quinta-feira, 16 de junho de 2005

A caixa Preta

Amós Os.
Companhia das Letras, 2 edição


Uma mulher e seu ex-marido analisam, através de cartas, a relação rompida sete anos antes.


P. 94 – ‘Toda a felicidade é basicamente uma banal invenção católica. A felicidade é (…) kitsch. Náo há nada em comum entre ela e a eudaimonia dos gregos. E no judaísmo não existe nenhum conceito de felicidade, nem sequer uma palavra correspondente na Bíblia. Excluindo, talvez, a satisfação pela aprovação, uma retribuição positiva do Céu ou do próximo. (…) o Judaísmo reconhece apenas a alegria. Como no versículo
“ Rejubile-se, jovem, com a sua juventude”.


P. 140 (Henri Bergson) ‘Não é verdade que a fé mova montanhas. Ao contrário, a essência da fé é a capacidade de náo distinguir mais nada, nem mesmo montanhas movendo-se diante de nossos olhos. Uma espécie de teia hermética, totalmente imune aos fatos.’

P 210 o tempo –
‘o tempo não passa, nós passamos dentro dele (…) Ou o tempo é que faz passar as pessoas.'


P. 217 ‘Na cidade de Upsala, no século XVI, dois monges mataram numa única noite noventa e oito órfãos, depois puseram fogo em si próprios, tudo porque uma raposa azul tinha aparecido na janela do mosteiro para anunciar que a Virgem esperava por eles.’

3 comentários:

Allan Robert P. J. disse...

Deus não faz plebiscito porque tem medo do resultado. Nem sempre sabemos escolher. Os franceses e os holandeses deram uma demonstração recente de que os outros estavam equivocados ao ratificarem a constituição européia. Depois, foi ele quem inventou o tempo, raposas azuis e monges que ainda acreditam em virgens.
Ciao

Laura_Diz disse...

Gosto mto do Oz, não coneheço este livro.
Escrevi um carta de amor estes dias lá no meu blog, tbm. cartas...
Voltarei p. ler com calma, hoje estou com máquina de lavar ligada e preciso fazer o meu post mais almoço. Ufa...

Anônimo disse...

“Há felicidade no mundo, Alec, e o sofrimento não é o seu oposto, mas a saída estreita através da qual passamos encurvados, arrastando-nos entre urtigas, à procura da clareira na floresta silenciosa banhada pelo luar de prata.
Você certamente não esqueceu a regra famosa no início de Anna Karenina quando Tolstoi envolve-se com um manto de divindade campesina tranqüila, pairando sobre o vazio de tolerância e bondade, e declara das suas alturas que todas as famílias felizes se parecem, enquanto as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira. Com todo o respeito a Tolstoi, eu digo que o contrário é correto: os infelizes na maioria estão imersos em sofrimentos convencionais, vivem numa única rotina estéril entre quatro ou cinco clichês de miséria gastos. Enquanto a felicidade é um objeto fino e raro, uma espécie de vaso chinês, e os poucos que chegaram a ele cinzelaram-no traço por traço durante anos, cada um à sua imagem, cada um segundo as suas medidas, portanto não há uma felicidade que se pareça com outra. E ao moldar sua felicidade, instilaram também seus próprios sofrimentos e humilhações. Como se refinassem ouro. Existe felicidade no mundo, Alec, mesmo que ela voe como um sonho. Mas no seu caso, ela passou longe. Como uma estrela, fora do alcance da toupeira. Não a “satisfação pela aprovação”, não louvor e avanço e conquista e poder, não submissão nem capitulação, mas o júbilo da fusão. Fundir o eu no próximo. Como uma ostra recebe um corpo estranho e é ferida por ele e o transforma em pérola, enquanto a água morna ao redor envolve tudo. Você jamais provou essa fusão, nem uma vez em sua vida. Quando o corpo é um instrumento musical nas mãos da alma. Quando o Outro e eu coabitamos e nos tornamos um único coral. E quando o gotejar do estalactite lentamente faz crescer a estalagmite até que ambos se tornam um.”

(Amós Oz, em trecho de “A Caixa Preta”, Companhia das Letras, 2001, página 116)

“Quando seus dedos tocam (...) e por um momento cessa o limite entre a ponta do dedo e a coisa tocada e aquele que toca é o tocado e também o toque.”

(Idem, página 117)

Como vês, também amo o Oz, e esses trechos de "A Caixa Preta" que anexei aqui! Visite meu circo!