sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Poema da sexta-feira

Tecendo a Manhã


1


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

(A Educação pela Pedra)

Um comentário:

Nina disse...

Que lindo blog para quem ama a escrita, Leila!
Encantei-me com os links, os posts, as imagens.
Um 2010 esplendoroso!
Vc tem notícias de Vera e Marcelo?
Bj
Nina