sábado, 29 de dezembro de 2007

Doce é a infância.

[Publico aqui um de meus contos antigos, bem antigo mesmo. Aos que já leram peço desculpas....ou releia, se estiver aí só esperando o reveillon. Faça uma blogueira feliz. Na verdade não posso reclamar, não tenho muitos leitores, mas os que tenho são muito fiéis, muitos de vocês me visitam desde 2004. Muito, muito obrigada. Outros leitores apareceram, deixaram comentários super gentis e nenhuma referência, não posso nem agradecer. Quer dizer, agradeço aqui, aos que continuam visitando. É claro que sempre há aqueles desocupados e sem educação que passam por tudo quanto é blog para tentar aporrinhar e deixar comentário mal educado. Esses eu finjo que nem existem e logo desaparecem.


Um abração para todos vocês, um feliz 2008 e muito obrigada mesmo.]
......

Conto

Doce é a infância



Na frente da casa, do outro lado da rua, ficava a cadeia. Um dia Lídia, ainda tão pequenina, caminhava sob os mangueirais quando o seu olhar cruzou-se com o de um prisioneiro à janela, as pernas e os braços livres, enfiados na grade. Podia vê-lo muito bem, a cadeia não era cercada por muros. O encontro durou poucos segundos, ela continuou os seus passos lentos, chutou algumas folhas e, decerto, desviou o olhar. Foi então que o prisioneiro disse: ‘Não precisa ter medo.’ Ela chutou mais algumas folhas e continuou a andar olhando para o chão. Não tinha medo, raciocinou, afinal, ele estava do outro lado da grade e ela de fora. Mas quem era ele? Nessa altura, já tinha aprendido que aquela casa amarela não era uma moradia de gente ‘de bem’, muito embora não compreendesse o exato significado disso. Sabia, entretanto, que se a mãe chegasse ao portão e a visse dirigindo a palavra a um prisioneiro ela estaria frita. Não, não respondeu e se perguntou o que teria ele feito para merecer estar ali a observar as mangueiras por detrás daquelas grades enferrujadas. Abandonou o homem à contemplação, atravessou a rua e entrou em casa. Passou direto pela porta da cozinha onde a mãe estava ocupada com as panelas e foi para o fundo do quintal, subiu em alguns tijolos que já estavam estrategicamente postos ali e espreitou o vizinho mudo que passava os seus dias a limpar a casa. Limpava tanto que o chão refletia. Pelo muro ela, as irmãs e primas costumavam observar o mudo e o alpendre reluzente e riam sem saber porquê. O mudo tinha um mico preso por uma corrente e um papagaio. E o papagaio falava. Pois é.

O mudinho, diziam, ia com meninos para o meio do mato. E daí que o mudinho fosse para o mato com os meninos? Ninguém era proibido de andar no mato. Ou a ele isso era proibido só porque era mudo? Mais um dos muitos mistérios. ‘O mudinho vai para o mato com os meninos’. Até a prima viera lhe dizer isso esperando que confessasse a sua ignorância mas ela só fez arregalar bem os olhos como se a revelação a tivesse impressionado muito.

Desceu num pulo dos tijolos quando ouviu a voz nervosa da mãe e, na pressa, arranhou os dedos no muro. A mãe mandou-a comprar verduras e advertiu que não perdesse o dinheiro como tinha feito da última vez. ´Essa menina parece que vive no mundo da lua!` Ouviu a mãe dizer e apertou as notas. Quando voltava, andando devagar e distraída, pela rua seis, a principal, deixou tudo cair por terra. Na sua frente apareceu um menino que ela conhecia de vista do catecismo. Assustou-se com aquela presença, o menino era um demônio que vivia atormentando as irmãs e as meninas, juntava-se a outros e balançava violentamente a corda do sino que retinia desesperado e sem propósito. As irmãs acudiam apressadas, levantando os longos vestidos e ameaçando chamar o padre. Nada disso assustava aquele moleque que, dependurado na corda, gargalhava fazendo blém…blém…blém… e só corria quando as irmãs já estavam bem próximas.


Pois esse mesmo menino estava ali, na sua frente e, num gesto inesperado, ajudou-a a recolher os legumes. Com a cara rubra, pressentindo o pior, balbuciou, timidamente: ‘obrigada’. Ele riu alto e repetiu a última frase da piada do elefante e da formiguinha: ´Obrigado nada, pode ir descendo a calcinha`. Lídia fugiu apavorada deixando para trás umas batatinhas.

Como foi boba, por um segundo acreditou na pureza daquele gesto, por um segundo aquele menino tinha mudado aos seus olhos, não podia ser o diabo que pintavam. Pode ser… pode ser que, por um segundo, a sua intenção tenha sido a de ajudá-la, mas, no último instante, ao olhar para aquele passarinho frágil não tenha resistido à tentação de dar uma pedrada.





