quinta-feira, 27 de abril de 2006

La bière


Descobri que a grande questão não é aquela do ovo e da galinha, mas a do pão e da cerveja. Qual dos dois teria nascido primeiro? Muitos apontam para a cerveja...6.000 anos antes de Cristo ela já existe no Iraque (Mesopotâmia na época). E a gente pensando que lá só tinha petróleo hein? Mas há indícios de que a cerveja tenha sido criada muito antes disso. Um inglês, Ian Hornsey, escreveu um livro de 700 páginas só sobre a cerveja, A History of Beer and Brewing. É assunto que não acaba mais, só descobri que era tão longo agora, pesquisando para o post. O caso é que não tomo cerveja e não sei muito a respeito, mas quando coloquei no post anterior que ia falar disso recebi apoio maciço dos meus seis leitores.

Sendo o assunto tão extenso, muito mais do que eu podia imaginar, vou ter que me concentrar só na cerveja belga, quem quiser mais pode ler o livro do inglês ou o edição 208 da revista Super Interessante, 22 de dezembro de 2004. É uma reportagem bem feita e muito engraçada, tem uma notinha que chama ‘Ressaca faraônica’ onde explicam que os antigos egípcios festejava a deusa Tefnuf bebendo até cair, chegar em casa caminhando com as próprias pernas era uma grosseria, sinal de que o convidado não tinha se divertido o bastante. Bons tempos, não?

(Bom, para falar de cerveja belga eu vou chamar meu consultor ‘belga’ para assuntos etílicos, profissão, inclusive, muito comum na Bélgica).

Este país de pouco mais de 10 milhões de habitantes tem quase 500 tipos de cerveja divididas em várias categorias: As Trapistas, As cervejas de abadias, as ‘gueuzes’, etc...As melhores cervejas são aquelas feitas pelos monges. As Trapistas, por exemplo, são produzidas em monastérios, só existem seis no mundo, cinco delas estão na Bélgica e a outra na Holanda. As trapistas belgas são:
Orval, Rochefort, Chimay, Westmalle, Westvleteren. Muitos dos meus amigos amantes de cerveja, mesmo os brasileiros, adoram esta Chimay e a Orval.

As três cervejas mais populares, mais vendidas e mais baratas são: Stella Artois, Jupiler e Maes. Nesta ordem. As cervejas belgas estão muito presentes no Brasil, em 2004 andaram fazendo negócios por aqui. A Interbrew juntou-se à Ambev e tornou-se Inbev, sendo hoje o maior grupo do mundo no ramo. Então, pelo menos a Stella Artois muita gente já conhece.

É normal que na Bélgica tenha muitos museus dedicados à cerveja, em Bruxelas eu só conheço um que fica na Grand Place,
La Maison des Brasseurs já fui lá com os meus amigos e com meu irmão. Deve ser o mais turistíco de todos eles, ainda assim meu irmão adorou e, como eu não bebo ele tomou a cerveja (que a gente recebe durante a visita) dele e a minha. Achou fortíssima. Gostou. Já visitei também algumas abadias onde os monges produzem cerveja. Mais informações em inglês, francês ou neerlandês neste site: beer paradise.

Algumas cervejas têm nomes bastante estranhos: Mort Subite, delirium Tremens. Sei lá, tomar uma cerveja de nome Morte Súbi
ta?

Os cervejeiros que forem à Europa devem tirar um tempinho para os museus e abadias dedicadas à cerveja. Uma das minhas amigas que foi lá em 1997 é famosa ainda hoje, queria experimentar todas as 500....não deu tempo, mas muitos dos belgas que a conheceram ainda perguntam por ela.

Aqui na foto uma das abadias.

Leila

La bière belge


terça-feira, 25 de abril de 2006

La Belgique



Esse blog, há muito, não faz jus ao nome, entretanto, tem gente que chega aqui por causa deste Bélgica estampado aí no título. Deve ser uma frustração para estes. Há alguns meses me escreveu um rapaz do Sul dizendo que ele e a noiva iam passar a lua de mel na Bélgica. Ele, em parte por causa da cerveja. Fizeram assim, abriram uma conta e pediram aos amigos que, como presente de casamento, depositassem dinheiro para a viagem deles. Excelente idéia, não? Eu também ia preferir isso ainda que depois tivesse que dormir um ano num colchão no chão. Na minha família acontece o contrário, outro dia foi casamento de uma prima (esperando que ninguém da minha família leia este blog) e gastaram mais ou menos 40.000 reais com o casamento....eu só pensando em quantas viagens era possível fazer com isso. Eu sei quanto foi porque a mãe da noiva adora falar em valores. Para muita gente isso não é exorbitante para uma festa de casamento, para mim é porque tenho outras prioridades. Acho pouco criativo, meus primos não são ricos.

