quinta-feira, 31 de maio de 2007

A Engrenagem

[Um conto antiguíííssimo para cobrir a minha falta de tempo. Logo volto.... Será?]

A Engrenagem

Cleide abriu os olhos, esticou os braços lentamente, jogou o lençol para o lado e, com os pés, procurou as chinelas havaianas que, àquela hora, já deveriam estar esperando pelo gesto. Andou a passos de tartaruga até o espelho sujo do banheiro e não ficou contente com o que viu. Por que teria que envelhecer? De que adiantava nascer se, com menos de quarenta anos, já começava a ficar velha? Merda. Grita pela filha e descarrega o desgosto. ‘Porque esse banheiro tá sujo desse jeito? O que é que você esteve fazendo que ainda não limpou isso? Você parece uma lesma. Onde estão os seus irmãos?’ Diabo de vida. Nascer, procriar, criar rugas. Marido? Era bom nem falar. Esse, nem para enfeite servia. E o médico vem lhe dizer que a razão de tanta dor de cabeça é que ela não está contente com a vida que leva. ‘E mesmo, doutor? O que mais o senhor tem para me contar?’ Então era para isso que a gente pagava médico, para nos dizer o óbvio? À puta que o pariu. Para isso passam cinco, seis, sete, sabe-se lá quantos anos na universidade? Não deixou por menos, disse-lhe poucas e boas.


Lavou o rosto, espalhou cuidadosamente o creme na pele, debaixo para cima como prescrevia a revista feminina. Olhou para os cabelos ralos - mas isso não era efeito dos anos, sempre foram assim- escovou-os mas de nada adiantava, não melhorava o efeito. Na raiz estavam completamente pretos e nas pontas, loiros. Um horror. Tocou delicadamente os cabelos e, num repente, tomou uma decisão corajosa, ou melhor, não tomou uma decisão, fez uma promessa, raparia a cabeça para que deus a ajudasse a conservar o que ainda lhe restava de juventude. Não ia ser fácil, mas faria isso. Seria alvo de atenção durante um mês pelo menos, mas não tinha importância, já estava acostumada a isso. A cidade era pequena demais, não tinham o que fazer, que falassem dela. ‘Kátia, o café tá pronto?’ Perguntou à filha. Tomou o café e foi dizendo que queria frango para o almoço e que a partir daquele momento não se comeria mais carne vermelha em casa pois lera que isso pode contribuir para o envelhecimento da pele. ‘Quando você quiser carne de porco ou vaca, vai na casa da sua avó. Explique isso aos seus irmãos.’ Kátia pensou em perguntar ‘ E o papai?’, mas não teve coragem. Cleide terminou o café, levantou-se, trocou de roupa, passou o batom e disse à filha. ‘Kátia, eu vou sair. Vai lá fora e vê se a jabiraca da Rita já tá na rua. Eu não tô com vontade de ver a cara dela hoje.’ Rita era a vizinha que no dia anterior viera lhe dizer que surpreendera Fernando, o seu filho de nove anos e Leandro, o filho de Cleide de dez anos atrás da casa experimentando ‘prazeres proibidos’. Palavras da vizinha. Explicara nervosamente o que vira, e dissera que seu filho seria severamente punido. Cleide nem respondeu, e nem precisava, todos a conheciam e sabiam que o filho podia esperar pelo pior. Foi até onde estava Leandro, no fundo do quintal, já esperando pela hora fatal. Ainda assim, quando viu a mãe se aproximar, tentou resistir. Ela gritou: ‘ Vem aqui agora ou vai ser pior...eu vou te arrancar o couro, seu moleque safado. Quanto mais você esperar mais vai aumentar a minha raiva e a sua vergonha porque eu vou gritar tanto que todo mundo vai ouvir. Eu não quero saber de viado nessa casa, ouviu? vem cá, agora.’ Além de arrancar-lhe o couro, como prometido, Cleide aplicou uma boa dose de pimenta nos órgãos genitais do pobre Leandro. ‘É de pequenino que se torce o pepino.’ Costumava dizer. Queria dar-lhe uma lição exemplar para que depois não dissessem que saira errado por sua culpa.


