domingo, 7 de fevereiro de 2010

Persépolis



Assisti ontem este filme de animação baseado no livro (HQ) de Marjane Satrapi, na verdade esta adaptação para o cinema é também dela em colaboração com Vincent Parronnaud. Infelizmente ainda não tenho o livro, já o namorei várias vezes nas livrarias, mas nunca comprei.

Este filme foi um presente (assim como muitos outros filmes e livros e caixinhas e....) dos meus amigos Leo e Dani que partiram ontem para a vida de imigrante no Quebec. E foi triste a despedida. Trabalho ingrato o meu, tenho que preparar os alunos para imigrarem, torcer para que tudo dê certo, fazer da melhor forma o meu trabalho, daí, dá sempre certo (felizmente) e então, nesse processo todo já partilhamos tantas angústias, incertezas, certezas que, na maior parte dos casos, ficamos amigos e aí é hora de dizer 'Au revoir!'. Mas é assim mesmo, c´est la vie, felizmente o mundo está pequeno e sempre nos encontramos em algum lugar deste planeta, senão aqui, no skype. Eu mesma já mudei tanto, já me despedi tantas vezes, já parti sem despedida...

Voltando a Persépolis, o filme é lindo, engraçado, triste, instrutivo, ou seja, imperdível. O filme que é autobiográfico começa em Teerã, em 1978, quando Marjane tem 8 anos, é uma menina sapeca, curiosíssima, inteligente e que tem a sorte de ter pais modernos e cultos. Era ainda a época do Xá (mesma época de outro livro que comentei aqui, Lendo Lolita em Teerã e aqui) que logo foi substituída pelos aiatolás. Os iranianos ficaram completamente perdidos, passaram da euforia, otimismo com a queda do Xá ao desânimo e terror, foi quando começou para as mulheres, até para uma menina de 10 anos como era agora a Marjane, a obrigação do uso do véu. Dá muita pena ver o povo iraniano entre um crápula e outro e não adianta dizer que todo mundo tem o governo que merece, há alguma coisa muito errada nisso, não merecem não.
Marjane torna-se um problema para os pais porque não tem papas na língua, questiona a professora, encara os filhos dos torturadores que encontra na rua e assim vai, a mãe fica desesperada porque sabe dos riscos desse tipo de atitude naquele contexto, enviam a menina de (se não me engano) 14 anos para Viena, vai sozinha para estudar e viver sua adolescência como pode. Algum tempo depois volta, casa-se, descasa-se e vai para Paris onde torna-se essa pessoa famosa que é hoje.
Contei quase tudo, mas vale a pena ver. Na verdade ainda não falei de muita coisa, da avó de Marjane, por exemplo, um personagem hiper importante na história e na vida dela...e é muito engraçada essa avó. Adorei quando Marjane vem desesperada, chorando, contar para ela que está vivendo uma tragédia, o seu casamento está acabado e a avó 'Mas é só isso? Que susto, eu tenho problemas cardíacos...' enfim, a avó mostra para ela que não é assim tão dramático o divórcio depois de um ano de casamento, pior seria ser obrigada e levar um casamento fracassado o resto da vida. Numa parte importante do filme em que Marjane, para se safar dos controladores da moral e bons costumes (verificam se o véu está bem colocado, se as meninas não estão maquiadas e todas essas besteiras) ela , que estava maquiada, chama a atenção deles para um rapaz que estava tranquilo lendo o seu jornal, ela conta, e é verdade, que o rapaz tinha dado uma encarada nela, os policiais levam o rapaz preso. A avó, ao ouvir a história fica muito brava com ela, dizendo que ela não podia ter enviado o rapaz assim para a prisão, que ela sabia o que o avó tinha passado na prisão, e o tio e tanta gente...Marjane diz então que ela não tinha escolha, a avó responde:
"todo mundo tem uma escolha. há sempre uma escolha."


O filme recebeu vários prêmios na Europa, concorreu ao Oscar e perdeu para Ratatouille.

.....



3 comentários:

Mauro Castro disse...

O último filme que assisti no cinema foi Dick Trace...oremos.
Há braços!!

heyo disse...

Olá!
Já faz um tempo que eu acompanho este blog, tem posts bem legais. Percebi que não só se fala de literatura como também de hq's (inclusive Gen!)
Tem algo sobre Jacques Prévert?
Parabéns, o blog é otimo
Tenha um ótimo feriado
Roberta

Unknown disse...

Por favor, nao deixe de ler o livro. eu o tenho e li ja faz algum tempo, mas eh sensacional. no livro ela trata com mais profundidade temas apresentados no filme, que eu adorei igualmente.
se ler o livro me diga o que achou, certo? o livro eu ganhei de presente de um primo.
abracos,
Kalina