Enfim, prefiro o método deste casal do Sul que me escreveu. Nós ficamos em contato durante alguns meses, enquanto ele organizava a viagem. Convenci-o de que a Bélgica era meio pequenininha, que deviam ir à Holanda, França....Assim fizeram. Talvez ainda estejam viajando. Há poucos dias se encontraram com minha irmã em Bruxelas, ficaram hospedados na casa dela. Veja como é o mundo virtual, eu mesma nunca os vi. Minha irmã gostou dos dois. Eu espero que façam uma boa viagem, que seja mesmo inesquecível, o entusiasmo dele era muito.
Então eu decidi fazer alguns posts dedicados à Bélgica: cerveja, chocolate, cineastas, músicos, pintores, cidades e o que mais me vier à cabeça ou à cabeça dos meus seis leitores. Aceito pedidos. Estou pensando em começar pela cerveja. Vamos ver.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

TITEUF II



Titeuf

Outro dia fiz um post rápido sobre Titeuf, a
Marília me escreveu perguntando um pouco mais sobre ele.

Bem, o humor do Titeuf não tem nada a ver com o da Mafalda, por exemplo (eu adoro Mafalda também). A única relação entre os dois é o universo infantil, mas não há em ZEP aquela conotação política do Quino. Pelo menos não diretamente. Titeuf é realmente uma criança agitada e das mais encapetadas, com dúvidas de criança, ingenuidades de criança, enganos de criança, crueldade de criança. Ele é apaixoando pela Nádia, uma menina da mesma escola que o esnoba o tempo todo. É um humor bem escrachado mesmo, muitas das histórias se passam na escola, algumas das mais hilárias são as referentes às aulas de educação sexual. Antes da primeira aula as crianças conversam, imaginam como será a aula, alguns dizem que a professora vai chamar um menino e uma menina na frente da classe e etc e tal. Quando a professora aparece (com cara de professora!), põe na frente deles um desenho que mais parece um mapa a decepção é total, uma frustração pois em nada difere de uma aula de geografia. Enfim, há muito sexo em Titeuf, situações sempre repletas de gafe. O desenho em si é muito expressivo e engraçado, às vezes basta ver a cara do Titeuf.

ZEP criou também um livro chamado Le Guide du zizi sexuel que é uma espécie de cartilha do sexo direcionada às crianças e pré-adolescentes (9 a 13 anos). Zizi significa pipiu ou algo assim. Um sucesso, como todos os outros albuns de Zep que têm tiragem de um milhão de exemplares.

Eu escrevi no outro post que Titeuf ainda não foi traduzido para o português, mas acho que me enganei, ao que parece é publicado em Portugal.
Leila

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Aprendendo com o Brasil








Artigos sobre o Brasil no Mother Jones: Learning from Brazil -
Brazil helps show the way, but only if we learn the right lessons.


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Curitiba e esperança.

E outro sobre Curitiba: Curitiba and Hope
Os cariocas não vão gostar, mas os curitibanos vão adorar. Se a cidade for mesmo esse paraíso, estou fazendo minhas malas. Já estive em Curitiba mais de uma vez, adorei, mas sempre en passant. Viver no lugar é outra coisa.


Leila

segunda-feira, 17 de abril de 2006

A Janela

A janela do seu quarto, grande e elegante, dava para a única praça da cidade. Minúsculo consolo. Meninas desinteressantes, risinhos falsamente tímidos. Do outro lado os meninos e rapazes de braços bem torneados pelo trabalho manual, no meio das brincadeiras sempre arranjavam um jeito de se tocarem, até mesmo quando falavam das meninas. Ele também tinha lembranças boas desses anos agora tão longínquos. As meninas nunca lhe interessaram senão como confidentes. Hoje seu mundo era uma janela e espera. Quem mandou voltar para essa cidade, o pai bem que teria preferido vê-lo longe dali.

