sexta-feira, 27 de março de 2009

O poema da sexta-feira

Noite morta


Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.


Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.


No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.


O córrego chora.
A voz da noite . . .


(Não desta noite, mas de outra maior.)

Manuel Bandeira

Petrópolis, 1921

quarta-feira, 25 de março de 2009


Morei perto desta praça por alguns anos, quer dizer, eles chamam isso de praça, muitos brasileiros estranham porque não tem bancos, nem árvores, está mais para uma rotatória. Tirei essa foto da minha janela, faz tempo, não é a vista mais linda do mundo, mas foram bons os anos que passei ali. Na primavera, a avenida que passa aí do lado ficava toda florida, bem rosa. Não sei que árvore era aquela, sou bem fraquinha nessas coisas.

Well, porque estou pensando em Bruxelas? Devo estar com saudades, não costumo tirar muito tempo para as saudades, mas pode ser que ela esteja rondando. Outra razão, minha irmã que ainda vive lá vem passar uns dias comigo, chega depois de amanhã com o sobrinho. Mal posso esperar. Na verdade a família toda está louca para ver o bambino que logo vai fazer dois anos. Essa é a minha irmã que a gente nunca acreditava que fosse ter filhos, na época da gravidez comentei aqui. Foi um choque, não porque ela fosse uma mocinha, tinha 39 anos, a surpresa foi ela ter decido 'ser mãe'. Enfim, é mãe e parece estar se saindo bem.

Estamos com outra francesa aqui em casa, trabalhando conosco na escola, amanhã ela já vai para sua Paris natal e agora vou a uma despedida que os alunos organizaram. Tem sempre gente chegando e gente partindo, minha casa parece uma estação. Por isso não posso me preocupar muito com saudades, fico contente de ter conhecido algumas pessoas e fico feliz se puder revê-las (a maioria, não todas que não sou madre Tereza), se não puder, c´est la vie! Valeu assim mesmo. Mas acho que essa francesa eu vou rever sim, em breve, porque ela 'invocou' que tem que voltar para...São Paulo. Estamos fazendo o possível para ajudar com o visto, já tirou até um CPF que é coisa fácil de se obter no Brasil, o resto vamos ver no que vai dar. Muita gente pensa que a coisa mais fácil para um gringo obter documentos para viver no Brasil. Não é.

Agora vou lá participar da despedida da demoiselle.

April Showers

sábado, 21 de março de 2009

Homossexualidade: luzes e sombras do poeta Federico García Lorca


MADRI (AFP) - Ignorada por muito tempo, evitada e até marginalizada, a homossexualidade do poeta espanhol Federico Garcia Lorca, fuzilado aos 38 anos por tropas franquistas, em agosto de 1936, é motivo de um estudo aprofundado por parte de seu biógrafo irlandês, Ian Gibson.


"Lorca e o mundo gay", da Editoria Planeta, que sairá à venda nesta quarta-feira, relata o "drama do grande poeta, ante a sociedade machista e intolerante" representada pela Espanha no começo do século XX, sobretudo sua Andaluzia natal.


Foi "muito difícil" para o autor de "Romancero gitano" (1928) "conviver com sua condição", explica o autor irlandês. "Temia ser tomado por um efeminado".


No entanto, "a obra de García Lorca, de alcance universal, não existiria sem sua condição de marginalizado sexual; sem sua identificação, profundamente cristã, com todos os que sofrem, com todos os que se sentem excluídos ou rejeitados", escreveu Gibson.
O biógrafo, conhecido por seus trabalhos sobre a morte do poeta e por ter contribuído para localizar a fossa comum onde repousava García Lorca na província de Granada (Andaluzia, sul) explica ter querido fazer um "livro de militância"; no qual fique claro e que "se sinta indignação com tendências (homófobas)", que se tornaram "uns dos componentes do assassinato de Lorca", explicou este irlandês de 69 anos, atualmente nacionalizado espanhol e residente em Madri.
O poeta foi fuzilado poucas semanas depois da insurreição franquista, em companhia de dois anarquistas e de um professor, entre as aldeias de Alfacar e de Víznar, a poucos quilômetros de Granada.


Um dos presumíveis assassinos vangloriou-se, em Granada, por ter-lhe dado dois tiros "por el culo, por maricón", segundo Gibson. A ditadura de Francisco Franco que se seguiu à Guerra Civil (1936-39) censurou por muito tempo sua obra e reprimiu os homossexuais.
Gibson abordou de maneira extensa as estadas do poeta em Madri, onde podia fugir do pensamento provinciano andaluz e manter seu "relacionamento muito importante, fundamental", com o pintor Salvador Dalí, além de suas viagens a Nova York e a Cuba.


Mas o trabalho investigativo também versa sobre um amor "impossível" de juventude com uma refinada adolescente da aristocracia de Córdoba, María Luisa Natera Ladrón de Guevara, uma "menina" de olhos azuis que tocava Chopin com perfeição, com suas mãos de porcelana sobre o piano.


