domingo, 31 de janeiro de 2010

American history X

No fim de semana passado assisti um filme que o nosso hóspede canadense (ele se chama Dock) tinha no computador, A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA (American history X), já é meio antigo, 1998, mas eu nunca tinha visto. É a história de um rapaz, Derek, que, abalado com a morte prematura e violenta do pai, um bombeiro que foi abatido por marginais enquanto prestava um serviço num bairro negro, torna-se um um neo-nazista. Derek, representado por Edward Norton, mata brutalmete dois negros que tentam roubar o seu carro, toda a cena é presenciada por seu irmão mais novo, vai preso e é condenado a somente 3 anos de cadeia, mas nesses três anos ele aprende muito e muda muito. Primeiro junta-se a um grupo de neo-nazistas na prisão, depois, decepcionado com algumas atitudes do grupo, é estuprado por um deles como retaliação por tentar se afastar. Aprende sobretudo com um prisioneiro negro com quem divide as tarefas na prisão, primeiro ao saber que o rapaz foi condenado a, se não me engano, o dobro de sua pena por um roubo e depois porque, com o tempo ele começa a perceber que só conseguiu sair vivo da prisão por causa de alguma proteção e essa proteção só podia ter vindo deste amigo que, nos seus primeiros dias ali lhe diz para prestar atenção: 'Você é o negro aqui'. A palavra é bem mais pesada em inglês.

Enfim, quando Derek é posto em liberdade é recebido como um herói pelo grupo de neo nazistas e percebe também o quanto seu irmão mais novo está envolvido naquilo, ele tenta explicar ao irmão que esteve enganado e que engoliu aquela teoria estúpida porque estava perdido e etc e tal....Dito assim parece um desses filmes bem moralistas, com final feliz, quer dizer, final feliz é impossível num mundo daquele, mas talvez eu tenha deixado passar a ideia de que o filme é engajado demais, não é, é muito interessante. Há outros conflitos no filme, sobretudo ligado ao irmão, a seu professor, a relação entre os brancos e negros na escola, o sofrimento da família (mãe, irmã e padrasto) de Derek por vê-lo perdido nesse movimento.

Edward Norton foi indicado ao Oscar por esse papel.
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O poema da sexta-feira

Se hei de morrer no caminho
que seja
entre os campos de trevo

Basho

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Morreu Salinger

Foi ontem, mas eu acabei de saber....

Morreu Salinger com 91 anos de idade. Este ano, justamente, eu tinha me proposto reler The Catcher in the Rye e Nine Stories, já estão separados ali no canto da estante...

Nota do NYT:

J. D. Salinger, literary recluse, dies at 91

Published: January 28, 2010

J. D. Salinger, who was thought at one time to be the most important American writer to emerge since World War II but who then turned his back on success and adulation, becoming the Garbo of letters, famous for not wanting to be famous, died Wednesday at his home in Cornish, N.H., where he had lived in seclusion for more than 50 years. He was 91.

Mr. Salinger’s literary representative, Harold Ober Associates, announced the death, saying it was of natural causes. “Despite having broken his hip in May,” the agency said, “his health had been excellent until a rather sudden decline after the new year. He was not in any pain before or at the time of his death.”

continua aqui

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A MARCA HUMANA

Voltei a ler o livro de Philip Roth, The Humain Stain, no kindle. Meu marido terminou de ler e, muito gentilmente, me cedeu o brinquedo por alguns dias. Infelizmente disponho só das noites para a leitura, às vezes um pequeno período de manhã. O livro é excelente, gostei de todos os livros que li do autor, mas (talvez seja a empolgação do momento) este é um dos meus preferidos até agora. Estou louca para terminar a leitura e ver o filme. Até agora li 35% do livro, como expliquei no outro post, aqui não há páginas e sim uma série de coisas estranhas onde a gente está acostumada a ver o nº de página, por enquanto não vou tentar entender tudo do kindle, quero terminar a leitura, já cometi a estupidez de apagar o livro uma vez, felizmente fica gravado no computador, não precisa comprar de novo, seria bastante doloroso para uma mineira.
Eu aconselho a leitura, não vou falar da história ainda. O título do filme em português é 'Revelações', há mesmo muitas revelações e acho que resumir o conteúdo aqui tiraria um pouco do prazer...e eu só li 35% do livro!
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Eis um pequeno trecho que encontrei na internet:

