quinta-feira, 17 de junho de 2010

Entrevista: Mirian Goldenberg

Já é antiga a entrevista, mas eu só vi há alguns dias e gostei bastante, copiei uma parte aqui e coloquei o link para quem quiser ler a continuação.
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ÉPOCA
– No que as mulheres brasileiras diferem das alemãs de 50 anos que você pesquisou?

Mirian –
As alemãs não estão tão preocupadas com o corpo, a aparência e muito menos com a falta ou ausência dos homens em suas vidas. Elas se preocupam muito mais com a realização profissional, com o poder que conquistaram, com o respeito que sentem por sua inteligência, idéias, personalidade. As alemãs me pareceram muito mais ligadas à qualidade de vida que conquistaram. Casa, viagens, amizades, programas culturais. Não se sentem velhas, mas mais maduras, seguras, confiantes. Não parecem ter medo da solidão e a liberdade é algo extremamente valorizado, não apenas aos 50, mas desde sempre. Acham falta de dignidade uma mulher querer ser mais jovem do que é. Também não se preocupam em ser sexy. Parecem muito mais poderosas que as brasileiras. No Brasil, observei mulheres poderosas objetivamente, mas aparentando ter uma subjetividade “miserável”, sentindo-se menos “capitalizadas” por estar envelhecendo. Lá, não percebi esse descompasso. Aqui, o envelhecimento é vivido como um momento de perda de capital do corpo e da sexualidade. Lá, como um momento de colheita.

ÉPOCA – Que tipo de mulher costuma ter mais problemas com o envelhecimento?

Mirian –
As que só olham para o que estão perdendo. As que se comparam às mulheres de outras faixas etárias ou a si mesmas no passado. As que se agarram aos modelos preconcebidos do que deve ser uma velha.

ÉPOCA – Quando é que a mulher de 50 anos é mais feliz?

Mirian –
Quando tem um projeto próprio que não começa aos 50, mas muito antes. Quando percebe o envelhecimento como uma continuidade desse projeto e não como uma ruptura ou como um momento de mudanças. Quando não aceita as classificações e os estigmas sociais e faz da própria vida uma permanente invenção. Quando gosta de seu corpo com suas imperfeições e mudanças. Quando não se paralisa ou quer imitar modelos de corpo, comportamento e desejos dos mais jovens. Quando não tem preconceitos ou modelos muito rígidos de ser homem e ser mulher, ser velho e ser jovem. Quem sabe a geração dos anos 60, que reinventou a sexualidade, o corpo, as novas formas de conjugalidade e de casamento, as novas famílias, as novas formas de ser mãe e pai, vai também inventar uma nova forma de envelhecer? É uma geração que pode optar por não se aposentar de si mesma. Que não aceitará uma identidade coletiva que sempre rejeitou e contestou.

Continua: Época

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