Kátia viera dizer que não vira a vizinha na rua. Cleide montou em sua velha bicicleta e percebeu que o sol já dominava cada canto descoberto. ‘Porcaria, tão cedo e já esse calor. Esse sol não é bom para a pele.’ Pensou. Quando chegou na esquina avistou Rita e mais três mulheres a conversar animadamente. ‘ Oi Cleide!’ Disseram em uníssono abanando as mãos. Cleide respondeu ao cumprimento sem sorrir. ‘Saco, ô mulherada à toa.’ Pedalou mais rápido e parou em frente à barbearia do Seu Zeca. ‘Oi, seu Zeca, tudo bem?’ ‘Tudo bem, Cleide, e a sua mãe, como vai?’ Nem perguntou pelo pai pois sabia que ele e a filha não se falavam há anos. ‘Vai bem, seu Zeca, eu vim aqui para o senhor rapar a minha cabeça.’ Disse-lhe sem mais. ‘Quê?’ Perguntou o pobre homem assustado. ‘Rapar a minha cabeça, seu Zeca. O senhor não é barbeiro? Pois então, por isso vim aqui. Quero no zero.’ Com os olhos assustados, seu Zeca lhe respondeu que aquilo ele não podia fazer. ‘Porque não pode? O senhor é barbeiro ou não é?’ Perguntou irritada. ‘Eu sou, minha filha, mas nunca rapei cabeça de mulher. Não posso, aqui é só pra homem.’ Afirmou com convicção. ‘Pois então, até logo, eu vou noutra freguesia.’ Pegou a bicicleta e saiu pedalando com raiva. Parou em frente à outra barbearia. ‘Seu Tito!’ Gritou da porta pois não viu ninguém no salao. O barbeiro gritou do bar, do outro lado da rua. ‘ Cleide, eu tô aqui. O que é que foi?’ Perguntou ele de longe. Sem coragem de explicar ao que viera assim na frente de todo mundo, ela fez, com a mao, um sinal para que ele se aproximasse. Ele atravessou a rua lentamente com um cigarro na boca. ‘Seu Tito, eu vim aqui para o senhor rapar a minha cabeça.’ ‘A sua?’ Perguntou atrapalhado o seu Tito. ‘A minha mesmo, seu Tito, quem mais o senhor tá vendo aqui?.’ ‘Ah, minha filha, a sua eu não posso.’ Diz ele. ‘E não pode porque?’ Insistiu ela. ‘É que... seu cabelo tá muito comprido, não dá para rapar.’ Tentou argumentar o barbeiro. ‘Ah é? Então espera aqui um pouquinho.’ Cleide voltou a sua casa e, diante do olhar assustado da filha, pegou a tesoura e cortou os cabelos. ‘Mãe, porque você está fazendo isso?’ Perguntou, timidamente, Kátia. ‘Não é da sua conta.’ Foi o que recebeu como resposta. Apresentou-se assim, com o cabelo tosado na frente do barbeiro que não encontrou outra desculpa. Vai rapando e reclamando. ‘Porque eu? Porque você não foi noutro barbeiro?’ ‘Eu fui mas o seu Zeca foi mais esperto que o senhor e disse que não cortava cabelo de mulher.’ Disse ela sorrindo. ‘É, foi mesmo, mas eu sou amigo do seu pai.’ ‘ Mas que medo todo mundo tem do meu pai, credo.’ Provocou Cleide. ‘ Não é medo não, minha filha, é respeito. Pelo menos não conta pra ele que fui que rapei a sua cabeça.’ ‘Eu não vou dizer, seu Tito, porque o senhor sabe que eu não converso com ele mas até parece que o senhor não mora nessa cidade. Na hora em que eu subir ali na minha bicicleta ele já vai estar sabendo’. ‘E verdade,’ concordou resignado ‘espero que ele não fique com raiva de mim’ ‘Não vai ficar não, seu Tito, ele me conhece.’Consolou ela. ‘Pronto, ai está, carequinha como você queria? Gostou?’ Perguntou o barbeiro mostrando-lhe o espelho. ‘Não gostei não, seu Tito, mas não é para gostar. Quanto foi?’ ‘Três reais.’ Respondeu ele. ‘Isso é o que o senhor cobra dos homens?’ ‘E claro.’ ‘Então devia cobrar mais barato de mim, eu sou mulher.’ ‘E porque, se isso só me traz mais chateação?’ ‘Ai, seu Tito, o senhor só faz reclamar.’ ‘Olha quem tá falando!’ ‘Bom, eu esqueci o dinheiro mas mando o Leandro trazer mais tarde.’ ‘Ah. O coitado já está andando?’ ‘Coitado por que? Eu também não deixei o menino aleijado, que exagero.’ ‘Você é muito brava com esses meninos, minha filha.’ ‘Eu sou brava, e o meu pai, o que era então?’ ‘Era bravo também, e você não vivia criticando ele? Agora faz pior.’ ‘Pior não. Bom, seu Tito, o papo tá muito bom mas eu vou andando, ou melhor, pedalando.’ Quando saiu do salão todos os homens pararam de falar e vieram à porta do boteco, ficaram olhando estarrecidos por um minuto, sem nada dizer. Cleide levantou a cabeça careca, pedalou a bicicleta e foi para casa. Finalmente um dos homens falou ‘Mas essa Cleide é mesmo maluca, coitado do Francisco e da Arlete, o que fizeram para merecer uma filha dessas?’ ‘Filho não é questão de merecimento, a gente põe no mundo e pronto, eles saem do jeito que saem, não é culpa da gente.’ Opinou outro. ‘Vai ver que foi promessa.’ Emendou mais um. ‘Ou piolho.’ Disse outro e se puseram a rir.