"Depois de cinco anos eu já havia me tornado perito em recortar cirurgicamente meus dias de tal modo que cada hora daquela minha existência em que nada acontecia tivesse sua importância para mim. Sua necessidade. Até mesmo sua animação. Eu não me permitia mais o hábito pernicioso de desejar uma coisa, e a última coisa que eu queria voltar a ter, pensava eu, era a companhia constante de uma pessoa. A música que ouço após o jantar não tem o propósito de me aliviar do silêncio, porém representa uma espécie de concretização do próprio silêncio: ouvir música durante uma ou duas horas todas as noites não me priva do silêncio - a música é a própria realização do silêncio. No verão, nado por meia hora na minha lagoa assim que me levanto, e no resto do ano, depois de passar a manhã escrevendo - a menos que a neve inviabilize minha caminhada -, percorro as trilhas da serra durante umas duas horas quase todos os dias. O câncer que levou minha próstata não voltou. Tenho sessenta e cinco anos e estou fisicamente bem, trabalhando bastante - e estou sabendo das coisas. Tenho de estar sabendo."
(Philip Roth, A marca humana, Companhia das Letras, 2002, págs. 62-63)

domingo, 24 de janeiro de 2010

The Brazilian Sphinx


Acabei de ler este artigo do The New York Review of book sobre a biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamin Moser, essa que todo mundo (o mundo literário, bien sûr) está comentando. Eu ainda não li a biografia, nem tenho o livro, mas pretendo ler um dia desses. A crítica do The New York é muito interessante. Fiquei surpresa com a declaração de que E. Bishop não gostava das novelas de Clarice Lispector, considerava ruins, entretanto gostava dos contos e até traduziu vários deles para o inglês.

"Though Bishop believed that Lispector's novels were bad and that Lispector had read nothing (except Hesse, Spinoza, Flaubert, and Agatha Christie), Bishop admired Lispector's short stories and translated several of them."

O autor conta que antes de começar a escrever seu artigo resolver fazer uma pesquisa, saiu perguntando quem já tinha lido Clarice, alguns conheciam o nome, outros tinham uma percepção errada da biografia dela, achavam que era lésbica, que tinha morrido num incêndio:

"Before beginning this review, I took a quick unscientific survey: Who had read the work of the Brazilian writer Clarice Lispector? When I consulted with Latin American scholars (well, only four of them) they grew breathless in their praise. She was a goddess; she was Brazilian literature's greatest writer. Further inquiry revealed some misunderstandings about her life, a life that clearly had reached mythic proportions, with a myth's errors and idiosyncratic details. Still, Lispector was held in reverent esteem by all four, though one believed she had died tragically in a fire (not so, although in her forties Lispector was burned on one side of her body, including her right hand, by a fire she accidentally started by smoking a cigarette in bed). Others were under the impression that she was a lifelong lesbian (also not so)."

Achei muito engraçada essa frase retirada de uma carta de Clarice, quando morava na Suíça, para a irmã: "Esta Suíça é um cemitério de sensações".

O autor do artigo aponta alguns defeitos na biografia: repetições, assuntos que começam e depois são abandonados, o casamento de Clarice assim como a relação dela com os filhos não são explorados:

"If there are other weaknesses in Moser's biography, they are largely organizational: there are repetitions, as well as subjects that once begun are then dropped. The character and nature of her marriage seems almost completely missing for twenty-two chapters; as is, to a lesser degree, her relationship to her sons. Although we do see her observing her boys and writing down their cute remarks in notebooks, her relationship to mothering veers from being primary to less than secondary and then back again in a flash. Her love life seems to go almost completely out after the fire in her forties, and her lifelong attachment to the handsome gay poet Lucio Cardoso has unexplained hiatuses."

O melhor é seguir este link e ler todo o artigo, quem já leu a biografia pode dizer se concorda ou não.

