segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Croniqueta do cerrado

Lágrimas do infinito

ou

a chuva vista por um sentimental


Chove e tudo em volta parece poesia, o verde que se estende além é tranquilo, as vacas de olhar filosófico nada estranham, o cachorrinho vira lata esconde-se da chuva, treme com os trovões, aproxima-se a pedir carinho com a doçura própria dos caninos. Tão sujo, enlameado, mas como recusar? As mãos, lava-se depois.

Lamento o lap-top que esqueci na cidade. Pego um livro, Bashevis Singer, uma manta e deixo a chuva cuidar da natureza que me rodeia.
Leila Silva
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“Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama de Baudelaire.”
Antônio Maria

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Arriscando um Haicai

Tem dias que o poço é fundo
e ainda assim
não acaba o mundo

Leila

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[e Bashô, não por ousadia publico-o junto com o meu, mas para que você não fique com a sensação de ter clicado nesses cadernos em vão.]


Acabou-se o óleo na lamparina
Mas…eis a lua
que entra pela janela

Bashô

domingo, 21 de agosto de 2005

Anjos de Prata

O site dos Anjos de Prata está atualizado.Visite! Divulgue! Aproveite!

Veja as novidades no boletim: http://www.anjosdeprata.com.br

Beto

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Recebendo uma européia no Brasil:

O que é aquilo ali?
Aquilo o quê?
Aquilo ali ó.
Ah, aquilo é uma bananeira.
BANANEIRA?!
????
Ué, eu nunca tinha visto uma antes.


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Que pássaro é aquele?
Aquilo é urubu.
URUBU?
?!?!
(.....)
E aquele lá?
Aquele não sei, só conheço urubu e tucano.

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E mais:
O que é? Quanto é? Quando foi? Como é?Quantos graus?

É preciso ser geógrafa, historiadora, filóloga, musicista, botânico, negociante....
mas está ótimo, tudo vale a pena se a alma não é pequena.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Três mini-contos

Três mini-contos, o meu e o da Mhel são variações sobre o mesmo tema, Casa, o terceiro é surrupiado do blog do Carlos Bruni.

Casa de Pano

Mhel

Bordei paredes com linha grossa para o calor guardado.Entrelacei cordas vermelhas formando o telhado que barraria a chuva indiferente.Enfeitei janelas com sutache dourado onde boiava um som amarelo. Apliquei flores de seda e preenchi de beleza o espaço branco. Delimitei móveis em linhas claras, cortei fios, comandei tesouras, perdi agulhas finas.Fechei a porta com teia delicada de crochê.Então me agasalhei na casa escura e menti para todos que era bom.

.......

Signos

Leila Silva

Esta é a casa, aquela porta ali me viu nascer, lembro-me (e todo mundo duvida) de, ao sair do ventre da minha mãe, contemplar nela um raio de sol. Raios de sol e portas ainda não significavam para mim, mas eu sei o que vi e guardei tudo até descobrir os nomes das coisas. Essa casa guardou tantos segredos, tanto quanto todas as outras, suponho.
Hoje, o último membro desta família se despede, minha mãe, e ninguém mais viverá aqui, ninguém mais vigiará o que fomos. Os quadros já tortos na parede, a cristaleira empoeirada e cheia de objetos inúteis...não, ninguém. Eu mesma passarei a chave na porta e nunca mais voltarei. Logo agora que domino tantos nomes.


Fim de noite


Carlos Bruni

Ele jogou o robe sobre uma cadeira, deixou os chinelos em posição de recebê-lo pela manhã e enfiou-se sob as cobertas.
Ela, recostada no travesseiro lia uma revista. A luz tímida do abajur focava caras de famosos e ilhas inatingíveis. Com um suspiro jogou as páginas abertas sobre o tapete ao lado, olhou para o marido que começava a ressonar e apagou a luz.