Cleide chegou em casa e correu para o espelho, olhou para a imagem refletida e não se reconheceu. ‘Que horror, meu Deus!’ Pensou e chorou. Despiu-se e, ainda chorando foi para debaixo da ducha, pegou o shampoo e, quando se lembrou de que não precisava mais dele, lançou-o com força ao chão. Sentiu uma estranha sensação ao passar as mãos na cabeça. ‘Bom, eu quis rapar e rapei, não se pensa mais nisso, cabelo cresce de novo e inclusive, dizem que cresce mais saudável.’ Analisou.


Às seis horas Kátia foi esperar pelo pai na esquina para preveni-lo. Ele entrou em casa e, furioso, perguntou a mulher ‘Cleide, você ficou louca?’ ‘Eu não fiquei louca, eu sou louca, não é o que todo mundo diz?’ ‘Porque é que você fez isso?’ ‘Não-é-da-sua-conta.’ ‘Não acredito, só faz matar a gente de vergonha.’ ‘Vergonha porque? Tá com vergonha de mim, é?’ ‘Tô, tô com vergonha sim, tô morrendo de vergonha de sair na rua e escutar as piadinhas.’ ‘E você se importa com que os outros dizem?’ ‘Eu me importo sim.’ ‘Então é problema seu, meu filho.’ Gritou ela e o deixou-o plantado ali na cozinha. Ele passou a mão no cabelo, sacudiu a cabeça e disse para si mesmo: ‘Porcaria!’ ‘Voce quer tomar banho, pai?’ Perguntou Kátia e foi buscar a sua roupa limpa. Ele entrou no banheiro e passou muito tempo debaixo da água fria. Vestiu a camisa branca que Kátia escolheu para ele, pegou a bíblia e, sem dizer nada, saiu para a igreja.