Bruxelas, inverno de 2003.





quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Entrevista com A. Lobo Antunes



Muito interessante esta entrevista com A. Lobo Antunes no Globo.
Esta aí um escritor completamente 'virgem' para mim. Infelizmente ainda não li nada da obra dele, devia ter lido, certamente, mas há muita coisa que eu devia ter lido e que ainda não li. C'est la vie. Nesta entrevista ele conta que é descendente de brasileiros do Pará, que é primo de Edu Lobo, fala do gosto pela literatura brasileira, que o Jorge Amado é injustiçado no Brasil e etc e tal. Vale a pena escutar.
"Quer escrever prosa? Leia poesia." A.L.A.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

BOAS FESTAS !


Feliz Natal a todos!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Os 100 livros essenciais da Bravo


Acabei não resistindo, mesmo sabendo que não se deve dar tanta importância a listas desse tipo, comprei a revista Bravo com os 100 melhores títulos de literatura. Alguns títulos, muitos, são óbvios e não poderiam falta a nenhuma lista do gênero, outros não sei julgar. Em todo caso, fiquei contente por encontrar aí o autor japonês Junichiro Tanizaki, por exemplo, embora o livro citado não seja o meu preferido. Adoro J. Conrad, não só este livro, mas tudo o que já li dele, adoro Lolita, não me lembro de ter lido outro Nabokov, mas ainda vou ler. Li muitos dos franceses aí da lista no curso de Letras (ou depois), Oscar Wilde é também um dos meus autores preferidos. Gosto mais da longa carta que ele escreveu na prisão, De Profundis, etc, etc, etc...
E você, o que achou da lista?

