sexta-feira, 23 de julho de 2010

o poema da sexta-feira

Love After Love

The time will come
when, with elation
you will greet yourself arriving
at your own door, in your own mirror
and each will smile at the other's welcome,

and say, sit here. Eat.
You will love again the stranger who was your self.
Give wine. Give bread. Give back your heart
to itself, to the stranger who has loved you

all your life, whom you ignored
for another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,

the photographs, the desperate notes,
peel your own image from the mirror.
Sit. Feast on your life.

Derek Walcott


Nobel de Literatura de 1992.


sábado, 17 de julho de 2010

Com que corpo eu vou?

Artigo muito interessante de Maria Rita Kehl

Para ler o texto todo clique aqui.

(....)
É fato que as sociedades burguesas, desde o século 19, consideraram o corpo como propriedade privada e responsabilidade de cada um. O corpo -mas o corpo vestido, domado pela compostura burguesa e embalado pelo código das roupas- era o primeiro signo que o "self-made man" em ascensão, sem antecedentes nobres, emitia diante do outro a respeito de quem ele "é". A aparência substituiu, com vantagens democráticas, o "sangue". O corpo bem-comportado de até poucas décadas atrás dizia: sou uma pessoa decente, confiável, honrada -e meus negócios vão bem.
O corpo malhado, sarado e siliconado do novo milênio diz: sou um corpo malhado, sarado, siliconado. O circuito se fecha sobre si mesmo. Parece a ética dos "cuidados de si" pesquisada por Michel Foucault, mas não é. O sentido da prática dos cuidados de si a que se dedicavam alguns cidadãos romanos, na Antiguidade, estava diretamente articulado ao papel desses homens na vida pública. Ser capaz de cuidar bem do corpo e da mente era condição para cuidar bem dos assuntos da "polis". No Brasil de hoje, em que o espaço público foi a um só tempo desmantelado e ocupado pela televisão, a produção dos corpos é a produção da visibilidade vazia, da imagem que tenta apagar a um só tempo o sujeito do desejo e o sujeito da ação política.
A cultura do corpo não é a cultura da saúde, como quer parecer. É a produção de um sistema fechado, tóxico, claustrofóbico. Nesse caldo de cultura insalubre, desenvolvem-se os sintomas sociais da drogadição (incluindo o abuso de hormônios e anabolizantes), da violência e da depressão. Sinais claros de que a vida, fechada diante do espelho, fica perigosamente vazia de sentido.

Maria Rita Kehl é psicanalista e ensaísta, autora de "Sobre Ética e Psicanálise" (Companhia das Letras), entre outros.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Poema da sexta-feira

O último poema


Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.


Manuel Bandeira

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lendo: CONTOS DA PALMA DA MÃO

Trechos:
“E, por fim, quando chegar o dia em que seu coração nublado e ferido fizer com que veja um gafanhoto como um autêntico suzumushi, ou se vier a sentir que o mundo está repleto de gafanhotos, então, nesses momentos, sentirei pena de você por não possuir meios de recordar esta noite; a brincadeira das luzes verdes de sua bela lanterna que desenhavam seu nome no peito daquela menina.” (p. 43)

“Atraído pelo olhar da moça, o homem também me olhou. Esboçou um sorriso safado, por um instante, e logo voltou à expressão séria de antes. No mesmo instante, fiquei sem graça. Então, a moça também corou um pouco e, como se ajeitasse os cabelos, levantou a mão esquerda para seu momoware. Seu rosto ficou oculto atrás da manga do braço erguido. Tudo isso aconteceu num instante, que se seguiu depois que ela tentou arrebatar a vara da mão do homem pela segunda vez. Sentindo ligeira revolta por aquele quê de maldade lançado pelo vendedor de óculos, e com um pouco de remorso por ter espiado os segredos dos outros, retomei a minha caminhada.” (p. 189-90)

“Quando vira o garoto passar na frente da lojinha, ela saíra voando, sem ter tempo de ajeitar o cabelo. Como se acabasse de tirar a touca de banho de mar, seus cabelos estavam em desalinho, deixando-a ansiosa. No entanto, na frente dele, ela era uma menina inibida que não conseguia arriscar um gesto para ajeitar os fios rebeldes de seus cabelos. O garoto, por sua vez, temia que pudesse ofendê-la se lhe pedisse para ajeitá-los.” (p. 334)