Que armação do destino a teria um dia a uniu a esse ser tão diferente dela? Cleide tentava se lembrar mas tudo parecia tão longe. A juventude veio-lhe à cabeça como uma coisa besta, apressada. Foi aí que ela pôs tudo a perder. E foi por iniciativa dela mesma, nem podia acusar o pobre diabo do marido. Ele teria esperado mais tempo, o casamento provavelmente, mas ela queria experimentar e tanto fez que conseguiu. Um dia, ao invés de ir ao curso noturno foi para um canto escuro, não muito longe da colégio. Aquilo doera, não era bem o que esperava mas, ainda assim, voltou outras vezes ao mesmo lugar. Não precisou ir muitas vezes para que a menstruação atrasasse e os problemas começassem. Desesperados marcaram o casamento para a primeira data disponível e o evento com que tanto sonhara passou a ser uma corrida contra o tempo, um nervosismo, um não poder falar do que todos sabem, indiscrições dos vizinhos, ‘Mas a mais nova é que vai se casar primeiro?’ ‘Mas já? Eu nunca ouvi você falando em casamento.’ . Agora ali estava sem cabelo, sem paciência, sem vontade de continuar. Algumas vezes pensara em acabar com tudo tomando uns remédios de matar rato. Quer dizer, remédio não, veneno, né. Aposentara de vez essa idéia. Não podia pois afinal tinha tido filhos e agora precisava ir em frente, por bem ou por mal. Além disso, dizem, era contra a lei de Deus e, embora não tivesse muita fé, tinha algum temor. Nem gostava de pensar muito nisso pois se perdia. Há muitos mistérios nessa vida, por exemplo, por que é que uns nasciam no Rio de Janeiro e outros nasciam ali? Nunca tinha visto uma praia assim ao vivo e a cores, só na televisão. Falando em Rio de Janeiro a novela já devia estar começando. Ligou a televisão, sentou-se no sofá. Ia ver todas, das seis, das sete, das oito, das dez, quantas tivesse e esperava que a mãe não aparecesse para lhe aborrecer por causa do cabelo.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Londres



Ja voltei para Bruxelas. Foram bons dias em Londres, aquela chuvinha tipica me obrigou a passar o domingo mais quieta do que eu pensava, além disso estava cansada. Mas foi tudo muito bom e nao tenho a minima ideia de quando voltarei a Londres de novo. Logo estarei no Brasil, de volta a Curitiba que neste exato momento esta mais fria do que Bruxelas.
Esperei um bom tempo na estaçao Waterloo em Londres pq o trem saiu com atraso de uma hora. Cheguei bem tarde em Bruxelas, pensei que talvez nem tivesse mais metrô. A minha irma mora bem pertinho da estaçao de trem, mas eu nao queria vir a pe tarde da noite e so, alem da quiquilharia que eu estava trazendo comigo.
Como disse alguém nos comentarios, Londres é uma delicia, mas é c a r a. Carissima. Um ticket de metrô (one way) 4 p. ou o dia todo, 5.70. So para dar uma ideia. Acho que ja é mais caro do que quando estive la da ultima vez. Embora eu nao tenha boa memoria para numeros. Outra coisa que é preciso evitar, absolutamente, converter em reais. Se a gente começar a fazer isso; toma o trem de volta....quer dizer, o aviao. O trem so vem até Bruxelas, ne? (no meu caso).
Acho que nunca li tantos livros num espaço tao curto de tempo, é uma das vantagens de se viajar so. Contando o atraso e o tempo normal de espera (metrô, aviao, trem, ônibus), ganhei muito tempo. Tempo de leitura, digo. A maior parte do que li foram os japoneses mesmo, sobretudo Tanizaki. Na verdade, alguns dos livros sao bem pequenos, pouco mais de 100 paginas. Agora estou terminando a leitura de um livro que eu ja estava, ha muito tempo, nos meus planos, o nome em português é Minha querida Sputnik, de Haruki Murakami. Depois vou tentar escrever um pouco sobre ele. Se alguém ja leu e quiser me enviar a opiniao eu vou achar legal.
Agora me voy pq minha irma esta preparando um belo espaguete al pesto.
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ps: os acentos...oh la la, culpa destes teclados. Alguns eu encontro, outros nao.
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domingo, 27 de maio de 2007

London London


Ja fiz muitas das coisas que queria nesta cidade, fui ao museu, comprei livros, bati pernas apesar da chuva fina. Andei so pela cidade. Andei andei andei, depois parei numa livraria perto de Trafalgar Square, tomei um cafe e comi um bolo de laranja olhando as pessoas la embaixo. Uma deliciosa solidao.
Estou no computador do meu primo e nao sei onde ele escondeu os acentos...
Terminei mais um livro de Tanizaki, Le chat, son maitre et ses deux maitresses (aqui tb faltam acentos)
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sexta-feira, 25 de maio de 2007

