terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Mini Conto


Glenda

Contempla, da janela, a baía e pensa novamente em Glenda. Glenda em alguma parte do mundo, buscando não se sabia bem o quê, acrescentando máscaras às suas máscaras. Queria tanto a Glenda.

O seu mundo de escritor era aquela biblioteca, uma janela de onde podia ver o vôo das gaivotas e os barcos. Um mundo infinito. Sim. Um daqueles barcos traria Glenda de volta, aquele mesmo que a levara. Quem sabe? E quando ela passasse pela porta ele estaria mais inteiro que antes, tudo seria recomeço.

Depois que terminasse o café e aquela gaivota preguiçosa alçasse novo vôo, ia sentar-se à escrivaninha e escrever mais um carta a Glenda. Só não sabia para onde enviá-la.
Leila Silva
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Foto Pulau Langkawi -
Malásia 2001

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Dois mini-contos

[Retirados do blog rapidinhas que comporta contos de no máximo 120 palavras. O primeiro é do Rubens da Cunha e o segundo do Marcelo d'Ávila. Excelentes.]
Morte Súbita

"Basta!" Gritou e morreu no meio da calçada. Foi recolhido ao IML.
Até agora, seis dias depois, não reclamaram o corpo. Tudo indica que será enterrado como
indigente, diz o funcionário asséptico. Dentro da boca do defunto, uma mosca pede socorro.

Rubens
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Olhos de gato

Preciso tirar esse peso das pálpebras, essa areia dos olhos: um gole e mais outro comprimido. A estrada some na luz dos faróis, uma cobra negra rebolando à minha frente. Maldita areia nos olhos. Mais um gole. Preciso tirar a bigorna das pálpebras. A cabeça oscila como uma vara de pesca. Um gole. Preciso. Um gato gigante de olhos de fogo em minha direção. Preciso comprar cebolas para os peixes. Um comprimido. Os olhos do gato estão piscando. A cabeça cai. Preciso. (seis pessoas da mesma família mortas em acidente na 101, envolvendo um Astra de Caxias e uma carreta com placas de Palhoça. A Polícia Rodoviária acredita que o motorista da carreta tenha dormido ao volante).

Marcelo d'Ávila

Andando pelo sítio, eu vi...

Simpáticas rolinhas no ninho. As coitadinhas se assustaram um pouco comigo e minha sobrinha, mas logo as deixamos em paz. Só o tempo de um clic.

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Mais fotos no meu fotolog

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Maus


Art Spiegelman

Primeira HQ a receber o prêmio Pulitzer

Cia das Letras

Mais uma história sobre o holocausto, Auschwitz e todo aquele horror que a humanidade ainda não conseguiu explicar? Mais uma vez o holocausto só que agora explicado em quadrinhos? Não. Mesmo que já tenhamos lido tudo sobre os campos da morte, que sejamos doutores em Primo Levi vamos nos surpreender com este Maus de Spiegelman cujo pai é um dos sobreviventes. A história é contada através deste pai que o autor vai seguindo ora com uma cadernetinha ora com um gravador. Ninguém é poupado, nem mesmo o pai, Vladek. Tudo soa sincero e pessoal, sem raiva, algum desespero por parte do autor, uma busca de entendimento (talvez), a culpa que quase todos os filhos de sobreviventes carregam.

Aqui os nazistas são gatos, os judeus ratos, os poloneses (não judeus) porcos, os franceses sapos e os americanos cães. No começo da leitura isso parece estranho, depois a gente se acostuma a vê-los assim.

Soube pelo blog do Allan que Art Spiegelman ficou profundamente irritado com Roberto Benigni por relacionar o seu filme A Vida é Bela a Maus. Se ele dizia que Maus o tinha inspirado, não tinha entendido nada do livro, sentenciou.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Conto - Anjos de Prata

Florinda

Florinda, só mais esta vez, tenha piedade, minha flor. Eu prometo, juro que paro de beber, por tudo que é mais sagrado, pela minha mãe. Flô, fala comigo, larga essa porra dessa mala. Não posso viver sem você, bar é coisa do passado. Fala comigo, Florzinha, tenha piedade, não fique aí calada. Faz um café amargo pra mim que eu melhoro e a gente conversa tranqüilo, vai meu bem. Flôoooo, vem aqui!