Às vezes ia para a sacada observar melhor, um dia escutou: Olha lá a bichinha! Cidade besta e triste. No meio dos garotos viu Jorge, com a sua camiseta e calça apertadas lhe lembrava um daqueles marinheiros de gravura. Não falava muito, mas as meninas gostavam dele. No final da noite estava sempre aos beijos com uma delas, algumas deixavam as mãos passearem um pouco, outras fingiam mais recato. Da janela ele tudo via e esperava.

Jorge era o último a deixar a praça e era na sua porta que vinha bater. Nem precisava, estava sempre aberta àquela hora.
....
Painting by Lucien Freud
Interior in Paddington

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Fealdade de Fabiano Gorila

De
Marcelo Gaú ou Marcelo
Quintanilha
Livro de HQ um pouco diferente do que estamos acostumados a ler, em parte feito a partir de fotos históricas, uma suponho que seja foto do album de família.
Quer dizer, eu sou do tipo que vai lendo HQs sem entender muito do assunto, vai caindo na minha mão e eu vou lendo, normalmente são passadas pelo meu irmão.

Este livro tem prefácio de Aldir Blanc.
Eu gostei muito, tanto das histórias, são três, quanto do desenho e das falas dos personagens.
A primeira das três histórias é baseada na vida do próprio pai do autor.
Marcelo Gaú nasceu em Niterói em 1971, ao que parece, hoje vive na Espanha.
Mais sobre ele no link acima.

sábado, 8 de abril de 2006

Allah n´est pas obligé


Li, há alguns anos este livro de Ahmadou Kourouma que nasceu na Costa do Marfim e viveu parte da vida na França. Na época em que o li este livro me encantou tanto pela forma de narrar - o ponto de vista de uma criança-soldado - quanto pela história em si. O personagem principal é Birahima, um garoto negro de dez ou doze anos. Ele não sabe. No começo o garoto está na Costa do Marfim com a mãe e a avó, a mãe está muito doente, morre e ele é obrigado a ir para a casa de uma tia na Libéria, ali torna-se criança soldado ou small-soldiers (pequenos soldados) como também são chamados.
Enfim, não vou contar a história toda aqui, este livro foi traduzido para o português com o título Alá e as crianças soldado, publicado pela Estação Liberdade.
O que me fez lembrar deste livro foi um post que li no Briteiros, O FIM DE UM TIRANO, do dia 03/04/2006 sobre a prisão de Charles Taylor :
"o homem que criou, nesses dois países (Serra Leoa e Libéria), exércitos de crianças — rapazes e raparigas — raptadas, escravizadas, violadas, mutiladas, forçadas a drogar-se e a usar a kalachnikov para atacar as suas próprias aldeias e matar os seus próprios pais de modo a tornar impossível qualquer deserção ou regresso. "

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Releitura de Conto de Pu Songling



[Obs:História baseada no conto ‘La Fresque’ retirado do livro “Chroniques de l’étrange” de Pu Songling (1640 – 1715), autor chinês que já foi traduzido para todas as línguas latinas exceto o português.]