Kristin Scott Thomas: 'I've been a very sad person, but I'm not any more'

Trata-se de uma entrevista que a atriz Kristin Scott Thomas deu a respeito de seu último filme, nowhere boy, no qual ela interpreta a tia do John Lennon, Mimi. Eu gostei muito.
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The moment that Kristin Scott Thomas knew she didn't want to be a typical movie star, the moment it seems she switched from playing romantic leads to infinitely more interesting roles, was when a director told her she should make her character more appealing. The idea didn't grab her. "I just thought, I don't want to do that," she says. "I don't want to have to be pretty. I don't want to have to be adorable. Because if I'm watching that on screen I get irritated." She sits back with a sigh. "I can't bear it."

Para ler o restante da entrevista e ver o trailer do filme clique aqui.

domingo, 17 de janeiro de 2010

BLA BLA BLA

Relendo minhas anotações percebi que em fevereiro vai fazer um ano que estive no Chile. Gostaria de voltar, mas numa viagem bem diferente daquela, não que eu não tenha gostado, foi muito bom, viajar é sempre bom, no final das contas. Eu me cansei muito por causa do calor e por tentar seguir a Violaine (a francesa-mulher-maravilha com quem viajei). Agora estamos planejando ir de carro, eu, meu marido e quem sabe alguns amigos, vamos ver se conseguimos nos organizar.

Falando em Violaine ela vai estar aqui de novo no mês de fevereiro/março, preciso tomar muitas vitaminas para acompanhá-la. Ela vai trabalhar conosco durante um mês, o que vai ser muito bom. E tem mais gringo chegando, um canadense, chega hoje à noite...esse nem sei quanto tempo fica, também vai trabalhar conosco, mas até onde sei só fala inglês. Tomara que ele seja tranquilo, gosto muito de receber, mas há sempre um risco (não muito grande)quando é gente que não conhecemos (e até mesmo quando conhecemos) de ter algumas contrariedades. O meu balanço é que no final vale a pena, nós gostamos dessa troca e fazemos bastante amigos assim.
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Revi, agora mesmo, Trainspotting, falei com minha irmã e sobrinho por skype (estão lá na fria Bruxelas, neve e mais neve), passeei com o cachorro que já está querendo sair de novo. 'Boa ideia, Tommy, boa ideia' porque ele engordou no final de ano e está precisando de exercícios. É verdade! Tanto que até diminuí a ração dele, coitado. Fiquei com pena no começo, mas agora ele já se acostumou com a quantidade. E, evidentemente, parei de dar miolo de pão. Beagle tem tendência a obesidade, por isso tenho que ficar de olho, não é só para ele continuar lindão, é porque isso pode acarretar uma série de problemas. Muita gente chegou na escola no começo do ano e riu do fato de ele ter engordado "ha ha ha, o cachorro engordou com as festas de fim de ano?!" Não foi bem assim, é que ele está passeando menos, primeiro o meu sobrinho que passeia com ele no mínimo três vezes ao dia não está aqui, está de férias, alguns alunos que passeiam com ele estão igualmente de férias....Somos poucos para cuidar da tarefa, basicamente eu e o Leo, meu amigo e aluno e, no dia 05 de fevereiro, (isso o cachorro ainda não compreendeu!)Leo parte para o Canadá. Parte mesmo, não é 'viaja e volta', imigra. Vai ser um choque para o pobre Tommy. Mas é preciso entender que assim é a vida, um eterno ir e vir.
E lá vou para o décimo passeio.
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Tommy na foto acima por Aaron. Ia colocar uma foto divertidíssima dele com o próprio Aaron, mas como não pedi fica chato.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Poema da sexta-feira


Belo Belo


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.


A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.


O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.


Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.


Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.


As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.


Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.


— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Estrangeiro - Albert Camus

Esses dias reli L'Étranger, é muito bom pegar um livro tão pequeno, que a gente termina em poucas horas e que te oferece tanto. Uma parte me emocionou, é quando, no momento do enterro da mãe de Meursault - o personagem principal - o senhor Pérez, um dos velhos do asilo que era muito ligado a ela, começa chorar desesperadamente, o autor descreve a cena mais ou menos assim:Lágrimas de raiva e sofrimento rolavam pela sua face, mas, por causa das rugas, elas não escorriam, espalhavam-se, encontravam-se e formavam um verniz de água sobre este rosto destruído.
Eu achei essa imagem linda e triste. Lembrei-me de uma cena de criança, não sei que idade eu tinha, mas era bem nova, de observar muito longamente o rosto de uma senhora, tampouco sei que idade ela tinha, mas era um rosto bem maltratado, muito sol, muita secura....me lembrava um deserto, um deserto que eu nunca tinha visto, mas era assim. Nunca me saiu da memória aquele rosto e imagino que fosse assim o do senher Pérez.
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Agora estou lendo outro livro pequenininho (gosto de ler livros curtos quando não tenho muito tempo), Vinte e quatro horas na vida de uma mulher, de Stefan Zweig.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Kindle, eu não ganhei um no natal


Mas meu marido ganhou...não é a mesma coisa, já deu para sentir que, como muitos outros objetos cada um tem que ter o seu, mas enquanto não tenho o meu vou fuçando no dele que eu não sou de ferro. Eu nunca tinha visto um, digo, tocado, apertado. Nos primeiros dias foi uma farra, ele deixava o kindle e eu ia correndo, parecíamos duas crianças disputando um brinquedo, mas não saiu briga. Quando ele queria ler eu largava logo e pegava os meus de papel mesmo.O problema é que começamos a ler o mesmo livro, P. Roth, The Humain Stain e não deu muito certo. Decidi deixar ele terminar e leio depois. Não deu certo pelo seguinte, ainda não conheço bem o aparelho e não sei, por exemplo, como marcar as páginas (na verdade nem existe página, mas 'location'), ainda vou descobrir, daí quando eu pegava para ler (nas pausas do proprietário do brinquedo)eu tinha que ficar procurando onde eu tinha parado. Outro detalhe - e foi uma coisa que eu adorei no kindle - a gente pode mudar a fonte, como eu sou muito míope (sim, tenho óculos, lentes, mas os olhos andam me incomodando cada vez mais) eu coloco a fonte ENORME e esqueço de voltar ao normal quando paro de ler. Não é difícil mudar, claro, mas....
Agora o kindle viajou, não vou terminar o meu primeiro livro no kindle tão cedo. Ainda não deu para decidir se quero um, quer dizer, querer eu quero, não sei se quero empregar dinheiro em um, é diferente. Ainda vou estudá-lo mais, ver se é realmente fácil comprar e transferir, sobretudo transferir, mas ao que tudo indica sim, é simples, não parece haver muitas complicações. Deve ser muito bom nas viagens, você pode levar quantos livros quiser, tem um dicionário, pode fazer anotações.

Enquanto isso fico com meus maravilhosos livros de papel, ensebados alguns, capa rasgada outros, canto mordido pelo cachorro - um dicionário (aquele que não tem a palavra tarado), cada um com sua história. Essa (na foto) é a minha estante (e da escola agora) fotografada pela querida aluna Dani.
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O Poema da sexta-feira

Intempérie —

infiltra-se o vento

até na minha alma


Basho

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Biografia: Marguerite Yourcenar


Estou quase terminando a leitura da biografia de Marguerite Yourcenar, autora que aprecio desde que li, há muitos anos, Memórias de Adriano e depois A Obra em Negro...Espero reler os dois em breve e em francês, já que na primeira vez li em português.

Marguerite teve uma vida interessante de ler, na verdade eu gosto de biografias de escritores, mas a dela é particularmente deliciosa. Era uma mulher de extrema inteligência, nunca botou os pés numa escola, foi educada em casa, pelo pai (a mãe morreu quando ela era ainda um bebê) e às vezes, por professores contratados. Fez o BAC (exame francês), mas passou com nota 'razoável'. Ao que parece pensava em fazer Letras ou filosofia, não se sabe se os resultados dos exames a desanimaram ou se preferiu mesmo outros caminhos, as viagens, por exemplo. Foram muitas: Grécia, Itália, França, Bélgica (país onde ela nasceu), Inglaterra e muitos outros.

