quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


Feliz ano novo!
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Leituras


Melhores e piores leituras de 2009


Melhores


Romances:

  • Os Irmãos Karamazov - Dostoiévski
  • Le désert des Tartares - Dino Buzzati
  • Everyman – P. Roth
  • La pluie d’été – Marguerite Duras
  • Le Pigeon - P. Suskind
  • Les Mandarins – Simone de Beauvoir
  • O Castelo dos Destinos cruzados – Ítalo Calvino


Ensaios :

  • Comment parler des livres que l'on n'a pas lus - Pierre Bayard
  • Down and Out in Paris and London - George Orwell

Memórias:

  • The Glass Castle - Jeannette Walls


Piores:

  • Travesuras de la Niña Mala - M. V. Llosa
  • Antéchrista – Amelie Nothomb

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Todos estes livros eu li pela primeira vez, não vou considerar as releituras, se reli é porque o livro representava bastante para mim, evid

entemente.

Os Irmãos Karamazov eu deveria ter lido há muitos anos, deveria estar relendo agora, mas assim é a vida...e antes tarde do que nunca. Eu o coloquei no topo da minha lista porque acho que foi mesmo o livro mais importante deste ano. O resto foi difícil selecionar, a partir do segundo a ordem não quer dizer muito.

Le Désert des Tartares (o deserto dos Tártaros) é um livro maravilhoso que eu começaria a reler agora mesmo se a edição que tenho aqui não fosse tão ruim, quer dizer, é um livro de bolso que devo ter comprado em algum sebo (honestamente não sei de onde ele vem, talvez alguém tenha me repassado), a fonte dele é minúscula (e eu muito míope e outras coisas mais), sofri muito para chegar ao final, mas valeu a pena. Não sei se cheguei a comentar essa leitura aqui no blog. Enfim, não vou comentar os livros em si (talvez em outro momento) porque isso significaria muito tempo, ir lá procurar os livros, folhear, correr o risco de começar a ler e...lá se foi o post, nunca mais termino.

Everyman eu li há poucas semanas, até hoje não me arrependi de nenhum p. Roth e esse foi um dos melhores dele que eu li. Triste, triste, triste. Good good good.

La pluie d’été é um livro impressionante que eu comentei aqui, Marguerite Duras é outra escritora que nunca me desapontou.


Les Mandarins estava há tempos nos meus projetos de leitura e estou contente de finalmente ter cumprido a missão. Não vou dizer que estou morrendo de vontade de reler o livro, mas foi importante para mim, até mesmo profissionalmente (well, não sei quantos alunos de francês estariam interessados na leitura dos seus professores, talvez seja ilusão minha). Este também eu comentei aqui.


Le Pigeon eu considero uma descoberta. É um livro bem pequeno, uma centena de páginas, é do mesmo autor de O Perfume, mas bem melhor, se ainda me lembro de alguma coisa deste último. Eu considero uma descoberta porque o comprei por puro acaso num sebo em Bruxelas em julho deste ano, não tinha a mínima idéia do que podia ser, não conhecia nada do Süskind além de O Perfume.

O Castelo dos destinos cruzados. Já preciso reler, infelizmente não deixei nada anotado sobre ele, achei uma leitura difícil, mas muito agradável ao mesmo tempo.

Down and out in Paris and London eu comentei aqui.

Comment parler des livres que l'on n'a pas lus. Não comentei esta leitura aqui? Como não? Preciso fazê-lo urgente. Este eu ganhei de presente da minha irmã e ele já está separado para reler, quer dizer, ele nem saiu de perto da minha cama. Não se deixem iludir pelo título deste livro: Como falar dos livros que não lemos, na verdade é um livro para leitores, é um livro sobre livros, sobre a maneira como nos relacionamos com eles e como relacionamos – ou deveríamos – um livro a outro e sobre a pergunta ‘O que é ler?’ Ler é mais do que passar os olhos sobre as páginas de um livro, não é mesmo?