Londres


Estou na estação Midi de Bruxelas esperando o trem para Londres, sobraram alguns minutinhos e vim ver os e-mails. Infelizmente meus minutinhos ja estão se acabando e eu nao estou me entendendo bem com este teclado. Como mineiro nao perde o trem, lá vou eu...

terça-feira, 22 de maio de 2007

vida belga


É interessante, para mim pelo menos, ver este blog voltando a ser Cadernos da Bélgica. Não será por muito tempo.... Muitas vezes pensei em mudar o nome do meu cantinho já que este Bélgica aí não se justificava mais, foi ficando, foi ficando.

Ontem acompanhei minha irmã na visita ao pediatra, foi uma experiência cultural. Ela está morando em um bairro, por assim dizer, bem popular, na sala de espera havia muitas mães com o véu e outras tantas africanas com aquele monte de tecidos coloridos. Muito elegantes por sinal. Gosto daquele colorido todo e do modo como dispõem as roupas. Já não posso dizer o mesmo do véu, ainda que eu corra o risco de ser 'politicamente incorreta' ou coisa pior. Esse véu me cansa, acho que é pelo símbolo mesmo que ele ostenta.

(mais brasileiros entrando aqui no café internet...)

Voltando à consulta, o médico e enfermeira estavam observando o bebe e explicaram que ele está em ótima forma, só não estavam muito certos sobre um 'amarelo' que eles analisam nos olhos dos bebês e que não conseguem entender totalmente o do meu sobrinho porque a cor dele os confunde. Estão acostumados com bebes ou negros ou brancos e o meu sobrinho é uma bela duma mistura, mãe brasileira (que já é por si uma mistura daquelas) e pai ruandês (mãe ruandesa e pai pasquistanês). Minha irmã nunca facilitou a vida de ninguém. Eu não entendi bem essa história do olho, mas não deve haver nada de errado, o próprio médico disse que sao detalhes. Enfim, não sei se expliquei bem. Tanto médico quanto enfermeira foram muito atentos, sem pressa, prontos para todas as perguntas e fizeram esta observação de modo profissional mesmo e porque minha irmã é muita aberta também. Não é do tipo que melindrosa que ao menor comentário sai reclamando de racismo. Tenho certeza, eu também, de que não se tratava disso.

Depois fui à embaixada do Brasil (não escapei desta!) pedir algumas informações para minha irmã sobre o registro de nene, depois parei numa livraria (não um sebo desta vez) e encontrei os Tanizakis que eu queria, mas, retardada que sou, percebi que tinha só 5 € no bolso e tampouco tinha levado cartão. Esquecimento resultante da troca de bolsas. Bem, ainda achei um Tanizaki por 2 € em livro de bolso e depois volto para comprar os outros. imaginem que comprei um livro por 2€ e ainda ganhei um livro de brinde! Dessas coisas eu sinto falta no Brasil, outra coisa boa é quando os carros param para os pedestres. Como disse meu amigo cearense outro dia quando atravessávamos uma rua aqui: 'Acho isso um luxo!'

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domingo, 20 de maio de 2007

na vida boa...

Botei minhas roupas na máquina e vim dar uma espiada nos e-mails e blog. Andei muitos nestes últimos dias. De dia e de noite, batendo pernas. Ontem fui ao mercado das pulgas, depois caminhamos, eu, minha irmã, o companheiro dela e o bebe até a Grand Place, lá comemos pita e outras baguncinhas que minha irmã adora, depois passamos em mais alguns sebos e eu procurei mais Tanizaki. Não achei, mas achei Kawabata que me interessava muito também e consegui siar do sebo só com este livro. Minha irmã me vigiando porque eu já tinha feito umas extravagâncias no mercado, ia comprar uns cartões 'de arte' por 0,50 cada. Ia escolher uns 10 daí o cara me propôs a caixa toda por 20 €. Minha irmã, quando viu aquilo, queria quebrar a caixa na minha cabeça. Mas tudo terminou bem e ela até me ajudou a carregar. São lindos os cartões, pertencia a algum colecionador, estava tudo muito organizado, separado por artista, nacionalidade...
Muitas vezes, quando alguém morre, uma pessoa da família paga um proffisional para vir 'esvaziar' o porão, nem olham o que há ali, daí tudo o que a pessoa colecionou vai parar no mercado das pulgas ou no lixo. É triste, não? A gente vê até mesmo albuns de família. C'est la vie!
A noite fui jantar na casa de um amigo brasileiro e de lá saímos para a vida gay de Bruxelas. Tentarei contar depois, me diverti bastante.
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quinta-feira, 17 de maio de 2007

