sábado, 4 de dezembro de 2004

Cenas repetidas

Atlanta 8 de junho de 2004

Entre Atlanta e Nova York


Sob a ducha ainda pensei que essa era uma vida das mais estranhas, em menos de seis meses estava eu ali de novo, dizendo adeus a mais um apartamento. Branco e vazio. Adios Atlanta! A água daquele chuveiro lavava-me pela última vez, pela última vez, uma hora depois eu fecharia a porta daquele apartamento, meia hora depois eu abraçaria Aufra esperando que não fosse a última vez e depois percorreria a highway que nos levaria ao aeroporto. Pela última vez, talvez. Talvez não.
Agora, triste e confessional, contemplo ora as nuvens, ora o grafite deste lápis que desliza na folha. Uma aeromoça nervosa e apressada serve-me uma água com gás e recolhe de má vontade o pacotinho de pretzel que eu recusei. Em alguns instantes Nova York se apresentará num relance, entre um aeroporto e outro. Bye! Bye! A outra aeromoça – longa, de unhas também longas (coitada!) – serve com menos pressa. Mas essa não caiu para mim. [Aprecio o grafite no papel]
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[La Guardia airport to JFK]

O nervosismo das grandes cidades. O motorista que nos leva de um aeroporto a outro se aposentará dentro de 54 dias – é o que diz o cartaz postado no painel do ônibus– nem por isso ele está menos irritado, passou um sabão em todos os que se levantaram das poltronas antes da hora. Antes disso já tínhamos suportado o humor tenebroso do rapaz que conferia os bilhetes, irritou-se porque algumas pessoas (eu e P. inclusive) estavam entregando o seu bilhete e o dos acompanhantes ao mesmo tempo. (It confuses me! It confuses me!)Disse e repetiu num inglês muito interessante. Eu ri muito, sem disfarçar. Tanto nervosismo é hilário. É interessante como algumas pessoas levam tão a sério a vida, os bilhetes, as horas, todas as regrinhas. Tudo que é sério demais é risível.

Aeroporto JFK – Espera de mais de três horas – Compro The New Yorker, tomo café…..Singapore airlines me oferece uma orquídea.
No avião, pedaços de filme. Sono.


Um comentário:

Allan Robert P. J. disse...

Incrível como a vida, às vezes, ganha contornos esquizofrênicos, onde todos perseguem todos e todos são perseguidos pelos regulamentos, horários, destinos...
Ciao.