


ESPELHO



Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.

Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.

Sylvia Plath


sábado, 8 de janeiro de 2005

Cadernos do Oriente

Deixo aqui mais dois contos bem curtinhos que traduzi de um autor chinês, Liu Jingshu, não sei muito deste autor, a não ser que viveu durante a dinastia Nan Chao (420-589).

Antes de ir aos contos, reproduzo uma frase retirada da apresentação do livro ´Cuentos extraordinários de la China Medieval´, Antologia del Soushenji:

“Fique sabendo, leitor, se já não o sabe, que esta obra não é nenhuma gota de mar senão um mar em si mesmo. Figura entre os clássicos de uma literatura tão vasta quanto fascinante, notavelmente mais rica que todas as nossas literaturas românicas peninsulares juntas, em treze ou quatorze séculos mais dilatada que elas e, lamentavelmente muito pouco conhecida entre nós: a literatura chinesa.”


Contos:

(1)
O inhame (ou “batata dos montes”, segundo outra denominação) tem uma raiz que é boa tanto para remédios como para simples comida de verão. Os lambriegos a chamam ‘autóctone’. Para desenterrá-la, há que se cavar, com movimentos muito suaves e sem dizer seu nome: do contrário, será impossível. A raiz do inhame se parecerá com a pessoa que o tenha plantado.

(2)
No ano 326, o primeiro do período Xianhe da dinastia Jin, um homem chamado Xu partiu para uma viagem muito longa durante a qual sonhou que dormia com sua mulher; ela ficou grávida e, quando ele regressou, ao final de um ano, já tinha dado à luz uma criança…
E contou-lhe que tinha tido o mesmo sonho que ele.

Liu Jingshu, dinastia Nan Chao (420-589)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

A internet e os blogs

Li no Digestivo Cultural um artigo intitulado A internet e os blogs, nada simpático aos blogueiros...

Por isso mesmo, vale a pena ser lido.

Leila

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

“A aids é uma arma biológica.”

Duas opiniões convergentes de duas pessoas muito diferentes.

Cazuza:

“Às vezes fico pensando que a aids parece mesmo coisa da CIA misturada com o Vaticano.
Sei que é um pouco de loucura pensar isso, mas faz sentido, faz. Faz muito sentido.”


Wangari Maathai, Nobel da Paz 2004:

“A aids é uma arma biológica.”

“Alguns dizem que essa enfermidade veio dos macacos, mas eu duvido. Vivemos com os macacos desde tempos imemoriais. Na verdade, o vírus foi criado por cientistas para guerra biológica. Por que há tantos segredos sobre a aids? Isso me traz muitos questionamentos.”

“Nós, negros da África, morremos de aids mais do os outros povos do planeta.”