O quadro

Virgílio, originário de uma cidade do interior, encontrava-se na capital em companhia de seu amigo Pietro. Um dia caminhavam os dois sem destino certo por ruas e travessas quando avistaram um pequeno museu. O lugar estaria completamente deserto não fosse a presença de um velho empregado que cochilava no momento em que eles entraram. Mal os viu, o homem compôs respeitosamente as roupas e, cumprimentando os dois visitantes, ofereceu-se para lhes mostrar o que considerava seu pequeno refúgio. A sala principal abrigava máscaras e estátuas de personalidades ligadas à literatura, as paredes laterais eram cobertas por quadros pintados com tal delicadeza que se podia tomar por verdadeiras as figuras humanas ali representadas. Em um destes quadros via-se Ariadne sorridente, a palma da mão levantada, rodeada de outras mulheres de beleza quase comparável à dela. Sua figura, porém, se destacava e comoveu o coração de Virgílio. O olhar de Ariadne parecia um convite. Tanto concentrou-se na contemplação do quadro que perdeu o controle de si, seus pensamentos tornaram-se tão abstratos que entrou numa espécie de transe, sentiu o corpo tomar uma nova consistência, como se flutuasse num estranho nevoeiro - Subitamente estava dentro do quadro.Assustado, Virgílio compreendeu que se encontrava em outro mundo, ainda atordoado sentiu que o puxavam furtivamente pela manga, virou-se: Ali estava Ariadne a lhe sorrir. Ela afastou-se repentinamente e ele a seguiu de perto pelas galerias sinuosas até a porta de um quarto, uma vez ali, ele hesitou, não ousava entrar. A moça voltou-se e acenou de forma tão convidativa que Virgílio não pode resistir. Percebendo que não havia ninguém no quarto tomou-a imediatamente nos braços sem que ela oferecesse resistência. Horas mais tarde, satisfeita , ela se levantou, fechou as cortinas e, depois de avisar que ele não deveria emitir sequer um ruído, saiu prometendo que voltaria quando a noite caísse. E assim foi, voltou nessa noite, na noite seguinte e outras até que numa dessas vezes ouviu-se lá fora, no meio de vozes exaltadas, passos fortes juntamente com um tilintar de correntes. Ariadne levantou-se apavorada e espreitou pela janela: era um dos guardas do palácio. À sua volta se encontravam todas as outras moças. “Onde está Ariadne?", perguntou o homem. "Estava indisposta, está descansando", respondeu uma em nome de todas tentando acobertar a moça que elas tanto amavam e a quem tanto apreciavam escutar. "Se alguma de vós estiver escondendo algo importante será pior para todas. Não criem problemas dos quais ninguém vos poderá defender". O oficial, com o seu olhar de águia, parecia prestes a dar busca no esconderijo. Ariadne só teve tempo de dizer: "Rápido, esconde-te debaixo da cama". Quanto a ela, abriu uma porta secreta na parede e desapareceu num segundo. Virgílio mal se atrevia a respirar. Lá fora, o barulho das vozes ia esmorecendo. Apesar do medo e do desconforto não tinha outro remédio senão esperar, muito quieto, pelo regresso da jovem pois, tão toldado se encontrava seu espírito, que já não sabia de onde tinha vindo...

Ao aperceber-se do súbito desaparecimento de seu amigo, Pietro, perplexo, perguntou ao velho o que se passara. "Foi ouvir as histórias de Ariadne", respondeu com um sorriso irônico nos lábios. "Onde?" "Não foi longe", atalhou o outro dirigindo-se ao quadro. Chegando-se à pintura bateu com um dedo e perguntou: "Por que demoras tanto?" Imediatamente surgiu no quadro a imagem de Virgílio, a face descomposta pelas emoções, a cabeça ligeiramente inclinada como se estivesse a ouvir alguma coisa. "Há muito tempo teu companheiro te espera”, prosseguiu o homem. Nesse momento ele caíu do quadro e ficou prostrado no chão, os olhos esbugalhados e as pernas a tremer. Assustadíssimo, Pietro perguntou-lhe o que acontecera. O amigo não sabia o que responder; na verdade, estava debaixo da cama quando ouvira um enorme fragor, como se mil homens tocassem a um só tempo um tambor gigantesco. Apavorado, saíra a correr da câmara.

Os dois amigos voltaram-se para o quadro; a jovem continuava ali diante das outras, mas sua mão, agora, segurava o véu sobre o rosto. Surpreso, Virgílio voltou-se para o velho e perguntou-lhe a razão daquela mudança. "A ilusão nasce do espírito humano. Que outra explicação poderia lhes oferecer esse humilde servidor?"

Virgílio sentiu-se extremamente abatido, Pietro estava confuso. Ambos se levantaram e desceram as escadas que conduziam à saída.
Leila
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Imagem:
Ariadne
John Williams

domingo, 2 de abril de 2006

TITEUF

Titeuf é este garotinho aí da capa, personagem criado por ZEP, um suíço que nasceu em 1967, é conhecidíssimo na Europa e já presidiu o famoso festival de HQ de Angoulême, na França. O nome verdadeiro de ZEP é Philippe Chappuis. Titeuf existe também como desenho animado, mas não conheço muito. Quando quero dar boas risadas pego algumas dessas revistas. Tomara que seja logo traduzido para o português, trabalho que eu adoraria fazer, aliás.