“Ela, que vivera sempre perseguindo amores intensos, mesmo agora que estava enferma, não conseguia conciliar o sono sossegado sem sentir, no seu pescoço ou no peito, o braço de um homem. Entretanto, quando seu estado se agravou, ela implorava:
— Segure meus pés! Não posso suportá-los tão tristes.
[...]
No entanto, inesperadamente, as mãos dele tremeram. Sentiu a sensualidade da mulher vinda dos pequenos pés. Aqueles pequenos e frios pés nas palmas de suas mãos suscitaram nele o mesmo prazer de tocar nos pés quentes e úmidos dela. Envergonhou-se das próprias sensações que pareciam profanar os momentos sagrados da morte da namorada. Mas aquele pedido para ele segurar os pés dela não teria sido seu último recurso da arte do amor? Ao pensar nisso, ficou aterrorizado ante a exacerbada feminilidade daquela mulher.” (p. 348-9)
...
Faz tempo que estou lendo estes contos, já devo ter falado deles aqui antes, às vezes, depois de terminar um livro, eu leio uns cinco contos, depois deixo o livro de lado por uns meses e um belo dia retomo a leitura. Como podem ver aí pelos trechos escolhidos pela Estação Liberdade alguns contos são belíssimos, outros são tão diferentes do que estamos acostumados a ler que a compreensão fica difícil, aliás a tradutora nos previne quanto a isso na apresentação.

Contos da Palma da mão
Yasunari Kawabata
Tradução de Meiko Shimon

sexta-feira, 9 de julho de 2010

o poema da sexta-feira

Extingue-se o dia

mas não o canto

da cotovia


Basho

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Buda - Tailândia

Uma de minhas fotos da Ásia, lá se vão alguns anos, minha viagem à Tailândia deve ter sido em 2oo1, eu me lembro que passei o natal lá e que um conhecido tailandês que nos acompanhava, o meu amigo Marcos e eu, nos disse que festejava pela primeira vez na vida o (suposto)nascimento de Cristo. Ele imaginava que fosse importante para nós - não era - e nos convidou para a festa num hotel onde havia vários ocidentais. Eu me diverti muito, ele era boa companhia e me lembro até hoje de nossas discussões naqueles poucos dias. Ele nos levou para conhecer a família dele, fora de Banguecoque, eles eram todos extremamente gentis e nos encheram de presentes.
...

sábado, 3 de julho de 2010

Copa

Por um momento, depois do jogo Alemanha x Argentina, acreditei que estivesse na Alemanha e não em Curitiba, me parecia que houve mais festa com a derrota argentina do que com as vitórias do Brasil. Eu vejo um ou outro jogo e mesmo assim pela metade porque não entendo muita coisa, mas não pactuo desse sentimento contra a Argentina, na verdade até torcia para eles, nossos vizinhos. Essa barulheira pela derrota de nossos hermanos é muito estranha, talvez seja bem mais forte aqui no sul, mas não tenho certeza. Aparentemente a Alemanha jogou muito melhor e mereceu a vitória.

Agora vou torcer para o Paraguai.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A luz que surgiu por trás da colina


O documentário conta a história do professor de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Afonso Lana. Nos anos 60, Lana era estudante de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aos 22 anos, era membro do Diretório Acadêmico, e organizou uma passeata contra a privatização da universidade. A partir daí, passou a ser perseguido dentro da própria instituição. Em 1968, resolveu ingressar no grupo de guerrilha Comando da Libertação Nacional, o Colina. Um ano depois, foi preso pelo regime militar em Juiz de Fora, onde foi torturado. Apenas foi libertado porque os sequestradores do embaixador suíço pediram o seu resgate e de outros militantes em troca.

Depois disso, Lana partiu para o exílio no Chile, onde estudou Artes Plásticas. Perseguido novamente, desta vez pelo governo de Augusto Pinochet, o professor foi buscar proteção na Alemanha, onde completou seus estudos. O regresso ao Brasil só se deu após a anistia, em 1978, quando assumiu o cargo na UFU. Ao lado do protagonista, a equipe de A luz que surgiu por trás da colina volta aos lugares por onde o professor Lana esteve durante os anos de chumbo para recontar uma história que não deve ser esquecida.

o poema da sexta-feira

Tecendo a Manhã



1


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de Melo Neto

(A Educação pela Pedra)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Preconceito Linguístico

Li há algumas semanas este livro - Preconceito Línguístico - e aprendi muito com ele, deixo aqui a dica. Na verdade eu li o e-book, mas vou comprar o livro. Eis as referências e um trecho da introdução:

Título: Preconceito Linguístico
Autor: Marcos Bagno
Gênero: Letras
Editora: Edições Loyola

Existe uma regra de ouro na Lingüística que diz: "só existe língua se houver seres humanos que a falem".E o velho e bom Aristóteles nos ensina que o ser humano "é um animal político". Usando essas duas afirmações como os termos de um silogismo (mais um presente que ganhamos de Aristóteles), chegamos à conclusão de que "tratar da língua é tratar de um tema político", já que também é tratar de seres humanos. Por isso, o leitor e a leitora não deverão se espantar com o tom marcadamente politizado de muitas de minhas afirmações. É proposital; aliás, é inevitável. Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam. O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão.

Se quiser ler o e-book clique aqui, tenho certeza que, assim como eu, você acabará comprando o livro depois da leitura.