Três mini-contos, o meu e o da
Mhel são variações sobre o mesmo tema, Casa, o terceiro é surrupiado do blog do
Carlos Bruni.
Casa de PanoMhel Bordei paredes com linha grossa para o calor guardado.Entrelacei cordas vermelhas formando o telhado que barraria a chuva indiferente.Enfeitei janelas com sutache dourado onde boiava um som amarelo. Apliquei flores de seda e preenchi de beleza o espaço branco. Delimitei móveis em linhas claras, cortei fios, comandei tesouras, perdi agulhas finas.Fechei a porta com teia delicada de crochê.Então me agasalhei na casa escura e menti para todos que era bom.
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SignosLeila Silva
Esta é a casa, aquela porta ali me viu nascer, lembro-me (e todo mundo duvida) de, ao sair do ventre da minha mãe, contemplar nela um raio de sol. Raios de sol e portas ainda não significavam para mim, mas eu sei o que vi e guardei tudo até descobrir os nomes das coisas. Essa casa guardou tantos segredos, tanto quanto todas as outras, suponho.
Hoje, o último membro desta família se despede, minha mãe, e ninguém mais viverá aqui, ninguém mais vigiará o que fomos. Os quadros já tortos na parede, a cristaleira empoeirada e cheia de objetos inúteis...não, ninguém. Eu mesma passarei a chave na porta e nunca mais voltarei. Logo agora que domino tantos nomes.
Fim de noiteCarlos BruniEle jogou o robe sobre uma cadeira, deixou os chinelos em posição de recebê-lo pela manhã e enfiou-se sob as cobertas.
Ela, recostada no travesseiro lia uma revista. A luz tímida do abajur focava caras de famosos e ilhas inatingíveis. Com um suspiro jogou as páginas abertas sobre o tapete ao lado, olhou para o marido que começava a ressonar e apagou a luz.