O pai era um bom leitor e permitia que Marguerite tivesse acesso à sua biblioteca, sem restrições, o que irritava alguns membros da família que achavam que ele devia selecionar o que a menina podia e devia ler. Assim cresceu ela muito livre, uma personalidade autoritária até. Começou a viajar cedo, com o próprio pai que a deixava nos hotéis e ia para os cassinos e assim foi acabando com boa parte da fortuna da família. Marguerite parecia não se importar muito com este detalhe.

Marguerite, embora tenha tido paixões também por homens, viveu a maior parte de sua vida com mulheres, a mais longa dessas relações foi com Grace Frick, mais de 40 anos. Viveram juntas nos Estados Unidos, Marguerite Yourcenar adquiriu a nacionalidade americana. Ela conheceu Grace em Paris, em um café aonde Marguerite ia, aparentemente, para encontrar mulheres. Grace traduziu alguns trabalhos de Marguerite para o inglês e a ajudava também na organização dos papéis, cartas, anotações.

Outro detalhe importante da biografia (que eu já sabia muito antes de ler aqui) é que M. Yourcenar foi a primeira mulher a fazer parte da Academia francesa, isso em 1980. Agora, o que eu não sabia é que, mesmo tendo sido tão tarde a entrada da primeira mulher ali, isso não se fez sem muita briga, muitos rumores, muita polêmica. E tem gente que ainda acha que as mulheres reclamam à toa, ok! É neste capítulo da entrada na academia que estou agora, cito um fato estarrecedor (pelo menos para mim), Claude Lévi-Strauss foi terminantemente contra a entrada dela na confraria alegando o seguinte “Não se mudam as regras da tribo”.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Feriado



Não viajei, li bastante, dormi bastante, andei com o cachorro, li as tristes coisas que continuam acontecendo no mundo (pela internet, há tempos não abro um jornal e muito menos ligo uma tv): chuvas, desabamentos, assassinatos, Boris Casoy destilando seus preconceitos. Mal conhecia esse Boris Casoy, agora conheço.
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Estou lendo a biografia de Marguerite Yourcenar, L'invention d'une vie (J. Savigneau), que comprei em Bruxelas, no sebo L'Évasion em julho 2009. Deixei a biografia de lado um pouco e li dois livros de M.Y. que comprei na mesma época: Alexis ou le Traité du vain combat e Le Coup de Grâce. Gostei dos dois, comecei a ler sem muita expectativa porque não são considerados seus melhores livros, digo, não são importantes como Memórias de Adriano ou A Obra em Negro, o que não quer dizer que sejam ruins. Comprei os dois livros numa edição só, o primeiro, Alexis, é uma carta escrita por um jovem músico à sua esposa, Monique, explicando porque ele está indo embora, porque não pode mais lutar contra a sua natureza, a homossexualidade (palavra que MY, também homossexual, detestava).
O segundo livro, gira em torno do mesmo assunto (a biógrafa comenta a obsessão de Yourcenar pela homossexualidade masculina), em Le Coup de Grâce (Golpe de Misericórdia, Editora Nova Fronteira) há um triângulo amoroso, Sophie, irmã de Conrad, ama Eric que ama Conrad. É uma história de amor trágica que se desenrola no meio de conflitos políticos nos países bálticos, em 1919. A própria Marguerite afirma que a política em si não conta para Eric, que ele é um aventureiro, mas o que parece é que ele está sempre à direita e Sophie à esquerda, ela "nunca escondeu sua simpatia pelos vermelhos", observa o próprio Eric. No final Sophie é presa junto com os inimigos, e cabe a Eric (poderia ter sido outro, mas ele pede que seja ele) matar Sophie, o que ele considera uma espécie de punição da parte dela, uma 'armadilha'.

Grosso modo é isso o assunto dos dois livros. Se não me engano Alexis foi escrito quando a autora tinha apenas 24 anos.
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Imagem: Susan Stephenson

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O Poema da sexta-feira

Irene no céu


Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.


Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Manuel Bandeira