Leituras e releituras

O Manoel Carlos do Agreste sugeriu meu nome para participar de uma corrente. Correntes normalmente são chatas, essa é muito legal "se trata apenas de dizer que livro está na cabeceira, tecendo alguns comentários sobre o mesmo." (Copiei a explicação do blog dele). Falar de leituras é sempre bom, ele sabe que eu gosto, por isso deve ter me indicado. O livro que estava na cabeceira é este Le Coupeur de roseaux que eu tinha acabado de comprar e o li à noite mesmo, balançando o meu sobrinho até às 3 da manhã. O livro é bem pequeno, pouco mais de 100 páginas. De todos os livros que li de Tanizaki, uns seis ou sete, deste foi o que menos gostei. Isso não quer dizer que o livro seja ruim, os outros (Voragem, Le pied de Fumiko, journal d'un vieux fou, Naomi, As irmãs Makioka...) é que são muito bons. Nesse último que eu li, tem um cara que sai para apreciar a lua cheia numa determinada data que era muito propícia, ali, observando, ele encontra outro homem e este lhe conta a história de uma mulher linda que era amada por todos, quando fica viúva, sua própria irmã casa-se com uma homem só para permitir que ele fique perto de sua irmã que, tão bonita, não merecia viver na solidão a que a sua condição de viuva a obrigava. Tanizaki é um dos meus autores preferidos, muitos de seus livros jáo foram traduzidos para o português.
Indico:
Se eles vão fazer a tarefa deles, não sei.
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Hoje estou em Huy, nos confins da Bélgica. Na verdade nem é Huy, mas um vilarejo bem perto (tudo é perto na Bélgica), o nome do lugar é Marchin. Vim visitar minha família belga e durmo por aqui. Todo mundo jáo foi dormir e eu estou aproveitando do computador. Há aqui um novo cachorro, chama-se Oscar. É muito simpático. Hoje é feriado na Bélgica, mal me dei conta.
A família aqui está com um garoto brasileiro de intercâmbio, hoje é o último dia dele na casa, vai passar ainda seis meses em outro, tivemo um jantar 'especial' de despedida.
Amanhã de manhã tomo o trem para Liège para outra visita.
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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Turista em Bruxelas

Hoje fui à Grand Place e tirei muitas, muitas fotos, só nao consegui passar para o computador ainda. Ficaram boas. Parece. A Grand Place e arredores continua linda, mas alguns cantos de Bruxelas estao muito feinhos. Uma pessoa me disse no Brasil 'Você vai para a Bélgica, dizem que a Bélgica é um cartao postal'. Ih, nao é bem assim, infelizmente. Se você passar com turista, correr a Grand Place, as cidades de Bruges, Antuérpia, Gand....é possivel ver imagens de cartao postal e voltar encantado. Se a gente adentrar um pouco mais, a coisa muda de figura. Na verdade isso vale para quase todos os lugares. Até Paris tem seus cantinhos feios, Londres entao, nem se fala. Ainda assim sao lugares com muitos encantos.
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Ontem eu estava saindo de uma livraria, no centro da cidade e três pessoas, uma moça e dois rapazes africanos ou de origem africana, conversavam. Ele disse algo assim: '...porque você nao gosta dos franceses.' Ela respondeu: 'Nao é que eu nao goste dos franceses, les français c'est la merde'. Eu fiquei pensando se a frase fosse dita por um francês e no lugar de franceses fosse colocado 'os africanos'.
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terça-feira, 15 de maio de 2007

