sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Poema da sexta-feira





Silence

My father used to say,

"Superior people never make long visits,

have to be shown Longfellow's grave

nor the glass flowers at Harvard.

Self reliant like the cat --

that takes its prey to privacy,

the mouse's limp tail hanging like a shoelace from its mouth --

they sometimes enjoy solitude,

and can be robbed of speech

by speech which has delighted them.

The deepest feeling always shows itself in silence;

not in silence, but restraint.

"Nor was he insincere in saying, "`Make my house your inn'."

Inns are not residences.


Marianne Moore

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Fanatismo e estupidez - Rubem Fonseca

Tive uma empregada que possuía oito irmãos e quatro irmãs, todos, por sua vez, com muitos filhos. Ela – vamos chamá-la de Sonia – já tinha três filhos, e o pai deles os havia abandonado. O mesmo ocorrera com os pais dos filhos de suas irmãs. Uma história comum, quase um chavão, que nem merece ser contada.
Sonia cuidava sozinha das crianças. Mas teve a sorte de trabalhar, durante algum tempo, na casa de uma médica da prefeitura, que, preocupada com a situação de Sonia, prevendo que ela certamente continuaria a ter filhos que seriam abandonados pelos pais, propôs a ela que fizesse a ligadura das trompas no hospital onde trabalhava. A médica, porém, obrigou Sonia a prometer que não diria a ninguém que sofrera aquele tipo de intervenção no hospital de sua patroa, pois esta poderia ser demitida, já que era terminantemente proibido fazer esse tipo de intervenção em hospitais públicos. Para todos os efeitos, a médica estaria cuidando de uma infecção urinária de Sonia.
É muito raro uma pessoa pobre ter tanta sorte. A filha de Sonia, de treze anos, não teve. Ficou grávida e, sem dinheiro para fazer um aborto numa clínica com médicos obstetras competentes, entregou-se a um desses carniceiros, que, apressado (eles têm muitas clientes esperando na fila), usando processos sem a menor higiene, deixou a filha de Sonia gravemente enferma. Ela foi internada num hospital público com infecção generalizada, falecendo após um mês. Isso não foi notícia de jornal, é algo muito banal para sair nas folhas. Como também os jornais não deram destaque ao fato de que em 2007 o Ministério da Saúde gastou dezenas e dezenas de milhões de reais com a internação de mulheres que abortaram clandestinamente sem recursos, como a filha da Sonia. Não existe, todavia, uma estatística – e se existe, é secreta – sobre o número de mulheres hospitalizadas e mortas em conseqüência de um aborto clandestino.
Isso acontece cada vez mais. Aumenta o número de mulheres (pobres, já que as ricas podem pagar por um aborto seguro) que morrem ou ficam com seqüelas doentias para o resto da vida devido a esse tipo de aborto ilegal. A mulher pobre que quer abortar neste país corre severos riscos de vida. A criminalização do aborto é resultante do fanatismo mais estúpido. A criminalização, além de iníqua (mais uma das injustiças, das violências e das opressões que a mulher tem enfrentado historicamente) é também anti-econômica. A criminalização do aborto é algo tão cretino que hoje existe apenas em países atrasados, como o nosso, a maioria na America Latina.
Mesmo assim, calcula-se que 20 milhões de abortos são realizados por ano nesses países onde esta prática é restringida ou proibida por lei. E milhões dessas mulheres sofrem danos irreparáveis para sua saúde ao realizar abortos praticados em condições extremamente precárias. O Código Penal brasileiro (e afirmo isso como ex-advogado criminalista que fui, durante algum tempo) está cheio de artigos ultrapassados, todavia o mais perverso de todos é esse que submete à pena criminal uma mulher que pratica o aborto.
O economista americano Steven Levitt fez um estudo, baseado em estatísticas e pesquisas de várias naturezas, no qual comprovou que com a descriminalização do aborto no Estados Unidos o índice de criminalidade em geral, naquele país, caiu drasticamente. As razões são óbvias. Essa conclusão não foi até hoje refutada.
A mulher carente, que se sente incapaz de ter um filho e criá-lo, tem que ter o direito de decidir se quer ou não fazer um aborto. Que deveria ser realizado em hospital público, com todos os recursos médicos.
Sei que não é fácil conseguir isso num país onde alegam que a pílula do dia seguinte é um atentado à vida – uma grosseira mentira, pois essa pílula impede a fecundação e nenhum feto "morre", o único prejudicado é o espermatozóide mais veloz, que perdeu sua chance de se aninhar num óvulo.
Este país está ficando cada vez mais triste. E os três dias de Carnaval são um devaneio extravagante e idiota, como na peça de Shakespeare – cheio de som e fúria, significando Nada.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Francesa que contaminou marido com Aids é condenada a cinco anos de prisão

[Não é a primeira vez que alguém é condenado por isso na França. Acabei de ler também na Folha que na Malásia, alguns estados pelo menos, estão exigindo teste de AIDS para muçulmanos que vão se casar, muitas mulheres estavam sendo contamidas depois do casamento.]
da France Press