1. Ilíada, Homero

2. Odisséia, Homero

3. Hamlet, William Shakespeare

4. Dom Quixote, Miguel de Cervantes

5. A Divina Comédia, Dante Alighieri

6. Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust

7. Ulysses, James Joyce

8. Guerra e Paz, Leon Tolstoi

9. Crime e Castigo, Dostoiévski

10. Ensaios, Michel de Montaigne

11. Édipo Rei, Sófocles

12. Otelo, William Shakespeare

13. Madame Bovary, Gustave Flaubert

14. Fausto, Goethe

15. O Processo, Franz Kafka

16. Doutor Fausto, Thomas Mann

17. As Flores do Mal, Charles Baldelaire

18. Som e a Fúria, William Faulkner

19. A Terra Desolada, T.S. Eliot

20. Teogonia, Hesíodo

21. As Metamorfoses, Ovídio

22. O Vermelho e o Negro, Stendhal

23. O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald

24. Uma Estação No Inferno, Arthur Rimbaud

25. Os Miseráveis, Victor Hugo

26. O Estrangeiro, Albert Camus

27. Medéia, Eurípedes

28. A Eneida, Virgilio

9. Noite de Reis, William Shakespeare

30. Adeus às Armas, Ernest Hemingway

31. Coração das Trevas, Joseph Conrad

32. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley

33. Mrs. Dalloway, Virgínia Woolf

34. Moby Dick, Herman Melville

35. Histórias Extraordinárias, Edgar Allan Poe

36. A Comédia Humana, Balzac

37. Grandes Esperanças, Charles Dickens

38. O Homem sem Qualidades, Robert Musil

39. As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift

40. Finnegans Wake, James Joyce

41. Os Lusíadas, Luís de Camões

42. Os Três Mosqueteiros, Alexandre Dumas

43. Retrato de uma Senhora, Henry James

44. Decameron, Boccaccio

45. Esperando Godot, Samuel Beckett

46. 1984, George Orwell

47. Galileu Galilei, Bertold Brecht

48. Os Cantos de Maldoror, Anais Nin

49. A Tarde de um Fauno, Mallarmé

50. Lolita, Vladimir Nabokov

51. Tartufo, Molière

52. As Três Irmãs, Anton Tchekov

53. O Livro das Mil e uma Noites

54. Don Juan, Tirso de Molina

55. Mensagem, Fernando Pessoa

56. Paraíso Perdido, John Milton

57. Robinson Crusoé, Daniel Defoe

58. Os Moedeiros Falsos, André Gide

59. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis

60. Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde

61. Seis Personagens em Busca de um Autor, Luigi Pirandello

62. Alice no País das Maravilhas, Lewis Caroll

63. A Náusea, Jean-Paul Sartre

64. A Consciência de Zeno, Italo Svevo

65. A Longa Jornada Adentro, Eugene O'Neill

66. A Condição Humana, André Malraux

67. Os Cantos, Ezra Pound

68. Canções da Inocência/ Canções do Exílio, William Blake

69. Um Bonde Chamado Desejo, Teneessee Williams

70. Ficções, Jorge Luis Borges

71. O Rinoceronte, Eugène Ionesco

72. A Morte de Virgilio, Herman Broch

73. As Folhas da Relva, Walt Whitman

74. Deserto dos Tártaros, Dino Buzzati

75. Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez

76. Viagem ao Fim da Noite, Louis-Ferdinand Céline

77. A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queirós

78. Jogo da Amarelinha, Julio Cortazar

79. As Vinhas da Ira, John Steinbeck

80. Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar

81. O Apanhador no Campo de Centeio, J.D. Salinger

82. Huckleberry Finn, Mark Twain

83. Contos de Hans Christian Andersen

84. O Leopardo, Tomaso di Lampedusa

85. Vida e Opiniões do Cavaleiro Tristram Shandy, Laurence Sterne

86. Passagem para a Índia, E.M. Forster

87. Orgulho e Preconceito, Jane Austen

88. Trópico de Câncer, Henry Miller

89. Pais e Filhos, Ivan Turgueniev

90. O Náufrago, Thomas Bernhard

91. A Epopéia de Gilgamesh

92. O Mahabharata

93. As Cidades Invisíveis, Italo Calvino

94. On the Road, Jack Kerouac

95. O Lobo da Estepe, Hermann Hesse

96. Complexo de Portnoy, Philip Roth

97. Reparação, Ian MacEwan

98. Desonra, J.M. Coetzee

99. As Irmãs Makioka, Junichiro Tanizaki

100 Pedro Páramo, Juan Rulfo

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Exército americano e suicídio


[Eu já tinha lido sobre os suicídios dos soldados americanos, o número é tão elevado que, em princípio acreditei que fosse um exagero. Parece qu enão é. Esse texto abaixo eu retirei do Briteiros.]

No exército americano também há suicidas

George W. Bush costuma dizer que só os terroristas se suicidam; que os terroristas suicidas “não são como os nossos; não dão valor à vida como nós damos”. Santa ironia, santa ignorância. Uma investigação da CBS News revela que, em 2005, se suicidaram 6.256 efectivos que haviam participado nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Uma média de 120 por semana, sete em cada dia. E isso num só ano: quase o dobro dos que caíram em mais de quatro anos de conflito. A investigação da CBS News durou cinco meses. Reuniu informações de várias fontes oficiais, consultou especialistas e comparou as taxas de suicídios dos ex-combatentes com as do resto da população. Padeciam do chamado stress pós-traumático, uma generalidade que pode englobar muitas coisas: horrores do combate, crimes cometidos ou vistos cometer, desilusões da “liberdade e democracia” que era suposto levarem a esses países, angústias, pesadelos, remorsos, ... Um outro estudo, publicado pela Reuters revela que mais de 25 por cento dos efectivos em actividade e 50 por cento dos reservistas, que regressaram a casa, apresentam sintomas de perturbações mentais. Penny Coleman, viúva de um veterano do Vietname, escreveu um artigo difundido nesta 2ª Feira pelo Independent Media Institute — um organismo que apoia o jornalismo independente — “Há algo de superioridade, tão arrogante, na maneira como falamos nos atacantes suicidas e nas culturas que os produzem. E assoma um sentimento inquietante: Em 2005, 6.256 veteranos americanos puseram fim à vida. Nesse mesmo ano, houve cerca de 130 mortes documentadas de atacantes suicidas no Iraque. Façam as contas. A proporção é de 50 para 1. Quem são então os mais eficazes na criação de uma cultura do suicídio e do martírio? Se George Bush tem razão quando diz que é o desespero, o desleixo e a pobreza, que impele essa gente a cometer tais actos, não são os americanos quem mais se pode gabar de um melhor desempenho nessa matéria?”. E neste caso, não são fiéis do Islão nem árabes, que W. tanto despreza, mas sim — à excepção dos psicopatas que sempre existem — pessoas que se alistaram por pobreza ou à procura de oportunidades de carreira... e não porque queriam matar civis.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

In the mood for love


Um dia desses vi esse filme que eu 'estava para ver' há muito, mas muito tempo mesmo. Desde a época que o filme saiu uma amiga me indica...é bonito, adorei. Uma história de amor e amantes, toda enrolada, cheia de não-ditos e tentativas. Silêncios e olhares. E muitas cores bonitas também.
...
E meu blog tão abandonado. Não é só o blog, é da internet de um modo geral que estou afastada por causa de trabalho, preguiça. Preguiça de internet? Não sei, preguiça de tudo que às vezes me bate e que um dia tentarei explicar melhor. Explicar para quem? Para mim, inclusive.
....
Mas tenho visto muitos filmes que queria ver e tenho lido, menos do que gostaria, mas tenho lido e tenho sido 'social'. Mais 'social' do que eu gostaria. O que isso de 'ser social'? É ter que fazer o que em inglês se chama de 'small talk'.
Mas está tudo sob controle. E agora vi que tem mas demais aqui...que pena!