domingo, 30 de maio de 2010

Criador de Mafalda fala de pausa criativa e diz não ter pressa de voltar


Entrevista com Quino na Folha

FOLHA - Que faz para passar tempo?
QUINO - Escutar música, ver desenhos e tratar de encontrar algum estimulo para poder continuar. Leio jornais e revistas e vou ao cinema.

FOLHA - Gostou de algum filme recentemente?
QUINO - Sim, vi muitos. Gosto muito de [Abbas] Kiarostami e dos irmãos Kaurismäki. Alguns filmes de que gostei muito foram Tatarak (2009) e o último de [Quentin] Tarantino, "Bastardos Inglórios". Sempre gosto muito dos filmes dele. Também gosto muito de alguns italianos, como "Almoço em Agosto" (2008).

FOLHA - Vejo que é um cinéfilo. E falando das coisas que gosta: como um cidadão de Mendoza, também gosta de vinho?
QUINO - Não, um pouquinho não. Gosto muito de vinho. Apesar de um senhor que se chama Michel Roland [francês, consultor de vinícolas], que impõe um tipo de vinho que tem o mesmo gosto em todo lugar. Na última vez que fui ao Brasil, jantei com Ziraldo e pedi um vinho brasileiro. Ele me disse: "Está louco?" Bem, pedimos um e me pareceu ótimo. Com esse Michel Roland o vinho esta virando uma espécie de Coca-Cola no mundo inteiro.

FOLHA - E gosta mais de vinho do que de cerveja?
QUINO - Não, da cerveja também gosto.

FOLHA - Agora estão cheios de cervejas brasileiras por aí...
QUINO - Sim, também está se degradando em todo o mundo. O lúpulo que antes se cultivava fresco agora vem envasado em pó para fazer a cerveja.

FOLHA - Você critica muito a industrialização dos alimentos em "Que Presente Inapresentável"...
QUINO - No último, que se chama "A Aventura de Comer" [inédito no Brasil], muito mais.

FOLHA - Sente falta da comida de anos atrás?
QUINO - Oh, sim, demais. Sobretudo se você fala de tomates. Hoje eles não têm nada a ver com quando eu era jovem. Não têm perfume, sabor. Em geral, isso acontece com todas as verduras.

FOLHA - Consequência da industrialização?
QUINO - Claro, se você tem que fazer milhões de pessoas para comer, não fica tão bom. É como fazer uma janta para quatro pessoas ou para 1.200 pessoas. Quando é para muita gente sempre diminui a qualidade.

FOLHA - Mafalda não suportava sopa. E você?
QUINO - Eu gosto, sim. Isso era só uma alegoria dos governos militares, algo que ela não gostava, mas que tinha que suportar.

FOLHA - Tem alguma expectativa de quando voltará a desenhar ou publicar livros?
QUINO - Em breve vamos começar a recompilar desenhos que não estão editados em livro, que são do último período, na revista "Viva", do [jornal] "Clarín". Além de algumas páginas antigas que nunca se publicaram em livro e que ainda estão muito atuais, apesar disso.

FOLHA - Há coisas suas publicadas há muito tempo que ainda estão atuais. Isso é sinal da genialidade do Quino ou da dos nossos políticos?
QUINO - É assim, a realidade muda muito pouco, e os temas são recorrentes... A corrupção e tudo isso. Você lê Hamlet e tudo que se passava naquele castelo é o que se passa na Casa Branca ou em qualquer palácio de governo. As intrigas... os assassinatos... não muda nada.

FOLHA - Então os humoristas estão condenados a se repetir?
QUINO - Enquanto nos ocuparmos sobre como funciona a sociedade, sim, porque ela se repete. O que muda é a tecnologia. E, depois, o ser humano segue tão mal como sempre
...
Para ler a entrevista toda siga o link. Eu gostei muito, ele está bem pessimista, mas não me incomoda isso, prefiro um pessimista interessante e sincero do que um bobo da corte fazendo de conta que tudo está indo muito bem.

Nenhum comentário: