Quando estava em Londres, na casa de minha prima, em maio deste ano aconteceu a seguinte situação: Eu estava descansando no sofá e peguei uma revista da comunidade brasileira para folhear, tinha lá um artigo sobre Niemeyer e eu disse a minha prima, ‘Você viu que Oscar Niemeyer faz 100 anos este ano?’ E ela: ‘Quem?’ Pensei que ela não tivesse ouvido direito e repeti o nome. Ela: ‘Oscar o quê?’Eu, de olhos arregalados, repeti mais uma vez e ela: ‘Oscar Meyer?” Repeti cada sílaba do ‘Niemeyer’. Ela disse, muito tranqüila: ‘Não conheço!’ Eu: ‘Você está brincando?’ Ela é uma dessas pessoas que não têm o menor pudor em declarar ignorância e repetiu, dando de ombros, que não sabia ora! Quem era ele, afinal? Eu, muito petulante, disse que alguém formado em Geografia (ela é, com especialização e um mestrado em outra área, na Inglaterra) não podia se dar ao luxo de ‘não saber’ quem era ele, que até meus amigos belgas sabiam muito bem. Criou-se um pequeno atrito, depois passou, quando o marido dela, um inglês, chegou em casa, perguntei se ela ficaria chateada se eu perguntasse a ele se sabia quem era Oscar Niemeyer. Ela disse que não tinha problema. Uma das qualidades dela é que não guarda raiva. O marido não sabia. Ainda passa, é inglês e não é dos mais informados (Deus todo poderoso, Allah, Buda, Ganesha, etc, fazei com que minha prima não leia este post!). Mais tarde ela mesma tomou a iniciativa de perguntar ao irmão dela que nunca passou na porta de uma universidade, se ele sabia quem era o dito arquiteto. Ele disse: ‘Claro, ele fez isso e aquilo, Brasília etc e tal....ah, faz 100 anos este ano, não é?’ E por sua vez passou um sabão na irmã. Foi só então que ela mostrou um certo constrangimento e disse: ‘Ah, decerto que eu sabia e esqueci.’
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imagem: Museu Oscar Niemeyer, também conhecido como Museu do Olho. Curitiba.
8 comentários:
Juraaaa?
Nossa!
nossa! acho que nasci sabendo quem ele era.
Se a gente pensar na nossa propria vida e nessa era de informação ( over....), é realmente muito estranho. Mas, por outro lado, por que ela teria obrigação de saber??? Possivelmente já tinha ouvido sim falar dele, mas não julgou importante o suficiente para guardar na memória. Experimente perguntar sobre Pereira Passos.... Tudo é sempre uma questão de referencial....
Acho que quando se trata de uma personalidade que já não está entre nós é mais fácil (e até compreensível) não saber de quem se trata — ainda que, dependendo da personalidade em questão e de seu legado, isso não seja justificativa. Porém, quando se trata de alguém tão relevante para o Brasil (e também para o mundo), alguém que ainda está vivo, e prestes a completar 100 anos, realmente é de se admirar tal "desconhecimento" — ainda mais levando-se em conta o grau de instrução de sua prima. Em todo caso, graças a você e seu espanto, agora ela já sabe muito bem de quem se trata o tal Oscar. Sinal de que nunca é tarde para se informar — ainda mais nos tempos de hoje, quando o irrelevante parece ter total prioridade sobre todos os outros assuntos.
Oiê, oiê... :]
Esta até eu acertaria, pois já estive na casa dele e no escritório, algumas vezes.
É verdade que não é obrigação de ninguém saber tudo aquilo que nós julgamos saber, pois é um equívoco supor que o mundo seria bem melhor se todos fossem iguais a gente, mas... toda pessoa que chega a cursar uma faculdade deveria obrigar-se a ter mais informaçãoes sobre as mais diversas áreas.Pior do que isto, é, o devocionalismo que estabelecem alguns, sobre seus ícones.Já foi muito bem dito, que toda unanimidade é burra, mas são justamente os conhecedores desta sentença, que se contradizem ao não aceitar nenhuma observação, por pequena que seja, sobre o nosso grande arquiteto, ou quaisquer outros ídolos seus.Quantos "oscares" estão perdidos por aí, simplesmente por que não encontraram um JK que resolvesse aplicar dinheiro público para materializar seus devaneios criativos? Também, pouco se falam dos engenheiros, talvez até mais geniais que o arquiteto, que com mecanismos complexos de cálculos, viabilizaram suas obras. Aliás, apesar de sua grandeza humana, faltou a Niemeyer, em suas entrevistas, sempre falar o que o que disse aqui.Não sou um arquiteto frustrado e ressentido, sou um dos maiores admiradores de nosso grande artista OSCAR NIEMEYER.
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