The Glass Castle foi um livro que veio parar meio por acaso na minha estante (minhas visitas from USA). Eu não estava pensando em ler até que me deparei com um comentário no blog Caminhar e gostei muito no final das contas. É um livro de memórias de uma família muito atípica. Pelo jeito eu não comentei a leitura aqui, mas é só ir lá no Caminhar. Infelizmente tive pouco tempo este ano, tinha que escolher entre continuar lendo e comentar.

Travesuras de la Niña Mala foi a minha grande decepção, achei de uma chatice torrencial, nem sei porque fui até o final. Comentei aqui.

Antéchrista é bem chatinho também, mas não me aborreceu tanto quanto o Travesuras porque é bem curtinho, li numa noite na Bélgica, fui dormir na casa do meu cunhado e me esqueci de levar um livro, havia uns 3 no criado mudo e eu escolhi este porque conheço bem a autora e porque eu conseguiria terminar a leitura senão naquela noite, pela manhã.

Felizmente são só dois na lista dos piores, é claro que há muitos ‘mais ou menos’, mas não é necessário listar. Tenho certeza que devo ter esquecido algum livro de contos, afinal adoro contos e não estou conseguindo me lembrar de nenhum para a lista. Esse é o meu balanço das leituras deste ano que termina dentro de 3 dias. Espero ter mais tempo para ler e para comentar em 2010.

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Nas fotos:Dostoiévski, Marguerite Duras.,Simone de Beauvoir.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Poema da sexta-feira

Tecendo a Manhã


1


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

(A Educação pela Pedra)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009


FELIZ NATAL!
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

o poema da sexta-feira

Os Instantes Superiores da Alma

Os instantes Superiores da Alma
Acontecem-lhe - na solidão -
Quando o amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe -

Ou quando - Ela Própria - subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência -

Essa Abolição Mortal
É rara - mas tão bela
Como Aparição - sujeita
A um Ar Absoluto -

Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos - bem poucos -
A Gigantesca substância
Da Imortalidade

Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Escola pública de SP joga no lixo e queima dezenas de livros

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"Uma escola estadual de Bauru, a 323 km de São Paulo, jogou livros no lixo e colocou fogo, incluindo alguns clássicos. A ação foi descoberta pelo fotógrafo João Roberto Alcará, na manhã de quarta-feira diante da Escola Estadual Ernesto Monte."

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Continua aqui: O Globo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

o poema da sexta-feira

Das cerejeiras em flor

ao pinheiro de dois troncos:

três meses


Basho

domingo, 6 de dezembro de 2009

Dimanche

Domingo tranquilo, quase tranquilo demais, mas eu estava precisando mesmo de um pouco de tranquilidade. Tive dor de cabeça durante os dois últimos dias, sobretudo ontem, doeu muito e não teve remédio que fizesse passar, hoje finalmente estou livre, mas estou cansada e com o couro cabeludo sensível, dor nas costas, essas coisas...só de não ter mais a maldita dor de cabeça já estou feliz. Acordei Poliana hoje (sabe aquele livrinho que a gente lia na adolescência, o da menina que sempre encontrava uma razão para estar feliz?). Enfim, feliz já é demais e acho a palavra um tanto chata, talvez por ser hoje usada à exaustão nas propagandas, nas conversas.

Estou escutando Nina Simone, lendo notícias, tomando café, ninguém em casa hoje e vai ser assim até o fim da tarde. Vou aproveitar para ler um pouco, não tenho lido muito. Essa semana reli uma novela da escritora japonesa Banana Yoshimoto, Hard Luck (a primeira, Hardboiled, não sei se vou reler). Eu já tinha lido o livro em francês há algum tempo, falei dele aqui, o título é Dur Dur. Da mesma autora já li também Kitchen, talvez o mais conhecido dela.

Essa semana vou ver dar uma olhada na minha lista e ver qual foi o pior livro que li este ano, acho que o prêmio vai mesmo para o Vargas Llosa.

sábado, 5 de dezembro de 2009

NZ Book Council - Going West


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Muito bonita essa animação feita para a promoção do livro Going West.