A Justiça da França condenou nesta quarta-feira a cinco anos de prisão com direito a sursis (suspensão condicional da pena), uma mulher acusada de ter deliberadamente transmitido o vírus da Aids a seu marido.
Christelle Grard, 39, podia ser condenada a 15 anos de prisão. O ex-marido, Vincent Thellier, 36, prestou queixa em 2002. "Christelle Grard manteve relações sexuais sem camisinha com Thellier, com quem ia se casar. Ela sabia que era portadora do vírus da Aids desde 1991, e escondeu deliberadamente sua doença", declarou a procuradora-geral do Tribunal de Orleans, Jocelyne Amouroux.
Christelle e Vincent se conheceram em 1995 e se casaram em abril de 1997, depois de terem tido um filho. O marido, militar, afirmou ter descoberto que estava com Aids em agosto de 1997, depois de voltar de uma missão nos Camarões.
O filho do casal, hoje com 11 anos, não foi infectado pela doença. Christelle Grard, que pesa 35 kg, diz ter sido contaminada durante uma transfusão de sangue.

Folha de São Paulo 03/12/2008

O Poema da sexta-feira

BOM-DIA, CÃO

Avisto na rua um cão
Digo-lhe: como vais, cão?
Pensa que me responde?
Não? Pois bem, mas ele responde-me
E isso não é da sua conta
Agora quando se vêem pessoas
Que passam sem sequer reparar nos cães
Sentimos vergonha pelos seus pais
E pelos pais dos seus pais
Porque uma tão má educação
É coisa que requer pelo menos... e não estou a ser generoso
Três gerações, com uma sífilis hereditária
Mas, para não vexar ninguém, devo acrescentar
Que um número considerável de cães não falam com muita freqüência

Boris VIAN (1920-1959)
...

Bonjour, chien

J'avise un chien dans la rue
Je lui dis: comment vas-tu, chien ?
Croyez-vous qu'il me répondrait ? Non ?
Eh bien il me répond quand même
Et ça ne vous regarde pas
Alors quand on voit des gens
Qui passent sans même remarquer les chiens
On a honte pour leurs parents
Et pour les parents de leurs parents
Parce qu'une si mauvaise éducation
Ça demande au moins...et je ne suis pas généreux
Trois générations, avec une syphilis héréditaire
Mais j'ajoute pour ne vexer personne
Que bon nombre de chiens ne parlent pas souvent.

Boris VIAN (1920-1959)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Luz que Surgiu por Trás da Colina

A Luz que Surgiu por Trás da Colina é um documentário no qual meu irmão está trabalhando, eu acho muito interessante. A equipe fez um blog que está muito bacana. Visitem.
"Escavar o passado e retirar as camadas da história, enfim, percorrer os caminhos traçados por Afonso Lana [Ciro], arquétipo de nossa luta, professor do curso de artes visuais da UFU [universidade federal de Uberlândia], mestre em literatura e ex-líder de uma das facções de resistência armada à ditadura militar."
direção: carlos segundoass.
direção: chico de assis
produtor: clovis cunha
dir. de fotografia: alderico lucas
produção local: edinardo lucas
pesquisa: ana maria said
fotografia still: paulo brasil
produção: rascunho digital
apoio: vertical filmes, sivolc
production e etcétera mídias

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Poema da sexta-feira




Se eu não estiver viva

na volta dos passarinhos,

dê ao de gravata rubra

lembranças minhas de alpiste.

Se eu não disser obrigada,

por estar adormecida,

saiba que fiz o que pude

com meus lábios de granito.




Emily Dickinson



Tradução Paulo Mendes Campos.

...
Emily Dickinson nasceu no dia 10 de dezembro de 1830.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Livros

Estou me sentindo tão cansada esta semana que revolvi tomar vitamina c e descansar quando posso. Já estava cansada, com muita dor nas pernas e ainda por cima não consegui dormir de domingo para segunda, a segunda foi, claro, catastrófica. Mas acho que já estou melhorando e que até o final desta tarde volto ao 'normal'. O tempo também mudou, estava bastante fresco e ontem começou a fazer calor, foi meio brusco.
....
ATONEMENT (respondendo ao comentário da Sônia).

Sônia, ainda estou na página centoealgumacoisa, só agora comecei a mergulhar na história, estou adorando e louca para terminar e ver o filme. Assim que terminar 'conversamos' melhor sobre ele. Puxa, mas você é mesmo uma leitora voraz, quase tudo o que 'estou lendo' você 'já leu'. Muito bem, madame. Esqueci também de falar do seu comentário sobre O Morro dos Ventos Uivantes...Eu concordo com você, é mesmo impressionante o fato de uma moça naquelas circunstâncias ter escrito tal livro. Li que na época algumas pessoas acreditavam que tivesse sido escrito por um homem.

O comentário da Sônia:

"Entre as coisas que me assombram nesse livro uma é o fato de uma mulher solteira (solteira no sèculo XIX), criada num local ermo por um pai severo, com pouquíssimos contatos com o mundo, pôde descrever tamanha paixão. Paixão para além da vida, que une Catherine e Heathcliff. É uma obra gótica, que permanece sempre à beira do kitch e do dramalhão, mas jamais resvala. (ou resvala e é belíssima assim mesmo?) Já sentiu, né, minha paixão absoluta pelo livro."