Liège

Hoje fui a um café internet, desses que simplesmente se apagam quando acaba o seu tempo. Eu, pateta que sou, me esqueci de prestar atenção ao tempo, fui escrevendo um post sobre minha estadia, sobre meu sobrinho, sobre rever Bruxelas depois de mais de um ano ausente e....quando estava no final, a tela foi desaparecendo. Não é o fim do mundo, nem fiquei muito nervosa. Quem mandou?
O sobrinho esta bem, chora bastante à noite. Ora quer seu alimento, ora atenção. No mais ele é muito bonzinho, é muito bom pega lo no colo. Fazia anos que eu não segurava uma criança assim. Ontem fiquei vendo um filme, um desenho, Kirikou et la sorcière, enquanto embalava o pequeno. A cabeça bem longe do trabalho, do Brasil, dos problemas...
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Muitos brasileiros em Bruxelas. Acabei de escutar português, escutei português também no metrô e nas ruas. Antigamente os brasileiros mal sabiam que a Bélgica existia.
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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Bélgica, sobrinho, cansaço....

Cheguei, conheci o pequeno, muito bonitinho, ainda pequeno, pouco mais de 3 kilos. Minha irmã está cansada, acorda muitas vezes durante a noite...Nem eu nem o marido dela podemos ajudar nesta tarefa. O garotinho é pequeno, mas é bem guloso.
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Já fui ao sebo e livrarias, já tenho mais de 20 livros, quase todos muito bons. Um, dois, três, quatro euros...Quem resiste? Comprei Marguerite Duras, Sartre, uns chineses que pareciam interessante, um coreano que parecia igualmente interesante e assim por diante.
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Hoje meu sobrinho fez sua primeira viagem de trem. Fomos almoçar na casa de amigos em Mons, fica a 45 minutos de Bru elas. Ele parece ter adorado a viagem, ficou bem quietinho, curtindo.
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Agora estou num café internet dos mais barangas, muito barulhento o lugar e o computador é sujo e desobediente, eu teclho A ele põe Q na tela, aquele Brue elas sem chis ali em cima não é por acaso, não tem tal letra aqui no teclado, quer dizer, tem, mas não adianta teclar nela. De modo que não é fácil, vou ter que parar por aqui, amanhã encontrarei lugar melhor para responder aos e-mails e tentar fazer um post mais decente que este para a minha meia dúzia de fiéis leitores.
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quarta-feira, 9 de maio de 2007

é amanhã....



Faz mais frio em Curitiba do que na Bélgica, acabei de verificar....

A mala ainda está lá aberta, vazia, mas já separei tudo o que vou levar.
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imagem: Brueguel

terça-feira, 8 de maio de 2007

Depois de amanhã...


E hoje não achei melhor imagem da Bélgica que esta....A corrida contra o relógio e contra a chuva de Curitiba não me deixa tempo para caprichar aqui neste cantinho.
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segunda-feira, 7 de maio de 2007

3 dias mais....


Mais 3 dias....4 para chegar lá.
Pelo menos já tenho meu passaporte novo.
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domingo, 6 de maio de 2007

baby

Confesso que estou muito ansiosa para ver meu sobrinho...ver fotos não é a mesma coisa. Na verdade nos deixa com mais vontade de vê-lo de perto. Claro que é melhor a foto que nada. O resto da família não tem a mesma sorte que eu, vão ter que esperar alguns meses quando minha irmã puder vir com o pequeno. Meu pai não entra nem em elevador, a não ser em casos extremos, prefere subri oito andares...num avião, então, jura que não põe os pés. Tem uma fobia terrível, não é frescura. Os outros da família ou não têm dinheiro ou não têm tempo, dois problemas bastante comuns.

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Ontem vi, finalmente, O Labirinto do Fauno. O filme é muito bem feito, os atores são ótimos, eu gosto muito de Maribel Verdu e a menininha que faz a protagonista, Ofélia, é cativante e linda. O filme deve merecer a fama. Mas também não é o melhor filme da década. Acho que eu ando muito chata para filmes ultimamente. O problema é que os comentários, os prêmios, tudo isso cria uma expectativa muito grande e a gente fica esperando o supra sumo ao invés de se contentar com um bom filme. Mas não perdi os meus 159 min. Longe disso.