BLOG CENSURADO

Acabo de ler, no blog Arlesophia, esta notícia no mínimo muito estranha:

"Acabo de ser notificado extrajudicialmente por escritório de advocacia representando a Folha para que retirasse os selos da campanha #CancelandoFOLHA #CancelandoUOL, sob pena de processo por suposto uso indevido das marcas. Sendo assim, retirei imediatamente os referidos selos.

No momento não poderei desenvolver um post explicando melhor o caso, mas deixo aqui meu protesto por mais este ato de censura contra blogs.

Atualização (05/12/2009 às 00:37h)"


Veja mais no Vi o Mundo

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que a depressão pode nos dizer sobre o mundo em que vivemos?

Eu gostei muito deste artigo que encontrei no CAMINHAR e estou com muita vontade de ler o livro em questão. Acho que vou colocá-lo na lista do papai Noel.

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O depressivo na contramão

O que a depressão pode nos dizer sobre o mundo em que vivemos?
Eliane Brum
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo)


Em seu último livro, O Tempo e o Cão – a atualidade das depressões (Boitempo, 2009), a psicanalista Maria Rita Kehl nos provoca com uma hipótese sobre a qual vale a pena pensar: a depressão, que vem se tornando uma epidemia mundial desde os anos 70, pode ser a versão contemporânea do mal-estar na civilização. Ela teria algo a dizer sobre a forma como estamos vivendo e sobre os valores da nossa época. Para além da patologia, a depressão pode ser vista também como um sintoma social.

O que nossa época nos exige? Euforia, confiança, velocidade. Temos de ser pró-ativos. O que ela nos promete? Se soubermos traçar nossas metas e construir nossa estratégia, atingiremos o sucesso. Se produzirmos e consumirmos, alcançaremos a felicidade. Ser feliz deixou de ser uma possibilidade esporádica para se tornar uma obrigação permanente. Para nós, seres desta época, nada menos que o gozo pleno. Fora disso, só o fracasso. E o fracasso, este é sempre pessoal. Se não alcançamos o que nos prometeram no final do arco-íris é porque cometemos algum erro no caminho. E fracassar, como sabemos, passou a ser não um fato inerente à vida, mas uma vergonha.

O depressivo, neste contexto, é a voz dissonante. É o cara na contramão atrapalhando o tráfego, como na letra de Chico Buarque. Como diz Maria Rita, é aquele “que desafina o coro dos contentes”. Ela afirma, logo no início do livro: “Analisar as depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX. A depressão é a expressão do mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo desenfreado”.

Neste sentido, a mera existência do depressivo aponta, nas palavras da psicanalista, a má notícia que ninguém quer saber. Se basta ser pró-ativo, bem-sucedido e saudável, por que tantos e cada vez mais, como mostram as estatísticas, são classificados como depressivos?

“A depressão”, diz Maria Rita, “é sintoma social porque desfaz, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta e ordena a vida social desta primeira década do século XXI. Por isso mesmo, os depressivos, além de se sentirem na contramão do seu tempo, vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social da sua tristeza”.

Cada época cria seus proscritos. Na época da euforia e da velocidade, nada mais desafinado do que um depressivo. Se, em vez de hoje, o depressivo, então chamado de melancólico, vivesse no romantismo do final do século XVIII, “estaria tão adequado à cultura e aos valores de sua época quanto um perverso hospedado no castelo do marquês de Sade”.

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Continua aqui: Época

o poema da sexta-feira

Dá meia-noite


Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.

Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.

O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no ar andando à caça.

Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos -
Fora eu os sonhos
Da bela virgem... uma nuvem passa.


Sousândrade

domingo, 29 de novembro de 2009

A Viagem do Elefante

Acabei de ler sábado de manhã (é, acordei cedo), antes de ir trabalhar, A Viagem do Elefante. Eu sei, eu sei que já saiu outro livro do Saramago, mas livro não é como moda, eu posso seguir meio de longe (isso não quer dizer que eu siga a moda de perto). Enfim, gostei bastante do livro, do humor, sobretudo que, segundo Saramago é "o instrumento de comunicação mais direto com o leitor (...)".


