[Esse é um diário meio esquisito, de uma viagem meio esquisita de três pessoas esquisitas ou em um momento meio esquisito.]
15/07/2004
[Bélgica]
Humores alterados. P. terribilis. Malas rápidas. M. sem
trousse de toilette, só escova de dentes. Vai sobrar pra mim!
Única voz no carro,
Otis Taylor, Truth is not fiction. Não? O caminho será longo, entretanto, mas a citröen é
très confortable e os discos são muitos. O grafite (esse que que desliza na folha) pode acabar e o apontador ficou esquecido em cima do escritório.
Um exercício bom de se fazer em viagem é pensar numa cidade e deixar que algo relacionado a ela venha naturalmente.Poderia propor o joguinho a M. e P., quem sabe o clima não melhora? Ou piora? Por exemplo:
Praga=Kafka,
Barcelona=Gaudí,
Viena=Freud,
Dublin=James Joyce e assim vai.
Algumas cidades se prestam mal ao exercício pois são tantas as coisas que vêm ao espírito que não fica nada em específico: Londres, Paris…
Budapeste é engraçado, a primeira coisa que me veio à cabeça foi Chico Buarque e depois Paulo Rónai. A ordem deveria ter sido alterada mas não é um exercício que deva depender da razão. A atualidade falou mais alto.
15 horas [Bélgica ainda]
Coníferas e nuvens. P. de bode ainda. Mesmo disco.
15:30 – Alemanha
M. reclamou que o disco já rodou muito tempo. Agora com vocês Marisa Monte, primeiro disco.
[I heard it trough the grapevine….]
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Now, CCR (Credence Clearwater revival).
Now The Kingston Trio.
P. soltou uma frase, disse que a França está logo ali, atrás da
Forêt Noire, l’Alsace.
18:40 Como criança que está aprendendo a ler, leio todas as palavras em alemão que vejo nos caminhões, placas….e P. tem que dizer se a pronúncia está certa. Deve ser chato pra ele.
Passamos por uma Trabant e P. se entusiasma. Nostalgia do Oriente.
19:30 Baviera – Parte católica da Alemanha.
A questão de ordem é: que campo de concentração visitar?
Parada para um sanduíche frio e sem graça. O meu é constituído de queijo, presunto, 1 rodela de pepino e uma folhinha de alface.
Rosenheim – a cidade da alemã do filme
Bagdá Café. Aqui vamos dormir num hotelzinho simples e limpinho.
Dia 16
9:30 terminando o café da manhã: pãezinhos quentes, queijo, presunto, suco (?), café com leite.
Aqui, as torres das igrejas cristãs me fazem pensar em minaretes.
10:30Áustria – Salzburgo. Visita relâmpago. Havaianas nas vitrines a 20 euros, 25 com bandeirinha brasileira, 30 com plataforma.
Visita a igreja de estilo barrôco.
14:10 Caça ao almoço, tarde demais para os padrões austríacos. Somos servidos de má vontade.Pizza (Pizzera Rimini). Procurando pelos toilettes, quase fui dar nos quartos dos proprietários. Estamos em Linz, cidade onde Hitler nasceu.
Enquanto como, lembro-me que
Hund é cachorro em alemão, é o nome do cachorro mecânico em Farenheit 451.
15:00 passando pelo Danúbio que, Segundo M. está mais para verde do que para azul.
M. escolheu visitar o Campo de concentração e extermínio de
Mauthausen. (Memorial). Não tenho vontade de comentar, nada pode dar a dimensão de um erro tão grande, nem mesmo a visita a este campo agora limpo e preparado para os curiosos ou os que querem preservar a memória ou os que tentam entender. Eu também tento entender, também penso que a memória deve ser preservada para que os erros do passado sejam evitados. E são? Os americanos se gabam de que ajudaram os europeus a vencer o nazismo, por exemplo. Sei lá…tudo é triste.
Outra coisa terrível: acreditei que eu não fosse capaz de entrar numa camera de gaz. E fui.
Perto de Viena, uma lavoura de girassóis.
[Luiz Gonzaga nos diverte]
Cansados, nos concentramos num filme francês na TV5. (bosta de filme!)
17/07 VIENA
10:00 café da manhã. Eu e M. não entendemos nada do cardápio, deixamos que P. escolha. Feito crianças.
Eu e M. visitamos o Museu Leopold: Anton Kolig, Herbert Boeck, Hans Böhler, Robert Kohl, Jean Egger, Egon……
Visitamos o centro da cidade. Meus pés doem muito e páro para ver esses espetáculos bobos na rua: gente pulando, se fazendo de estátua… aqui, como não poderia deixar de ser, temos muitos Motzarts. Um casal aproveita a lua de mel para apresentar show de equilíbrio e dança….
Noite: Jantamos num restaurante italiano. Cedo para ir dormir mas temos que tentar pois amanhã tomamos o trem antes das seis da manhã para Budapeste. Faz calor e eu me esqueci das sandálias. Devia ter comprado uma daquelas havaianas.
Domingo em Budapeste
18/07 Levantamo-nos às 5:30 e tomamos o trem para a Hungria. Tivemos que deixar o carro em Viena e tomar o trem porque o seguro não inclui a Hungria.
No caminho, campos e campos de girassóis, milharais…Ao meu lado um cara redondinho, todo vestido de preto, dorme e ronca.
Já fomos controlados 4 vezes: 2 vezes o passaporte e duas vezes o bilhete.
8:40 Paramos em
Györ, muitos passageiros sobem, temos duas novas companheiras, uma garotinha e a mãe. Vou prestar atenção na língua.
O Danúbio agora é Duna e o euro não é usado por aqui.
15:30 Visitamos, almoçamos, agora descansamos deitados na grama em frente ao Hotel Four Seasons, um prédio magnífico. E rimos. Muito calor. Lindas americanas em flor, deitadas ao lado, também riem.
Depois do descanso visitaremos Peste. Músicos tocam sob o sol terrivelmente quente, P. deitado na grama, dança o pé. Um rapaz, do outro lado da rua dança animado e bate palmas, aproveita o ritmo e bate na bunda de uma moça do grupo que leva um susto. Os meus, agora dormem. A música lembra os filmes de
Kusturica, sobretudo
Black cat White cat.
Peste. Festival de Cinema Húngaro, em frente ao parlamento, dois telões. Eu e M. assistimos a uma parte do filme em preto e branco e em Húngaro. Ninguém ri.
A noite voltamos para Viena, pegamos o carro e vamos procurar um hotel na Estrada. Só encontramos um às três da manhã, ainda na Austria.
12:20 Atravessamos Munique (Münch)
Almoço em
Ulm (15:18)salada. Visita a igreja/mosteiro. Crianças italianas contrariam a ordem e pegam as moedas de um mendigo que, ajoelhado, estendia o seu chapéu. Não resta outra alternativa ao pobre homem senão rir daqueles capetinhas….os pais aparecem irritados e envergonhados. Isso não nos impede de rir.
Caminho: vaquinhas brancas, rolos de feno, reatores nucleares.
Home sweet home.