Aquela cativa
Endechas a ũa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora.
Aquela cativa
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que pera meus olhos
fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
nem no céu estrelas
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
Mas bárbora não.
Presença serena
que a tormenta amansa;
nela, enfim, descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo.
E pois nela vivo,
é força que viva.
CAMÕES, Luís de. Lírica completa. Vol.1. Prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980.
...
[Recordando as minhas aulas de literatura portuguesa que, infelizmente, não foram as melhores aulas que tive na vida. Foi uma pressão horrível, com um professor histérico e que odiava dar aulas, tenho certeza. Uma pena! Ainda assim, não me impediu de gostar de poesia.]
3 comentários:
Curioso, Camões nunca me convenceu.
:*
Curiosamente, neste fim de semana, eu conversava sobre o que é ser "bom professor", houve consenso sobre o conhecimento e a didática, mesmo importantes, não serem suficientes. Despertar o interesse pelo conhecimento nos alunos deve ser o resultado mais gratificante para o professor.
Manoel Carlos
"É preciso fazer vários cursos intensivos e especializados para se entender a mineiridade. O mineiro diz, mas não diz exatamente o que quer dizer, de tal forma que somos levados a afirmar que ele disse. Se isso acontecer, terá como negar e provar que o outro entendeu mal, sem ofender. A ciência está em inferir o que o mineiro não diz, quando está dizendo, ou entender a outra coisa que ele está querendo que você saiba, ao falar de coisa diferente. Mineiro é muito difícil, muito difícil. Sobretudo, quando recorre às suas intuições sobrenaturais", em "Código da Vida", de Saulo Ramos. So far, está valendo a pena. No mínimo, uma aula de história, misturada a jornalismo e direito.
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