Trecho do livro:

"O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof."

Ando com preguiça de falar dos livros que leio, quem me acompanha há algum tempo sabe que antes eu adorava resenhar. Não sei o que deu em mim, se é preguiça mesmo, se é falta de tempo...Sim, antes eu tinha muito mais tempo e era bom poder terminar um livro e ficar ali pensando nele, lendo sobre ele e depois escrevendo sobre. Infelizmente isso não colocava o pão na minha mesa (e eu como muito pão). Não colocava pão, mas até que algumas resenhas me renderam bons livros, talvez eu esteja reclamando de barriga cheia. Estou falando daquele site da secretaria de cultura de São Paulo, se não me engano, o Leia Livro, eu enviava uma resenha, a resenha era lida num programa de rádio e eu ganhava um livro como recompensa, livros bons, muito bons. Acho que o projeto foi pro beleléu assim como o tempo que eu tinha para essas coisas inúteis e boas.

Então, o que posso dizer agora é que o livro do Saramago é bom e é curto, sim, Borges já falava da vantagem de narrativas curtas (não consigo me lembrar da frase para citar aqui). Eu penso duas vezes antes de atacar um calhamaço, a não ser Os Irmãos Karamázov, Musashi, As Irmãs Makioka....coisas assim, clássicos.

E no sábado à noite fomos ver o filme Julie e Julia, confesso que só fui vê-lo porque tinha a Meryl Streep no elenco, não conhecia nada da Julia Child, personagem do fime, mas uma professora americana (com quem fui ao cinema) me disse que não existe americano que não a conheça, ela apresentou um programa de cozinha divertídissimo por muitos e muitos anos, uns 30, se não me engano. Quando morei lá já não existia, acho que Julia Child morreu em 2002.

Veja o trailer :
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Poema da sexta-feira

Milagres

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.

Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?

Walt Whitman, Folhas de Relva

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Infelizmente não consegui descobrir de quem é a tradução.
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Miracles

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Why! who makes much of a miracle?
As to me, I know of nothing else but miracles,
Whether I walk the streets of Manhattan,
Or dart my sight over the roofs of houses toward the sky,
Or wade with naked feet along the beach, just in the edge of the
water,
Or stand under trees in the woods,
Or talk by day with any one I love--or sleep in the bed at night with
any one I love,
Or sit at table at dinner with my mother,
Or look at strangers opposite me riding in the car,
Or watch honey-bees busy around the hive, of a summer forenoon,
Or animals feeding in the fields,
Or birds--or the wonderfulness of insects in the air,
Or the wonderfulness of the sun-down--or of stars shining so quiet
and bright,
Or the exquisite, delicate, thin curve of the new moon in spring;
Or whether I go among those I like best, and that like me best--
mechanics, boatmen, farmers,
Or among the savans--or to the soiree--or to the opera,
Or stand a long while looking at the movements of machinery,
Or behold children at their sports,
Or the admirable sight of the perfect old man, or the perfect old
woman,
Or the sick in hospitals, or the dead carried to burial,
Or my own eyes and figure in the glass;
These, with the rest, one and all, are to me miracles,
The whole referring--yet each distinct, and in its place.

To me, every hour of the light and dark is a miracle,
Every cubic inch of space is a miracle,
Every square yard of the surface of the earth is spread with the
same,
Every foot of the interior swarms with the same;
Every spear of grass--the frames, limbs, organs, of men and women,
and all that concerns them,
All these to me are unspeakably perfect miracles.

