quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Meu conto da Anjos de Prata

Um animal morto no meio do meu caminho

O animal jazia ali. Fedido, coitado, umas moscas a sobrevoá-lo. Morto e desenterrado, atravessado no meu caminho. Olho para ele enojada, com pena do seu fim, uma pena que se estende a todos os fins, ao meu também. Um pobre animal de patas estiradas, teso, daqui a pouco será só ossos. Ossos podem durar uma eternidade. E o que é ‘uma eternidade’? Um animal, um sustantivo se decompondo, transformando-se até não ser mais, até outra coisa. Ossos. A metamorfose não levará mais que algumas semanas. Terá morrido de velhice ou de picada de cobra? De fome não foi, ninguém morre de fome aqui. Minha irmã me alcança. Ai, que nojo! Tampa o nariz e vira o rosto. Ordena com voz fanhosa, vamos por aquele caminho.

Eu vou e o animal fica às moscas.

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