……

Alô, mãe, a Florinda, aquela egoísta foi embora...bebendo, eu? Mais sóbrio impossível, mãe, só saí com os amigos, ela não pode entender uma coisa dessas? Umas duas ou três cervejas, só isso. Mãe, liga pra ela, por favor, a gente precisa pelo menos conversar, ela ficou surda e muda de repente. Liga pra ela, ela vai te ouvir, com você é diferente. Não vai telefonar por quê? Que é isso hoje, complô contra mim? Inferno! Desculpa, mãe, não queria falar palavrão. Eu que tenho que ligar? Eu sei disso, mas se eu tô falando pra senhora que ela não me ouve, eu falei…falei e ela pegou a malinha, nem respondeu. Bateu a porta e foi embora. Bem feito pra mim?

……

Alô, pai? Não, não muito bem, a Florinda foi embora, nem quis conversa….hein, ligar mais tarde? Ah, tá ocupado? Tá bem, então você liga, vou ficar esperando.

…..

Alô, Jorge, tudo mal, cara, tô precisando conversar, não quer me encontrar lá no bar? Ah, está com visitas? Mais tarde, então? Como? Quem? A Flô, mas o que é que ela tá fazendo aí? É melhor explicar muito bem mesmo….Alô! Alô!


Leila Silva

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Ficçoes

Conto meu na revista portuguesa FicÇões .

Abraços

domingo, 5 de fevereiro de 2006

O Demônio do Meio-Dia - Uma Anatomia da Depressão


[Trechos ]

"A depressão é a imperfeição no amor. (...). Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afeição. É a solidão dentro de nós que se torna manifesta e destrói não apenas a conexão com outros, mas também a capacidade de estar apaziguadamente apenas consigo mesmo. Embora não seja nenhum profilático contra a depressão, o amor é o que alcochoa a mente e a protege de si mesma. Medicamentos e psicoterapia podem renovar essa proteção, tornando mais fácil amar e ser amado e é por isso que funcionam."

"tal depressão toma posse do corpo nas pálpebras e músculos que mantém a coluna ereta. Fere o coração e o pulmão, tornando a contração dos músculos involuntários mais dura do que precisa ser".

"a grande depressão é a matéria dos colapsos nervosos. Se imaginarmos uma alma de ferro que se desgasta de dor e enferruja com a depressão suave, então a depressão grave é o assustador colapso de toda uma estrutura".

"ouça as pessoas que amam você. Acredite que vale a pena viver por elas, mesmo que voce não acredite nisso. Busque as lembranças que a depressão afasta e as projete no futuro. Seja corajoso, seja forte, tome suas pílulas. Exercite-se que isso lhe fará bem, mesmo que cada passo pese uma tonelada. Coma, mesmo quando sente repugnância pela comida. Seja razoável consigo mesmo quando você tiver perdido a razão. Esse tipo de conselhos são lugares-comuns e soam bobos, mas o caminho mais certo para sair da depressão é não gostar dela e não se acostumar com ela."

"O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade, e minha vida, enquanto escrevo isto, é vital, mesmo quando triste (...) A cada dia, às vezes combativamente e às vezes contra a razão do momento, eu escolho ficar vivo."


O Demônio do Meio-Dia - Uma Anatomia da Depressão,
de Andrew Salomon. Editora Objetiva.

O Sonho americano


Por Pieter Vanderveld
Traduzido por Leila Silva



Billy foi despertado de seu sono agitado pela voz de Willie Nelson, era o rádio-relógio sintonizado na estação de música country programado para as 5:00 da manhã. Mary Ann rolou para o lado e Billy viu de relance as suas coxas grossas e flácidas, sentou-se na beirada da cama king size e suspirou. A história, na verdade, nunca mudava, ela era sua quarta esposa, ele já deveria saber. Elas te encontram, te cobrem de amor, trepam quatro vezes ao dia e te arrastam, exausto, até o pastor. E Você, claro, sempre diz ‘Sim’. Quem quer deixar de viver no pecado? Dois anos depois já estão tão redondas quanto um barril, gastando o fim de semana no shopping e te empaturrando de porcarias.

Arrastou-se até a ducha, tentou livrar-se do sono e da ressaca da tequila. Na noite anterior tinha saído com os rapazes para festejar a venda do velho Delta. Conseguira, finalmente, passar aquela sucata para um grupo de mexicanos por mil e duzentos doláres. Nada mal para um Delta 88 que tinha ficado empatando lugar na sua garagem por longos oito meses.

Vestiu rapidamente uma camisa de flanela, um jeans e calçou suas botas Tony Lama. Dirigiu-se à garagem onde guardava o cofre com suas armas, abriu-o e pegou uma AK-47 feita na China, escolheu seu revólver favorito, um Glock austríaco e colocou-o no cinto. Era um americano de verdade, mas não se importava com a proveniência de suas armas posto que pudesse usá-las para proteger os seus. Era um patriota pragmático.