To me the sea is a continual miracle;
The fishes that swim--the rocks--the motion of the waves--the ships,
with men in them,
What stranger miracles are there?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Girls best friend
Obs: Não encontrei o autor da foto.
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sábado, 21 de novembro de 2009


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Perdi o sono na noite de quinta para sexta e aproveitei para rever A Viagem de Chihiro, o filme é bem bonito e me impediu de pensar bobagens durante a madrugada. Moro do lado de uma maternidade e, enquanto via o filme, escutei dois berros de recém-nascidos. Não sei se era o mesmo ou se foram dois partos.

Ali mesmo, Manoel Carlos, onde nasceu sua netinha...e também o seu netinho. O choro deles eu não escutei. Que pena!
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

o poema da sexta-feira


Preso
na cascata
um instante:
o verão



matsuo bashô

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Sena


Toby Vandenack

O Poema da sexta-feira

As Adam, early in the morning,
Walking forth from the bower, refresh’d with sleep;
Behold me where I pass—hear my voice—approach,
Touch me—touch the palm of your hand to my Body as I pass;
Be not afraid of my Body.


(Walt Whitman 1819-1892)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Moi


Vou aproveitar que alguém, a Tati, fez umas perguntas sobre mim aí nos últimos comentários e, quem sabe, até não economizo algumas horas do analista.

Vamos ver, sim sou professora de francês, por sorte na minha própria escola, em Curitiba. Sou professora e coordenadora do curso. Estudei Letras (português-francês) long...longtime ago. Vivi em Bruxelas durante vários anos e lá eu ensinava português, seria muita ousadia ensinar francês para francófonos, fiz também muitos trabalhos de tradução o que, na época, eu adorava porque podia trabalhar em casa, de pijama, trabalho perfeito para o inverno. Trabalho ainda com tradução, às vezes, mas não sou tradutora juramentada e aqui no Brasil eu acho meio chato porque é muito comum as pessoas reclamarem do preço, eu odeio discutir preço como cliente ou oferecendo serviços. Muita gente aqui tem dificuldade em entender o trabalho de tradução, é um trabalho difícil, requer muitas horas, não basta saber a língua (as duas línguas, no caso) e ir passando de uma para a outra, é preciso pesquisar (ninguém domina todos os assuntos, nem mesmo na língua materna), é preciso revisar, é preciso tempo, as pessoas chegam e dizem: 'pra ontem', na maior cara de pau. Em Bruxelas nunca ninguém discutiu o valor de uma tradução comigo. Essa é a minha experiência, talvez outras pessoas tenham outra por conhecer melhor o meio aqui, as pessoas que vivem exclusivamente de tradução, por exemplo. Eu não conheço, só conheço as pessoas que telefonam na escola ou que passam por aqui.

Trabalho só com adultos, já trabalhei, antes de morar fora do Brasil, com preparatório para vestibular, escolas estaduais e particulares, centros de línguas de universidade e universidade. Comecei a trabalhar cedo, por isso a vasta experiência, ok?

Enfim, é isso, mantenho este blog, bem ou mal, há uns cinco anos e são quase sempre as mesmas pessoas que me acompanham, por incrível que pareça. Eu não verifico (já fiz isso, mas não faço mais)contador, não sei quantas pessoas entram aqui por dia ou como chegaram aqui, algumas poucas deixam comentários, de vez em quando alguém me escreve. O blog é assim paradinho, mas já me rendeu bons encontros, boas amizades, às vezes tenho vontade de parar, preguiça mesmo, mas aí lembro dessas coisas, das pessoas que já encontrei (encontrei mesmo, no mundo real) por causa dele ou mesmo as que nunca encontrei, mas com quem mantenho bom relacionamento virtual. E ainda o nlog me oferece essa possibilidade de desabafar de vez em quando, já perceberam, não? Dá para reclamar da vida, do tempo, da tpm, o máximo que vai acontecer é a pessoa sair do blog rapidinho pensando 'ô coisa chata!' ou deixar um comentário desaforado que, se eu quiser, posso apagar depois. Voilà!

E aproveito para agradecer a paciência de todos neste tempo...na verdade, pensando bem, são mais de cinco anos.

That's all folks!