...

Ganhei, já de presente de natal, a edição/tradução nova de Os Irmãos Karamázov, da editora 34. Li que a tradução está excelente e não consegui resistir, não comprei, mas estava claro que eu adoraria recebê-la de presente. Quando vou ter coragem de enfrentar aqueles dois volumes? Não sei.
...
imagem: Henri Matisse.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Garotas fogem de casa para escapar de circuncisão no Quênia

Folha de São Paulo, 05/12/2008

da BBC Brasil

Pelo menos 300 meninas no sul do Quênia fugiram de suas casas e buscaram refúgio em igrejas para tentar escapar de rituais de mutilação genital feminina, de acordo com a polícia queniana.

Fontes policiais da Província de Nyanza disseram à BBC que meninas de até nove anos de idade estão refugiadas nas duas igrejas, que funcionam como centros de apoio às meninas na região.

A mutilação genital feminina, ou circuncisão, é proibida no Quênia, mas continua sendo praticada em áreas rurais do país, onde é considerada um rito de passagem para a vida adulta.

Os rituais acontecem geralmente entre novembro e dezembro.

Tradição

A polícia vem protegendo as duas igrejas para impedir que as garotas sejam removidas.

Segundo a integrante do governo local e ativista em defesa dos direitos das mulheres, Beatrice Robi, cerca de 200 meninas vêm sendo circuncisadas por dia, inclusive uma de sete anos de idade teve seus órgãos genitais mutilados.

"Um número ainda maior de garotas, que estão em suas casas, estão sendo mutiladas, seja voluntariamente ou à força", disse ela.

O administrador do distrito de Kuria, Paul Wanjama, disse que, geralmente, as meninas fogem de casa nesta época, esperando o fim da temporada.

"Alguns dos pais são contra (a mutilação) mas são pressionados pelos tradicionalistas", disse ele.

Números

Perda do prazer sexual, infecções urinárias, relações sexuais dolorosas e infertilidade estão entre as conseqüências da mutilação para a saúde das mulheres, sem contar uma série de problemas psicológicos, como ansiedade e depressão.

A prática é justificada como forma de promover a virgindade, a fertilidade e prevenir a promiscuidade feminina.

A cada ano, cerca de 2 milhões de mulheres são vítimas de algum tipo de mutilação genital em todo o mundo, a maioria na África.

Estima-se que cerca de 130 milhões de mulheres vivam com o clitóris e os lábios vaginais parcialmente ou totalmente removidos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Phone Sex Operators

Vi este ensaio fotográfico na Mother Jones, quem quiser ver as outras fotos e testemunho basta clicar aí. É bastante interessante. Conheci uma vez na Alemanha um brasileiro que fez este trabalho por uns tempos, assim que ele chegou na Alemanha e não tinha ainda trabalho fixo. O engraçado é que esse rapaz trabalhava como se fosse mulher, ele tinha uma voz bastante feminina. Disse que enquanto falava ia limpando a casa, descascando batatas...
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My name is Ray. I've been having phone sex off and on for 14 years.
I was 19 when I started to embrace my sexy self.
I see myself as a love doctor, or even a psychiatrist. I am a Venus or goddess of love.
I create a sense of community for my regulars, including the closeted & married bi or gay men.
I try to heal the wounds that our closed-minded society inflicts. It may sound weird, but it's true. We as people should learn to talk and listen to our neighbors and share our inner light.
I wish the world was run by phone sex operators.

O poema da sexta-feira



Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

Florbela morreu em 08 de dezembro de 1930, dia em que completaria 36 anos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

é assim que é

O irmão da minha aluna foi para a França, ela pediu que ele trouxesse para ela um CD da Patricia Kaas, chegando lá ele já não se lembrava mais do nome e comprou o mais óbvio, Carla Bruni. Minha aluna odiou, achou chato e disse que não vê nada nela, nem mesmo a acha bonita. Bom, ganhei o disco novo da Carla Bruni, não morro de amores por ela, sobretudo depois que se casou com 'aquela coisa', mas acho ela bonita sim e até gosto de sua voz. Eu acho que ela tem um jeito meio falso mesmo, mas é verdade que impliquei depois do casamento.
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Lendo ATONEMENT, Ian McEwan. Não pretendia ler agora, mas temos aqui na escola um clube de leitura e no mês passado apareceu um rapaz muito interesante (um leitor interessante) e falou de tal modo do livro que pus ele na frente de outros. Ainda não vi o filme, vou terminar o livro primeiro.
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No trabalho algumas chateações, mas logo passa. Queria passar pelo menos 3 dias tranquila, lendo, escutando música. Saudades dos tempos em que eu tinha tempo.
Não coloquei trema em tranquila para já ir me adaptando à nova regra: "Não existe mais o trema em língua portuguesa. Apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Müller, mülleriano"

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Love for All



Adorei esta propaganda, copiei do Síndrome de Estocolmo.