[Eu gostei muito desta entrevista, sobretudo desta parte que transcrevo. Se alguém quiser ler o restante é só ir aqui.]
PLAYBOY - Você escreve bastante sobre o Brasil e os brasileiros. Para você, quais são as principais características da sociedade brasileira?
Contardo - O Brasil é uma sociedade ao mesmo tempo moderna e arcaica. Por um lado, somos extremamente modernos, porque a diferença social se dá por meio da riqueza e do consumo. Por outro, essa diferença social é vivida como se fosse uma diferença de casta. Depois de uns cinco anos vivendo no Brasil — e o Brasil pega na gente —, fui a Paris visitar meu filho. Estava num café e queria fazer um pedido. Então, levantei o meu braço e estalei os dedos. O garçom ouviu o barulho e, completamente paralisado, perguntou: “Você está falando comigo?” Eu me dei conta de que estava fazendo um troço completamente inaceitável. O cara ia me dar um soco, me mandar à puta que o pariu e o dono do café ia lhe dar razão. Mas, no Brasil, isso é normal. As pessoas se prevalecem dos apetrechos de seu sucesso narcisista para tratar os outros como escravos. É como se quisessem perpetuar uma ordem que não existe mais.
PLAYBOY - Você acha que é assim que os brasileiros são vistos lá fora: como uma sociedade arcaica e atrasada?
Contardo - Não. Mas, apesar dos esforços de modernização do Brasil, o país ainda é visto, sobretudo, como um sonho exótico. E é difícil ser visto como exótico, porque o exotismo é a face legal do racismo, por assim dizer. A vergonha desse exotismo é, certamente, uma face da identidade nacional.
PLAYBOY - Você é imigrante e teve muitos pacientes brasileiros que emigraram para os EUA. O que eles podem ensinar a nós que ficamos no Brasil?
Contardo - A conclusão a que a gente chega é que ninguém deveria nunca viajar. Quem começa a viajar — e não estou falando em passar férias, mas em se transplantar — não tem motivo para parar. A dúvida entre a continuação da viagem e o retorno se torna uma parte constante de sua vida. Em minhas viagens entre Nova York e São Paulo, conversei com diversos brasileiros que estavam sendo deportados para o Brasil e, curiosamente, se sentiam completamente aliviados. Não que eles quisessem ir embora dos Estados Unidos, mas estavam aliviados que a decisão tinha sido tomada por terceiros.
PLAYBOY - Você escreve bastante sobre o Brasil e os brasileiros. Para você, quais são as principais características da sociedade brasileira?
Contardo - O Brasil é uma sociedade ao mesmo tempo moderna e arcaica. Por um lado, somos extremamente modernos, porque a diferença social se dá por meio da riqueza e do consumo. Por outro, essa diferença social é vivida como se fosse uma diferença de casta. Depois de uns cinco anos vivendo no Brasil — e o Brasil pega na gente —, fui a Paris visitar meu filho. Estava num café e queria fazer um pedido. Então, levantei o meu braço e estalei os dedos. O garçom ouviu o barulho e, completamente paralisado, perguntou: “Você está falando comigo?” Eu me dei conta de que estava fazendo um troço completamente inaceitável. O cara ia me dar um soco, me mandar à puta que o pariu e o dono do café ia lhe dar razão. Mas, no Brasil, isso é normal. As pessoas se prevalecem dos apetrechos de seu sucesso narcisista para tratar os outros como escravos. É como se quisessem perpetuar uma ordem que não existe mais.
PLAYBOY - Você acha que é assim que os brasileiros são vistos lá fora: como uma sociedade arcaica e atrasada?
Contardo - Não. Mas, apesar dos esforços de modernização do Brasil, o país ainda é visto, sobretudo, como um sonho exótico. E é difícil ser visto como exótico, porque o exotismo é a face legal do racismo, por assim dizer. A vergonha desse exotismo é, certamente, uma face da identidade nacional.
PLAYBOY - Você é imigrante e teve muitos pacientes brasileiros que emigraram para os EUA. O que eles podem ensinar a nós que ficamos no Brasil?
Contardo - A conclusão a que a gente chega é que ninguém deveria nunca viajar. Quem começa a viajar — e não estou falando em passar férias, mas em se transplantar — não tem motivo para parar. A dúvida entre a continuação da viagem e o retorno se torna uma parte constante de sua vida. Em minhas viagens entre Nova York e São Paulo, conversei com diversos brasileiros que estavam sendo deportados para o Brasil e, curiosamente, se sentiam completamente aliviados. Não que eles quisessem ir embora dos Estados Unidos, mas estavam aliviados que a decisão tinha sido tomada por terceiros.
6 comentários:
Ele fala muito claramente do racismo... faltou o machismo!
Foi um choque com os anos fora do Brasil me dar conta que nao era "normal" tantas artistas sérias, que sao exemplo para as meninas, posarem em revista de mulher pelada!
Também estou de acordo com a "maldiçao" do viajante: um dia descubri que aqui sinto saudades do Brasil e no Brasil morreria de saudades daqui!!!
(seu blog é muito legal!) bjs Mariana
http://aquinameuse.blogspot.com
Contardo é uma grande figura, extremamente inteligente e simpático. Ainda tenho guardada uma revista Primeira Leitura onde ele era a capa, a entrevista também é demais.
Por acaso você sabe se ele tem algum livro publicado?
Beijos
A leitura que ele faz do "ser em trânsito" é perfeita, ao menos para mim...
Leila.
Posso me meter na conversa?
Eu tb gosto mto desta entrevista, ele está solto.
Fernando, ele tem uns 6 livros- eu li 4, o último está sendo lançado agora e se chama: "O conto do amor", um romance.
É um bom livro, prende sua atenção.
'Terra de ninguém' é uma coleção de artigos publicados na Folha, mto bom. 'Carta a um jovem terapeuta' o nome diz o que é. Li outro sobre adolescentes que saiu pela Folha, é bom, básico p quem trabalha com adolescentes ou tem filhos. Tem outro que é 'Hello Brazil", não sei se com z ou s.Não li este. Tem um outro que um amigo gosta mto 'Crônicas do Individualismo Cotidiano' e mais uns.
Vejam aqui:
http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=contardo+calligaris++livros&btnG=Pesquisar&meta=
eusou fã dele faz anos, por isso acompanho. O "Café filosófico" "o amor se aprende amando" onde ele fez uma paletra e foi curador, foi excelente, tem p vender por ai. Comprei e não me arrependo.
http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=contardo+calligaris++livro+terra+de+ningu%C3%A9m+&btnG=Pesquisar&meta=
http://lauravive.blogspot.com/2006/07/o-amor-uma-coisa-que-se-aprende.html
Sorry pela intromissão. Não resisti.
Bjs Laura
Obrigado Laura!
Sempre leio o Contardo lá no seu blog.
Obrigado Laura!
Sempre leio o Contardo lá no seu blog.
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