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"A melhor demonstração de como Caetano (não) leu o antropólogo não aparece em sua resenha (ele já o tinha citado - mais ou menos como Gil citou a física quântica - em uma de suas letras). A prova de que Caetano, se leu, não entendeu nada de Levi-Strauss não é sua entrevista, embora patética. É sua declaração sobre a gramática de Lula."

Leia o artigo na íntegra aqui, Da Arte de Chutar.

domingo, 8 de novembro de 2009

Sunday


Que bom ter um domingo para descansar! oh la la...

Foi uma semana desgracenta, com tpm e todo tipo de stress, essa que se inicia será melhor, primeiro porque não haverá mais tpm, segundo (ou será por causa disso) relaxei e decidi que pouca coisa poderá me contaminar nos próximos dias.

Não acrescentou nada ao meu stress a milésima asneira que o Caetano disse (está em vários blogs), diga quantas mais quiser, defenda ACM, vote em evangélica, esperneie, só não quero pensar que fui a dois shows dele na vida. Ou foi só um, sei lá. Só estou me lembrando de um, em Bruxelas, fui com uma amiga belga, ainda me lembro dela (minha amiga) insistindo para que minha irmã fosse ao show com a gente e nem posso escrever aqui a resposta dela, só digo que ela não foi e me pergunto se não tinha razão no final das contas.

Ok, eu gosto da voz dele, gosto de algumas composições, mas como é chaaato. Cruzes!

Fez calor em Curitiba a semana toda. Sim, às vezes faz calor aqui, com isso parece que fiquei mais cansada ainda. Foi tanto o meu cansaço que vou ao médico essa semana, vou fazer uns exames, ver se é normal se cansar tanto assim.

E dormi pouco também, o calor, o cansaço, a angústia...enfim, então revi alguns filmes, dentre eles Pulp Fiction, fazia muito tempo que eu tinha visto, tinha me esquecido daqueles diálogos deliciosos, do John Travolta que estava tão engraçado e gostei de rever a atriz portuguesa, Maria de Medeiros com aquele rosto interessante. Ela fez também o filme Henry and June, baseado nos diários de Anaïs Nin, faz o papel da própria Anaïs. Já a vi interpretar em francês (bastante), inglês e, claro, português.

Li pouco, nem conseguia me concentrar, continuo lendo
Los detectives Salvajes, me arrependi um pouco de ter tomado emprestado esse livro tão grande, agora me sinto obrigada a ler só ele (não costumo ler um livro só de cada vez) para terminar logo e devolver. Não quero mais livros emprestados, a não ser que sejam de no máximo 100 páginas. Não quero emprestado, mas aceito doações. Um amigo nosso doou, não para mim, para a escola, vários livros em francês e em português, títulos excelentes. Inspirada talvez por ele, uma de nossas alunas que foi professora de espanhol na UFPR doou também outros tantos em espanhol e em português, excelentes títulos também. Isso é ótimo, estou (eu ou a escola) sempre recebendo livros, se você também estiver com problemas de espaço aí no seu apartamento, se quiser se desfazer dos seus livros por qualquer razão que seja, já sabe.

Como sempre o cachorro quer o passeio dele, estivemos o dia inteiro fora, coitado, ficou só, não está acostumado, passa o tempo todo na escola, sempre tem alguém para acariciá-lo, para brincar com ele...Alguns dos nossos alunos (uns anjos!) chegam ao cúmulo de vir mais cedo para a aula para poder levá-lo para um passeio. Toda semana! Sim, porque se alguém o leva para passear UMA vez, a pessoa fica marcada, quando chega aqui o cachorro faz um escândalo. É um cão de sorte, não pode reclamar muito da vida, o problema é que neste exato momento está chovendo, pouco, mas está. Que fazer? Já sentiram o cheiro de cachorro molhado, não é nada agradável, nem mesmo para quem, como eu, adoro o bicho. Vou tentar dialogar com ele.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cecília Meireles




Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901. Foi criada pela avó, D. Jacinta Garcia. Seu pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe antes que ela completasse três anos.


