sábado, 14 de outubro de 2006

Meu último conto - Anjos de Prata

Music and Literature by William M. Harnett


Concepção

Estou aqui de mãos vazias, Ida. Escute este desconhecido antes de mandá-lo de volta para o lugar de onde veio. Sou um homem triste e sombrio, mas não sou perigoso, observe o meu perfil e escute. Ida, você não é santa, eu te fiz assim, estou te fazendo assim. Venha à luz, por deus, pelo diabo que seja, não quero me revelar não, Ida, não tenha medo. Hoje você foi a escolhida, será esculpida a cinzel ou desenhada a crayon. Culpas tenho muitas e de nada me servem. Minto, serve-me, é assim que crio, por causa dela e com ela. É assim que te concebo, Ida. Daqui a pouco você estará pronta, paciência com o pobre Lúcio, molde-se, apareça, evolua. Vou à cozinha, tomarei um copo d´água. Ou dois, tudo dependerá da minha garganta, e quando eu voltar estarei pronto para você e espero que esteja pronta para mim. Sentarei de novo aqui nesta mesma cadeira e esperarei que meus dedos deslizem ágeis, que você me procure antes de eu procurá-la, que você se construa espontaneamente. Eu, Lúcio, estou cansado, Ida, já lhe dei um nome, a feição não importa muito. Se eu morresse agora, se eu morresse a caminho da cozinha, antes do copo d´água? Eu te amo tanto, Ida. Você nem está pronta e eu já te amo, porque preciso de você com um futuro, um passado, com suas veias e suas vias. Sou tão só, dependo tanto de você neste momento. Eu vou, então à cozinha....
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Resenha minha no Rose

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