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300



Eu também vui ver....Vivo comentendo estas gafes, está na cara que o filme é ruim e lá vou eu, acompanhando alguém ou para ver Rodrigo Santoro, sei lá. Como disse antes, eu ando chata para filmes, mas este quase todo mundo concorda comigo, é uma bela de uma porcaria. Chico Lopes explica tudo aqui neste artigo: "300" - O deleite da barbárie e o gozo da carnificina. Leiam no RoseLivros.
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sábado, 5 de maio de 2007

Cinco dias....

Arthur Rimbaud sur son lit à Bruxelles par Jef Rossman
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Mais cinco dias, ainda não comprei presentes para todo mundo, ainda nem pensei no que vou levar na mala. Pelo menos já tenho meu bilhete para São Paulo com umas cinco horas de antecedência...just in case. Dizem que mineiro não perde o trem, não vou me arriscar a chegar no último segundo. Prefiro ler no aeroporto do me estressar com a hora. Eu só me incomodo se a espera for muuuuito longa e muito além do que eu espero, do contrário levo comigo livros, revistas, música, arrumo um canto e nem vejo o tempo passar.
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quinta-feira, 3 de maio de 2007

Oito dias mais....


Só mais oito dias...
Hoje foi a odisséia do novo passaporte. Pelo menos aqui em Curitiba os funcionários eram todos simpáticos, sorridentes, relaxados e não estavam bêbados. Já passei por cada uma nesta de renovar passaporte. Inclusive no consulado em Bruxelas, uma dia uma funcionária começou a chorar na nossa frente depois de ter levado, também na nossa frente, uns 'coices' do colega. Era uma cena lamentável, um embaraço. Ficamos todos de olhos arregalados e depois levamos também uns coices do rapaz. Cruzes, eu me arrepiava só de pensar em ter que ir naquele consulado resolver coisas.
Aqui tudo terminou bem, ou vai terminar, na segunda quando eu estiver com o documento nas mãos.
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quarta-feira, 2 de maio de 2007

Bruxelas - Contagem regressiva

Mais nove dias....e ainda não tenho meu bilhete para São Paulo. Muita coisa por fazer ainda. Presentes para comprar é uma dessas coisas. Pouco tempo para escrever aqui e para deixar comentários nos blogs de vocês. Desculpem e obrigada por virem assim mesmo...
Pior, muito pior que tudo isso dito acima.... acabei de descobrir, meu passaporte brasileiro expirou em abril 2007. Seja o que Allah quiser.
Não, não gosto de cerveja, mas é um dos símbolos da Bélgica. Outro, o chocolate, é bem melhor.
A foto eu peguei do Lonely Planet.
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terça-feira, 1 de maio de 2007

Bruxelas

Contagem regressiva....dentro de 10 dias ponho meus pezinhos em Bruxelas e vejo a carinha do novo membro da família Silva Imana.
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imagem: Restaurante da rue des Bouchers (perto da Grand Place) - Bruxelas.
obs: Esta foto não é minha, tenho algumas aqui.
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Ossos do ofício

Um dia eu estava chegando aqui na escola e um rapaz já estava sentando conversando com a secretária...disse que queria uma tradução. Aproveitando que eu chegava ela me passou o 'caso' . Eu perguntei para 'quando' ele precisava da tal tradução...a resposta é quase sempre 'para ontem'. Esse foi pior, num certo sentido. Era para a semana seguinte. 'UM LIVRO'. Disse ele, do inglês para o português. Ok, existem livros e livros, então perguntei, 'quantas páginas tem este seu livro?' 'Mais ou menos seiscentas...', ele teve a audácia de responder. Perguntei, muito sinceramente, 'Você está brincando?'. 'Não'. Eu disse algo como, 'então é melhor você procurar uma equipe' e me retirei. Ou ele entrou aqui para curtir com a nossa cara ou era burro.