Noturno


Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?

E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?


Que vale o pensamento humano,

esforçado e vencido,

na turbulência das horas?


Que valem a conversa apenas murmurada,

a erma ternura, os delicados adeuses?


Que valem as pálpebras da tímida esperança,

orvalhadas de trêmulo sal?


O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,

no profundo diagrama.


E o homem tão inutilmente pensante e pensado

só tem a tristeza para distingui-lo.


Porque havia nas úmidas paragens

animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:

grandes como pórticos, suaves como veludo,

mas sem lembranças históricas, sem compromissos de viver.


Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos

e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas

e na seda longa das crinas desfraldadas.


Mas a noite desmanchava-se no oriente,

cheia de flores amarelas e vermelhas.

E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,

erguiam no ar a vigorosa cabeça,

e começavam a puxar as imensas rodas do dia.


Ah! o despertar dos animais no vasto campo!

Este sair do sono, este continuar da vida!

O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

ao claro dia da humana vassalagem!




Cecília Meireles

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Guggenheim Museum, New York City

Bill Perlmutter


'A vida muda rápido, a vida muda num instante, você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente'.
....

Joan Didion em seu último livro, O Ano do Pensamento Mágico que eu ainda não li. Ainda.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Poema da sexta-feira

Death
(William Butler Yeats)

Nor dread nor hope attend
A dying animal;
A man awaits his end
Dreading and hoping all;
Many times he died,
Many times rose again.
A great man in his pride
Confronting murderous men
Casts derision upon
Supersession of breath;
He knows death to the bone -
Man has created death.

Morte
(Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)

Medo não tem, nem esperança,
Um animal a agonizar:
Aguarda um homem o seu fim,
Tudo a temer, tudo a esperar;
Já muitas vezes morreu ele,
As muitas vezes retornando.
Em seu orgulho, um grande homem,
Homens que matam enfrentando,
Sobre a substituição da vida
Atira um menosprezo forte;
Sabe ele a morte até os ossos
- Foi o homem quem criou a morte.

...

Fonte: Mundo de K.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Amsterdam
Richmond

domingo, 25 de outubro de 2009

Esperança para as vítimas de mutilação genital feminina

"Há alguma esperança para as vítimas de mutilação genital feminina – isto se você for cidadã de um país como a França ou os Estados Unidos. A Newsweek reporta o trabalho da Drª. Marci Bowers, que realiza operações reconstrutivas em mulheres que sofreram ablação do clitoris; 80% das mulheres que se submeteram à operação viram os seus sentimentos de prazer restaurados.

Continua aqui em Sexismo e Misoginia.
...
imagem: Fleur, Matisse.

My Baby Shot Me Down


....
Bang Bang…
My Baby Shot Me Down

Nancy Sinatra

I was five and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He would always win the fight

Bang bang
He shot me down, bang bang
I hit the ground , bang bang
That awful sound, bang bang
My baby shot me down

Seasons came and changed the time
When I grew up, I called him mine
He would always laugh and say
Remember when we used to play

Bang bang
I shot you down, bang bang
You hit the ground , bang bang
That awful sound, bang bang
I used to shoot you down

Music played and people sang…
Just for me the church bells rang…

Now he's gone I don't know why
And till this day some times I cry
He didn't even say goodbye
He didn't take the time to lie

Bang bang
He shot me down, bang bang
I hit the ground , bang bang
That awful sound, bang bang

sábado, 24 de outubro de 2009

O poema da sexta-feira

    TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Há anos eu dedicava muito tempo à internet, nos últimos meses a coisa mudou. Entro rapidamente, leio meus e-mails (muitas vezes ao dia, mas por pouco tempo), nem sempre respondo imediatamente o que me irrita um pouco, detesto pensar que 'devia' ter respondido a tal e tal e-mail. Resolvi relaxar...e, além disso, andei estressada e meio doente.

Os blogs também eu tenho lido menos, entro sempre nos mesmos, leio, raramente deixo comentários.

