sexta-feira, 17 de junho de 2005

Leila bucólica

Sítio

O pedreiro refaz a casinha do fundo, P. inventa-lhe um novo estilo, com madeiras atravessadas, meio germânico, será uma espécie de chalet, imagino. Minha mãe não se impressiona, nunca se impressiona com nada, deve achar que isso tudo é um desperdício de dinheiro e energia. Tudo o que não for arroz, feijão, verduras, higiene e cuidados com a saúde é desperdício ou frescura para ela. Não tem nenhum respeito pela estética, o prazer não lhe interessa, somente o sarcasmo. Sabe rir.
Por causa do seu grande sentido da realidade, não consegue nem mesmo ver um filme, nunca se esquece que ali há atores e que é tudo um esquema planejado, ridiculariza tanto o esforço do cineasta quanto dos atores.

Em tudo o meu contrário.

Para com os animais não demonstra nenhuma simpatia ou compaixão, tampouco agiria com crueldade com relação a qualquer ser vivo. É pragmática. Faz sempre o que tem que fazer, cumpre o que considera seu dever, nem mais, nem menos. Já me disseram que ela teria dado uma boa Stalinista. Ela mal sabe quem foi Stalin.

Ao longe as galinhas d’angola gritam insistentes: ‘tô fraca, tô fraca!’ e todos os animais cumprem o seu ritmo nesse cerrado fresco em junho.
Fotografei as rolinhas no ninho e o papagaio. Chegou o tio Zinho, mentiroso e meio fanho, não tenho paciência para ele hoje.
Leio As irmãs Makioka, Valéria relê Meu pé de laranja lima para contar a história a Luiza.
Luiza e meu pai jogam damas e ela se irrita quando perde. E perde sempre porque, aos sete anos, tudo o que lhe interessa é correr e fazer uma dama. E depois, fazer o quê com a dama?

Assim, tudo parece ter uma ordem hoje, mas e amanhã?

Leila Silva

Um comentário:

Laura_Diz disse...

Vc fez um retrato mto bonito e singelo da família. bj laura