sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cecília Meireles




Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901. Foi criada pela avó, D. Jacinta Garcia. Seu pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe antes que ela completasse três anos.


Noturno


Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?

E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?


Que vale o pensamento humano,

esforçado e vencido,

na turbulência das horas?


Que valem a conversa apenas murmurada,

a erma ternura, os delicados adeuses?


Que valem as pálpebras da tímida esperança,

orvalhadas de trêmulo sal?


O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,

no profundo diagrama.


E o homem tão inutilmente pensante e pensado

só tem a tristeza para distingui-lo.


Porque havia nas úmidas paragens

animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:

grandes como pórticos, suaves como veludo,

mas sem lembranças históricas, sem compromissos de viver.


Grandes animais sem passado, sem antecedentes,

puros e límpidos,

apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos

e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas

e na seda longa das crinas desfraldadas.


Mas a noite desmanchava-se no oriente,

cheia de flores amarelas e vermelhas.

E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,

erguiam no ar a vigorosa cabeça,

e começavam a puxar as imensas rodas do dia.


Ah! o despertar dos animais no vasto campo!

Este sair do sono, este continuar da vida!

O caminho que vai das pastagens etéreas da noite

ao claro dia da humana vassalagem!




Cecília Meireles

..................................

7 comentários:

Laura_Diz disse...

Lindo poema, madame:) bom que fez o post.
um bj laura

Anônimo disse...

Que bom vê-la também envolvida com o post comunitário da Cecília.
A homanagem é justa e, andando pelos blogs e lendo os posts, vamos vendo como sua poesia era diversificada, falando de vários temas e com vários olhares.

Anônimo disse...

O que me deixa mais perplexa é o fato de a palavra "raça" ser tomada como expressão de racismo. No contexto em que foi usada não vejo onde alguém pode ver racismo.E não é por decisão do governo que os vestibulandos devem declarar a própria "raça" (conceito já totalmente desmoralizado)?

Anônimo disse...

Concordo com a Sonia. Sader leu o que queria n o que estava escrito. Em que pese o senador Banqueiro n ser gente confiável e o juiz extrapolar a sentença além de sua propria competencia, Sader foi insultuoso e radical. Mereceu. Se cada um de nós sair vomitando ameaças e vitupérios como ele fez no texto da Carta Maior esse país transforma-se em campo de guerra.Quem diz o que quer deve arcar com as consequencias.
Sou contra esse manifesto em defesa do Sader. Seria a favor sim de um manifesto contra o desvairio do Juiz que quer arbitrar dentro da Universidade.
Beijo leiloca.

Anônimo disse...

Ei passando pra dar o meu ar da graça(rsrs) e,te desejar uma ótima semana e matar as saudades..
Ops.. mas antes uma espiadinha em tudo por aqui, .
bjs

Anônimo disse...

Estou completamente de acordo com Vera do Val e Sonia sobre esse manifesto.
Sugiro ler o blog do Tambosi, comentando artigo publicado na Folha, Decifrando o enigma, de Fernando Barros e Silva: "O sociólogo carioca e seus acólitos tentam confundir a população insinuando que ele teria sido condenado apenas por manifestar uma "opinião". Como já mostrei aqui em tópicos anteriores, não se trata de opinião, mas de agressão, configurada no Código Penal e na Lei de Imprensa (calúnia, injúria e difamação). Sader chamou o senador de "racista, roubador e assassino de trabalhadores." Como racismo é crime..."
www.otambosi.blogspot.com

Allan Robert P. J. disse...

Discussões à parte, adoro Cecília Meireles. A passagem do escuro da noite vai amanhecendo meus sentimentos, não importa de que raça eles sejam. :)