terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Biografia: Marguerite Yourcenar


Estou quase terminando a leitura da biografia de Marguerite Yourcenar, autora que aprecio desde que li, há muitos anos, Memórias de Adriano e depois A Obra em Negro...Espero reler os dois em breve e em francês, já que na primeira vez li em português.

Marguerite teve uma vida interessante de ler, na verdade eu gosto de biografias de escritores, mas a dela é particularmente deliciosa. Era uma mulher de extrema inteligência, nunca botou os pés numa escola, foi educada em casa, pelo pai (a mãe morreu quando ela era ainda um bebê) e às vezes, por professores contratados. Fez o BAC (exame francês), mas passou com nota 'razoável'. Ao que parece pensava em fazer Letras ou filosofia, não se sabe se os resultados dos exames a desanimaram ou se preferiu mesmo outros caminhos, as viagens, por exemplo. Foram muitas: Grécia, Itália, França, Bélgica (país onde ela nasceu), Inglaterra e muitos outros.

O pai era um bom leitor e permitia que Marguerite tivesse acesso à sua biblioteca, sem restrições, o que irritava alguns membros da família que achavam que ele devia selecionar o que a menina podia e devia ler. Assim cresceu ela muito livre, uma personalidade autoritária até. Começou a viajar cedo, com o próprio pai que a deixava nos hotéis e ia para os cassinos e assim foi acabando com boa parte da fortuna da família. Marguerite parecia não se importar muito com este detalhe.

Marguerite, embora tenha tido paixões também por homens, viveu a maior parte de sua vida com mulheres, a mais longa dessas relações foi com Grace Frick, mais de 40 anos. Viveram juntas nos Estados Unidos, Marguerite Yourcenar adquiriu a nacionalidade americana. Ela conheceu Grace em Paris, em um café aonde Marguerite ia, aparentemente, para encontrar mulheres. Grace traduziu alguns trabalhos de Marguerite para o inglês e a ajudava também na organização dos papéis, cartas, anotações.

Outro detalhe importante da biografia (que eu já sabia muito antes de ler aqui) é que M. Yourcenar foi a primeira mulher a fazer parte da Academia francesa, isso em 1980. Agora, o que eu não sabia é que, mesmo tendo sido tão tarde a entrada da primeira mulher ali, isso não se fez sem muita briga, muitos rumores, muita polêmica. E tem gente que ainda acha que as mulheres reclamam à toa, ok! É neste capítulo da entrada na academia que estou agora, cito um fato estarrecedor (pelo menos para mim), Claude Lévi-Strauss foi terminantemente contra a entrada dela na confraria alegando o seguinte “Não se mudam as regras da tribo”.

2 comentários:

Ricardo Duarte disse...

Leila,
A Yourcenar tem um estilo delicioso. Estou com mais um livro dela na pilha a ler: Contos Orientais.

Quanto ao comportamento do Lévi-Strauss, não deixa de ser sintomático que, por mais esclarecido que alguém seja, o contexto que o cerca continua influindo em sua forma de pensar.

Abraços

Gabriela Maria disse...

Muito legal. Vou aceitar a sugestão e ler algo dela dia desses.

Concordo q é estarrecedora a informação a respeito do Lévi-Strauss.

Mto bom seu blog.