Pressionou o botão para abrir a porta da garagem e andou até sua camionete vermelha, abriu a porta, colocou o rifle no porta-armas atrás do banco, ligou a chave da ignição, fechou a garagem com o controle remoto e tomou a estrada. Parou no Dunkin Donut do bairro e pediu, do carro, dois cafés com leite e quatro donuts recheados de creme. Dirigiu-se a Maple Ridge Street, parou na frente da casa número 4406 e viu Roger espiando pela janela. Ele fechou a cortina e saiu carregando uma potente carabina Mauser que colocou em cima da arma de Billy. Cumprimentaram-se com um aperto de mãos e Roger pegou a bebida ainda quente e o pacote de donuts que Billy lhe estendia. Dirigiram-se em silêncio ao ponto de encontro enquanto mastigavam o manteigoso bolo frito. John e os outros rapazes esperavam no kilômetro 42 da rodovia estadual 187, a 15 minutos do sul de Phenix. Billy saiu da autopista e parou o veículo atrás da camionete Ford de Steve.

John veio ao encontro deles, alto, robusto, cumprimentou os companheiros com um largo sorriso e um abraço apertado. Foram juntos cumprimentar o resto do grupo, dois outros carros chegaram e estacionaram atrás de Billy. Depois de alguns minutos de conversa a respeito do tempo no deserto do Arizona, retornaram a seus respectivos veículos, foram em fila para a estrada com John na frente e Billy por último como tinha sido combinado.

Rodaram durante mais ou menos quarenta e cinco minutos e, então, viraram à esquerda, numa estrada empoeirada e sem nenhuma indicação, continuaram por esse caminho até uma morro, ali estacionaram os carros e pegaram suas armas. John inspecionou-as todas, ele tinha sido oficial do exército durante a guerra contra o Iraque em 1991, nunca participara de combates, mas dizia saber como eram feitos.

O grupo era composto de doze homens de meia idade que tinham se encontrado nos cafés da manhã de domingo organizados e patrocinados pela igreja Batista. O propósito dos encontros, à parte a leitura da Bíblia e testemunho da fé, era a troca de informações sobre seus pequenos negócios. John era agente de seguros, Billy tinha herdado do seu pai o lote de carros usados na Spring Road, Roger atuava no ramo imobiliário e Bud era contador. Em tudo os representantes da classe média branca americana, eram todos republicanos e apoiavam o presidente e as tropas. Estavam, porém, frustrados com o que parecia falta de interesse dos governantes com o controle das fronteiras do país. No Arizona podia-se perceber que a entrada de imigrantes ilegais não era levada a sério, havia ainda muitos pontos fronteiriços fáceis de serem perfurados.

Tinham se reunido em setembro e decidiram formar um grupo de voluntários para patrulhar, uma vez por mês, a fronteira do estado do Arizona. John era o líder natural deste grupo de homens brancos e cristãos, orgulhosos de suas descendências dos patriotas que botaram os ingleses para correr em 1776.

Depois de inspecionar o material, John decidiu que se postariam a cada 250 metros sobre o planalto que dava para o rio da fronteira com o México. Billy que tinha trocado de arma com Roger, segurava agora a Mauser equipada com uma poderosa mira telescópica. O sol começava a despontar e Billy já estava suado, sentindo-se desconfortável depois de estar postado ali por quarenta minutos. Foi então que avistou uma horda avançando dificilmente no terreno pedregoso, observou-os e contou, sete pessoas, duas mulheres, uma de mais ou menos vinte e cinco anos, outra mais velha, mais de quarenta, provavelmente. Havia ainda três crianças, um garoto e duas garotas de menos de dez anos, atrás um homem mais velho. Um rapaz magro, de chapéu cowboy e camisa western liderava o grupo. Billy escolheu-o mirou seu peito, logo abaixo do seu ombro esquerdo...

E puxou o gatilho.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Circuito Guimarães Rosa















Descobri esse circuito numa documentação da Secretaria de Estado de Minas Gerais, diz o folheto que este é o primeiro circuito turístico baseado em literatura. Verdade ou não, deu vontade de fazer esse caminho e vou fazer assim que conhecer um pouco melhor a obra de Guimarães Rosa. Quem sabe até lá as estradas não terão melhorado?
E ainda dá para aproveitar o circuito e conhecer
a Gruta do Maquiné