domingo, 31 de maio de 2009

Livro de Cristovão Tezza é proibido em escolas de Santa Catarina

Mais de 130 mil exemplares do romance Aventura Provisória foram recolhidos

A Gerência Regional de Educação da Região Carbonífera, no Sul de Santa Catarina, concluiu nesta semana o recolhimento de 6.236 exemplares da obra Aventuras Provisórias, do autor catarinense Cristovão Tezza. Em todo o Estado, foram recolhidos mais de 130 mil exemplares.

A determinação partiu da Secretaria de Estado da Educação há cerca de duas semanas. O motivo teria sido o uso de palavras inadequadas, segundo avaliação de professores que tiveram acesso ao título antes da distribuição aos alunos do ensino médio da rede estadual. O conteúdo descreve, por exemplo, trechos de relações sexuais (leia trecho abaixo).

Segundo nota divulgada nesta quinta-feira, pela secretaria, a "aquisição (dos livros) deu-se pelo processo licitatório nº 088/08 ao custo unitário de R$ 11,75".

Continua aqui.
...
Eu não li o livro em questão, mas não importa, acho de uma ingenuidade enorme, senão burrice, o que essas professoras (infelizmente só vi nome de mulheres ali) estão fazendo. Os alunos para quem os livros seriam destinados estão na faixa dos 14 aos 18 anos....ora, por favor. Honestamente não sei o que se passa na cabeça dessas pessoas, o que será que esperam dos alunos? E o que é literatura para esses professores? Querem oferecer aos alunos um manual de boas maneiras?
Leiam aqui:

"— O vocabulário é exagerado e essas palavras queremos extingui-las da boca dos alunos, banir do ambiente escolar. O aluno não está preparado para receber esse conteúdo — avalia Maria Gorete.
"

Julgam um livro pelo número de palavrões e descrições eróticas que não devem ser novidade nenhuma para as supostas 'crianças'. Não é com professores assim que os alunos vão aprender a gostar de ler, isso é certo. Mas eu conheço um pouco o gênero, já trabalhei em escolas assim, nem tinha saído da universidade ainda quando fui dar aulas de português - durou dois meses - em uma escola do estado que tinha uma equipe deste naipe. A coordenadora me odiava, nunca entendi bem o porquê. Os alunos, em compensação me adoravam. Eu me lembro da hipocrisia das professoras, na sala dos professores contavam coisas escabrosas e na frente dos alunos pareciam umas carolas. Não digo que deviam fazer confidências aos alunos, mas não achava aquela postura coerente, era muito fingimento, aquela coisa do 'faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço'.
Bom, o Cristovão Tezza não saiu sapateando, foi super elegante, preferiu ficar neutro e disse que os professores devem decidir se adotam seu livro ou não. O que ele pode fazer?

Só sei de uma coisa, agora estou com vontade de ler este livro....já que passei dos 18 acho que posso.

6 comentários:

Gilberto G. Pereira disse...

Muito boa esta postagem, Leila, muito bons seus comentários sobre o texto. Literatura é transgressão, nem sempre pelo viés do obsceno ou da violência, claro. Mas, será que essas professoras não se dão conta disso? É claro também que não vão dar aos alunos dessa idade Filosofia na alcova ou Os 120 dias de Sodoma, né. Mas será que o livro de Tezza é tão obsceno assim?
Grande abraço!

Sonia Sant'Anna disse...

Li um trecho do livro num jornal, em que se descreve o personagem arrancando com os dentes a calcinha de uma mulher, depois lambendo-a; do restante do trecho não me lembro. Às vezes temos medo de parecer antiquados e de dizer o que pensamos, mas não me parece muito adequado para colegiais - ainda mais para ser discutido em classe - um livro que deve ter outras descrições vívidas de sexo. E temos que lembrar que as famílias dos alunos vêm de ambientes diversos. Um pastor protestante, por exemplo, tem o direito de educar seus filhos de acordo com sua religião. Algumas alunas também podem não se sentir à vontade - lembremo-nos de que o Brasil não é só Rio e S. Paulo - existem cidadezinhas do interior em que os costumes são outros. Se existe literatura excelente sem esse tipo de descrição, essa seria mais apropriada para colégios.

Allan Robert P. J. disse...

Não li o livro, não sei se quem o escolheu para o currículo escolar o fez pela qualidade do texto ou por provocação, mas censura é algo que ainda me deixa arrepiado. :/

Sonia Sant'Anna disse...

Nem sempre se trata de censura (esta é sempre abominável), mas de adequação às diferentes idades.

Laura_Diz disse...

Aqui:
"— A tua grande fraqueza — me disse Mara na cama, a primeira vez, quando eu broxei vergonhosamente mesmo depois de baixar a calcinha dela com os dentes e chupá-la como um pêssego maduro, na boca um gostinho de sal molhado — é que teu orgulho te castra. Disfarçadamente, você exige que todos te dêem atenção, te bajulem, te achem o máximo. Se alguém recusa o jogo, mesmo sem maldade, como eu (e olhe, eu gosto muito de você, você é sensível), você entra em pane e fecha a Couraça."
Esta ai um trecho.
Leila, eu penso que não é mto adequado para uma escola adotar, como a Sônia disse, nem todos os pais gostariam que os filhos de 14 anos lessem algo neste teor- e vc sabe qu eeu sou das que gosta de escrver pesado, mas sei não... estou tio Caetano, sim e não.
bj Laura

Jaciara da Silva disse...

Sou professora do ensino médio e garanto a vocês que o livro está adequado sim para os alunos. Li o livro na íntegra, não podemos justificar nossa opinião se apenas lemos um trecho. Inadequada é a postura de muitos educadores que negam ou ignoram nossa realidade social e perdem a chance de fazer um ótimo trabalho com os alunos. Em uma pesquisa que fiz com minhas turmas, constatei 80% deles têm acesso diário a sites pornográficos. A função da escola é ensinar o aluno a questionar essa realidade em vez de fingir que isso não acontece. Considero que o livro é muito profícuo para levantar tais questionamentos. Uma sociedade de ignorantes é também uma sociedade perigosa. A decisão foi arbitrária, pois a maioria dos professores não teve acesso aos livros.