Televisão eu praticamente não assisto, não tenho cabo, não tenho nada, na verdade, nem rede globo eu sei achar ali. Trabalho até tarde e quando me sento prefiro ler ou ver um filme ou para a internet. Só vejo tv quando estou no sítio com minha família o que tem acontecido raramente, duas vezes por ano mais ou menos. Ah, algumas vezes vejo uma ou outra coisa na tv na academia, MTV ou Ana Maria Braga, dependendo do horário.

Neste momento estou lendo Roberto Bolaño, Los detectives Salvajes, meu primeiro livro do autor que foi emprestado por um amigo chileno. E soube, então, que Bolaño nasceu no Chile e foi para o México bem jovem, adolescente, acho. Eu pensava que ele fosse mexicano...não conheço nada dele, na verdade. Há milhares de coisas que quero ler, mas gosto de desviar de vez em quando do caminho que tracei e 'descobrir' coisas com os amigos, sobretudo quando temos algumas afinidades de leituras, como é o caso aqui com o chileno. Claro que algumas vezes dá tudo errado, um amigo que você adora garante que tal livro é bom, você lê e acha uma porcaria. Por isso eu escrevi 'afinidades de leitura'. Uma vez uma amiga, muito amiga mesmo, me indicou....well...Da Vinci Code. Acontece que o livro ainda não era conhecido, a gente vivia nos Estados Unidos e o livro estava começando a aparecer, essa minha amiga ainda me garantiu que valia a pena comprar o livro, nas primeiras linhas eu já senti que não era pra mim, felizmente eu consegui amortizar o valor empregado porque meu marido o leu durante uma viagem (em poucas horas) e outras pessoas acabaram lendo também, não tenho a mínima ideia onde o livro anda agora, não senti falta dele.

Enfim, o cachorro, como sempre está aqui reclamando o passeio dele, vou ter que ir.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o poema da sexta-feira

Dialética
 


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...


Vinícius de Moraes
19/10/13 - 09/07/80

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O poema da sexta-feira

Andorinha

Manuel Bandeira (nasceu em 19/04/1886)


Andorinha lá fora está dizendo:
— "Passei o dia à toa, à toa!"


Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eu também me pergunto porque não fecho logo este espaço ao invés de ficar aqui enrolando. Será que já deu o que tinha que dar? Pode ser. Pode ser também um cansaço momentaneo.
Ahn, você nem percebeu que eu me ausentei por vários dias? chiii...bem feito pra mim.
...
Bom, teve um acidente com perda total (só material), uma semana de dor disso e dor daquilo, noites mal dormidas, olheiras, burocracia, cadê o papel tal do carro, quem estava certo, quem estava errado, assine aqui, assine ali. Tudo isso já passou, só espero dormir muito, descansar, rir com os amigos e voilà.
...
Li L´élégance du hérisson (A elegância do ouriço), Muriel Barbery, assunto do momento na França e transformado em filme, estava entrando em cartaz em agosto, quando eu estava lá, não vi. Uma professora aqui da escola me emprestou o livro e, como era emprestado, li bem rapidinho. É a história de uma senhora que é zeladora em um prédio de ricos, apaixonada por literatura, passa o tempo tentando esconder a sua verdadeira natureza dos habitantes do prédio, prefere ser vista simplesmente como uma zeladora e ser deixada em paz com seus livros...até que um dia. A outra personagem é uma menina de 12 anos, moradora do prédio e muito inteligente, não se integra naquele ambiente e planeja se matar no dia dos seus 13 anos. Grosso modo é isto.
...
Li outras coisas também, vou me lembrar depois.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Poema da sexta-feira

Para fazer uma campina
basta um só trevo e uma abelha.
Trevo, abelha e fantasia.
Ou apenas fantasia
Faltando a abelha.

Emily Dickinson

Tradução de Idelma Ribeiro de Faria

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Poema da sexta-feira

A Frescura

Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que'eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

Álvaro de Campos