"Não foi admirada com ênfase suficiente a valentia do poeta ante sua difícil condição sexual", conclui Gibson.

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yahoo notícias

sexta-feira, 20 de março de 2009

O poema da sexta-feira

Quem está morrendo, amor
precisa de tão pouco
um copo d'água o rosto discreto de uma flor
um leque talvez uma dor amiga
e a certeza que nenhuma cor do arco-íris perceba
quando embora for

Emily Dickinson

Tradução de Ana Cristina César

quarta-feira, 18 de março de 2009

Path in the Oaks II - Louisiana
Monty Nagler

sábado, 14 de março de 2009

Tanta coisa e nada

Curtindo preguiça. Mas só comecei mesmo com a preguiça há uns 15 minutos, durante a semana trabalhei pra caramba. Resolvi aproveitar o momento 'preguiça' e passar por aqui. Passeei por uns blogs, li a Folha, devia ir ler meu livro (tenho lido pouco), estou lendo Simone de Beauvoir, Les Mandarins, já disse isso aqui, mas é que estou indo a passo de tartaruga. Ainda por cima parei para ler aquele Travessuras da menina má(la), antes deste eu li O Deserto dos Tártaros, um livro maravilhoso, mas acho que não falei dele aqui. Preferi falar do livro que não gostei, vá entender. Acho que foi pelo seguinte, terminei O Deserto dos Tártaros durante minha viagem ao Chile, sem pensar peguei aquele Travessuras, quando terminei este último já estava em casa tranquila e resolvi comentar a leitura. Levei um bom tempo lendo O Deserto dos Tártaros porque as letrinhas eram muito pequenas e não dava para ler a qualquer momento, em qualquer lugar, como costumo fazer, tinha que ter boa iluminação. Isso nunca tinha me acontecido antes na vida, de sofrer por causa da fonte, às vezes era tão difícil que me dava medo de que problemas de vista viessem realmente a interferir nas minhas leituras. Eu sou bastante míope, uso ora lentes de contato, ora óculos, nunca tive muitas chateação com isso. Até um ano atrás mais ou menos. Primeiro apareceram, as tais moscas volantes, além da miopia, e astigmatismo que me acompanham há anos. Agora é a vez da presbiopia, ou seja, não vejo bem nem de longe, nem de perto, tenho que ficar procurando a distância certa. É coisa da idade, claro. Já consultei a oftalmologista, ela disse que ainda aguento um tempo sem aqueles óculos (bifocais no meu caso, se não me engano), mas não muuuuito tempo. Estou pensando seriamente em fazer a cirurgia. Digo 'seriamente' porque pensar por pensar eu já penso há muito tempo, mas sou muito covarde para cirurgias, tenho que pensar com calma e tranquilidade.
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Acabei de ler uma entrevista, ou melhor, partes dela porque não tive estômago para ler tudo, com o bispo de Olinda que reitera o que já disse antes:
"Estou com a minha consciência tranquila. Não podia prever essa reação em nível nacional e internacional, mas remorso sentiria se tivesse ficado em silêncio"
(...)Em primeiro lugar, nós temos de colocar essa questão no âmbito religioso. Acreditamos em Deus? É sim ou é não. E eu suponho que a grande maioria das pessoas acredita. E acreditar em Deus significa aceitar que Deus é a origem de tudo e é também o nosso fim.
Esse é o Deus dele que, felizmente, muitos católicos rejeitam e mostraram isso agora, outros infelizmente preferem aceitar este deus cruel do que ter um pouco de compaixão por uma pobre garota de 9 anos vítima de abuso desde os seis. Uma crueldade sem limites.

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Meu irmão está na França, em Villefranche de Conflent, na casa da Violaine, aquela com quem viajei para o Chile...Villefranche de Conflent é aquele vilarejo de pouco mais de 200 pessoas, lembram-se? Então, meu irmão me escreveu agora dizendo que o pai de Violaine disse "Espere aí que vou ali pegar uma coisa" (disse em francês, evidentemente, os franceses não são lá muito fortes em línguas) e voltou com um disco de Benito di Paula. Meu irmão quase morreu de rir. É realmente inusitado encontrar isso num vilarejo do sul da França, muitos brasileiros mais jovens não devem nem se lembrar de Benito di Paula.
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Quem sabe um cinema agora...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Um arcebispo mais ou menos

Contardo Calligaris
Lula se expressou numa ordem perfeita: ele é (primeiro) cristão e (segundo) católico
NA SEMANA passada, no Recife, descobriu-se que uma menina de nove anos estava grávida de gêmeos. A mãe imaginava que a barriga crescente fosse o efeito de um parasito. Mas não era um parasito; era o padrasto, que abusava regularmente a menina e a irmã (de 14 anos, portadora de uma deficiência mental). O abuso começou quando as crianças tinham, respectivamente, seis e 11 anos.
O padrasto foi preso, e uma equipe médica, autorizada pela mãe, interrompeu a gravidez da menina, seguindo a lei brasileira, que permite a interrupção de gravidez em caso de risco de vida para a mãe e também em caso de estupro. Quem conhece alguma menina de nove anos pode facilmente imaginar o que significaria submeter aquele corpo a uma gravidez completa e a um parto duplo.Além disso, qualquer um pode intuir que carregar na barriga, parir e "maternar" o fruto de um estupro é devastador para a mãe assim como para os eventuais rebentos dessa catástrofe. Alguém dirá: "Mas a mulher acabará esquecendo o estuprador (que foi gentil, nem a matou, não é?), e o sentimento materno prevalecerá". Esse conto de fada (machista) não se aplica no caso da menina de Recife.

Continua aqui: Caminhar

O poema da sexta-feira

Haicai


a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

Paulo Leminski

quarta-feira, 11 de março de 2009


Henri Silberman

terça-feira, 10 de março de 2009

Simpsons perdem a casa por causa da crise financeira nos EUA


Folha de São Paulo

09/03/2009 - 17h52


A família Simpson perdeu sua casa por falta de pagamento da hipoteca, de acordo com o último episódio da série exibido nos Estados Unidos, uma paródia da crise econômica no país causada pelos financiamentos "subprime" (de clientes de maior risco) de imóveis e do drama vivido atualmente por milhares de pessoas na nação.


Continua aqui.

sábado, 7 de março de 2009

Travesuras de la niña mala


Acabei de ler Travesuras de la niña mala, um dos livros que comprei no Chile, mais especificamente em Viña del Mar, num dos dias de muito calor em que nos refugiamos numa livraria. Quer dizer, eu me refugiei porque a minha amiga francesa não tinha problema nenhum com o calor.

Não gostei do livro, já no começo eu tive uma certa intuição de que não era para mim, mas continuei, li até o fim, li a última página neste instante. Continuei porque continuei, sem pensar muito e talvez porque o livro, bem o mal, desperta a curiosidade do leitor. Já é um trunfo, mas não pretendo reler nunca e vai demorar até que eu abra de novo um livro de Vargas Llosa. Não estou afirmando que seja ruim, estou afirmando que eu não gostei. Há autores bons de que não gostamos. Fazer o quê? O pior é que esse é o primeiro livro que leio de Vargas Llosa.

A personagem principal do livro, a tal Menina Má (por mim poderiam ter traduzido como 'menina mala' mesmo, é isso que ela é)é antipática do começo ao fim, só em duas passagens o leitor pode sentir alguma compaixão por ela, quando ela fica doente. Ela é fria, calculista, uma espécie de prostuta de luxo, se prostitui através de casamentos ricos. O outro personagem, o que conta a história e que é chamado de Niño bueno é o gato e sapato dela. É admirável tanta dedicação e tanta passividade.

De qualquer modo isto é só o enredo, poderia até dar uma história interessante. Junichiro Tanizaki já escreveu história semelhante em Noemi, mas é mil vezes melhor a sua forma de contar, isso muda tudo.
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Semana cansativa e quente.

Revi um filme de B. Betolucci, O céu que nos protege, baseado em romance de Paul Bowles (1910-1999). É um filme interessante, basta ver a primeira (ou uma das primeiras) fala do filme:

Turner: Somos os primeiros turistas desde a guerra.

Kit: Somos viajantes, não turistas.

Turner: Qual a diferença?

Port: O turista pensa em voltar para casa assim que chega.

Kit: E o viajante pode nem voltar.

Esse "pode nem voltar" é significativo, não só no filme, mas para todo viajante.


quarta-feira, 4 de março de 2009

Jesus todo poderoso, ajude que hoje faça menos calor que ontem. Só isso, merci beaucoup.
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A luz que surgiu por trás da colina, este é o blog do pessoal, meu irmão é um deles, que está fazendo o documentário de que já falei aqui antes. Eu os encontrei no Chile, estavam filmando uma parte lá porque o Afonso, o personagem, vamos dizer assim, do documentário viveu lá durante um período. Aquele período até o golpe do Pinochet, claro. Agora estão na Alemanha que foi onde Afonso se exilou. Aí no blog cada um fala um pouco das cidades por onde têm passado, dos sentimentos, memória, pessoas que encontram, impressões.
"O nome Colina tem sentido metafórico no título do documentário, dando a idéia de trazer a luz por trás de algo que a esconde, mas na verdade é a sigla do Comando da Libertação Nacional, do qual Afonso Lana fez parte.O Colina foi a organização brasileira de esquerda que combateu o regime militar a partir de 1964, com o objetivo de instalar um estado de inspiração soviética no Brasil. "

domingo, 1 de março de 2009

Henri Cartier Bresson